Diário da Região
Conjuntura

Estagnação do PIB

O que preocupa bastante e está maternalmente ligado ao PIB, e vem se repetindo trimestre a trimestre, é a baixa taxa de poupança da economia, que afeta a taxa de investimento

por Hipólito Martins Filho
Publicado há 8 horasAtualizado há 4 horas
Hipólito Martins Filho (Hipólito Martins Filho)
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A economia brasileira ficou estagnada no terceiro trimestre, o que contribuiu foram os juros altos e o esgotamento das políticas de estímulo do consumo. Ou o governo gasta menos, ou a instabilidade se instalará.

O Produto Interno Bruto (PIB), a medida de tudo aquilo que produzimos num determinado período, cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo. Este baixo crescimento deverá ser confirmado nos próximos resultados, caso o governo não redirecione a sua política econômica.

Os números são claros e mostram o arrefecimento da economia. No terceiro trimestre, o consumo das famílias, que representa 60% do PIB, teve um crescimento pouco significativo, de somente 0,1% (pelo lado da demanda), o mesmo percentual de crescimento dos serviços. Fica claro que o consumo está em queda.

Os dois itens acima são os motores da economia, do crescimento do PIB brasileiro, que mostram perda de fôlego. Mesmo com o emprego em alta, as famílias estão endividadas.

A indústria teve uma pequena reação e cresceu 0,8%, puxada pela indústria extrativa (principalmente os setores de óleo, gás e minério de ferro). Já a indústria de transformação (que está ligada à manufatura e depende mais de crédito) cresceu pouco, 0,3%.

As exportações tiveram um desempenho importante, cresceram 3,3%, mesmo com o tarifaço de Donald Trump. As nossas empresas encontraram outros destinos para colocar os seus produtos, é um dado muito positivo, devido às circunstâncias.

O que preocupa bastante e está maternalmente ligado ao PIB, e vem se repetindo trimestre a trimestre, é a baixa taxa de poupança da economia, que afeta a taxa de investimentos. No terceiro trimestre deste ano, a poupança permaneceu em 14,5% do PIB, o mesmo número de 2024, enquanto a taxa de investimento caiu de 17,4% para 17,3%. Sem o aumento da taxa de poupança e da taxa de investimentos, o país não crescerá.

E investimentos só ocorrem quando há regras claras, ambiente econômico e institucional seguros, programas de governo de médio e longo prazo, sustentáveis. Palanque não fortalece o PIB, só gera incertezas.

Entre 2004 e 2008, a taxa de poupança passava de 20%, o que fez a taxa de investimento chegar a 21%. Estudos evidenciam que a taxa de investimento precisaria ser de pelo menos 23% a 24% do PIB para voltarmos a crescer significativamente.

Toda vez que tivermos superávit [correção de grafia] primário, ou seja, poupar mais do que gastar, os investimentos serão alavancados, criando infraestrutura e produção. Sem um equilíbrio na política fiscal, não há crescimento contínuo e sustentável; teremos somente os voos de galinha, típicos de governos populistas.

A taxa Selic (taxa de juros) está em 15% ao ano; a expectativa é que comece a cair nas reuniões de janeiro ou de março do próximo ano. São os gastos sob controle que permitirão a queda da inflação, dos juros e, consequentemente, os aumentos das taxas de poupança e investimento.

Os números do governo Lula não mostram que este é o caminho que tomará. Enquanto isto não acontece e houver aumento do endividamento, o país continuará crescendo de forma anêmica.

O crescimento previsto para a economia brasileira neste ano é de 2,5%; para o próximo ano, 1,7%, muito pouco para um país com tantas potencialidades e com tantos problemas estruturais.