Diário da Região
CONJUNTURA

Estamos envelhecendo rápido e mal

O envelhecimento da população está ocorrendo no mundo todo e trará problemas para o desenvolvimento econômico; o mundo começa a viver uma nova realidade

por Hipólito Martins Filho
Publicado há 4 horasAtualizado há 1 hora
Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
Galeria
Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
Ouvir matéria

A expectativa de vida quase dobrou em um século, mas o país envelhece mal. É preciso melhorar as políticas públicas existentes e criar outras para atender às novas demandas dos idosos, ou teremos um caos a ser enfrentado mais à frente.

No início do século 20, a média de expectativa de vida era de 42 anos. Hoje, se vive quase o dobro do que se vivia, 76,6 anos, segundo o IBGE. Para os homens, 73,9 anos; para as mulheres, 79,9 anos. O homem vive menos, pois está exposto à violência e a brigas.

O desenvolvimento econômico foi o primeiro motivo para o aumento da população. Éramos um país muito pobre, assolado por endemias rurais, com altas taxas de mortalidade infantil, recém-saído da escravidão.

Segundo o Dr. Dráuzio Varella, a criação do SUS e os avanços da medicina foram decisivos: vacinas, antibióticos, pasteurização do leite, saneamento básico (ainda precário) e o soro caseiro. A introdução do soro caseiro foi considerada pela Organização Mundial da Saúde e pela revista médica The Lancet o procedimento que mais salvou vidas no mundo no decorrer do século 20.

No Brasil, tivemos a Pastoral da Criança, conduzida pela doutora Zilda Arns e por Dom Geraldo Agnello, que teve papel decisivo na implantação do programa de popularização do soro caseiro, com grande impacto na redução da mortalidade infantil.

Na década de 1940, a mortalidade infantil era de quase 150 em cada 1.000 habitantes. No ano passado, esse índice caiu para 12,3. Mesmo assim, estamos longe dos 2,4 da Suécia e dos 4,1 da França.

Segundo o IBGE, nos últimos anos, deixamos de ser um país de crianças, adolescentes e adultos jovens. Hoje, a faixa etária que mais cresce é a que passou dos 60 anos; somos mais de 32 milhões.

O problema é que estamos envelhecendo mal. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, de 60% a 65% das mulheres e dos homens chegam aos 60 anos com hipertensão arterial. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia, há pelo menos 16 milhões de pessoas com diabetes, a maioria das quais nessa faixa etária.

Essas duas condições são as principais causas de infarto do miocárdio, AVCs e outras enfermidades cardiovasculares, insuficiência renal crônica, amputações de membros, entre outros males.

As políticas públicas precisam ser melhoradas, readaptadas e ampliadas, não só para manter a qualidade de vida dos idosos, mas também para não inviabilizar o sistema público de saúde, elevando às alturas os custos da saúde pública. Isto também vale para a saúde suplementar.

Nenhum país está preparado para amparar essa multidão de pessoas com déficits cognitivos, debilitadas, incapazes de executar as tarefas mais simples. Nem o Japão, cuja expectativa de vida é de 85 anos.

Com uma expectativa de vida maior, surgem tantos desafios quanto oportunidades. Veremos alguns.

Desafios: saúde e bem-estar, segurança financeira, apoio social, cuidados de saúde, reforma do sistema de previdência. Esta reforma é uma questão matemática, pois temos cada vez mais idosos e cada vez menos recursos.

Mas temos oportunidades também: contribuição para a sociedade, desenvolvimento pessoal, relacionamentos e família, empreendedorismo e inovação, mudanças sociais e culturais.

De acordo com o IBGE, o índice de fertilidade atual é de 1,6 , e a taxa de reposição precisaria ser de 2,1. A população brasileira atingirá seu pico em 2041 e, em seguida, começará a diminuir.

Outro dado importante: a proporção de idosos (com 60 anos ou mais) deve aumentar de 15,6% em 2023 para 37,8% em 2060.

O envelhecimento da população está ocorrendo no mundo todo e trará problemas para o desenvolvimento econômico (falta de mão de obra). O mundo começa a viver uma nova realidade.