Estado e Mercado

Vivemos momentos interessantes, marcados por grandes rupturas e contradições, onde os agentes econômicos e produtivos se organizam para competir num ambiente centrado na competição e na concorrência, onde os mais capacitados sobrevivem, ganham musculatura, em detrimento daqueles que não conseguem aumentar sua capacidade produtiva e sua eficiência, ficando para trás literalmente, reestruturando suas estratégias de mercado, investindo mais em tecnologias e passando a criar novos instrumentos de sobrevivência.
Dentre as grandes transformações na sociedade global, destacamos as modificações no ambiente ideológico, uns grupos defendendo cabalmente a concorrência como instrumento de consolidação dos atores econômicos, por estas teorias as intervenções estatais eram vistas como desnecessárias, aumentariam os custos de oportunidades e gerariam novos constrangimentos na estrutura econômica, deixando de lado a criação de riquezas materiais e protegeriam os setores mais ineficientes da estrutura produtiva.
Os defensores dos méritos dos mercados desregulados defendiam a competição constante, a concorrência continuada traria grandes vantagens para os sistemas econômico e produtivo, os grandes defensores destas ideias eram os países ocidentais, notadamente a Inglaterra e os Estados Unidos, que espalharam para todos os poros da economia mundial as vantagens da competição constante, espalhando as ideias para as melhores universidades estrangeiras, criando e inaugurando institutos de pesquisas renomados e investindo milhões de dólares na formação de várias gerações de economistas, jornalistas, gestores, sociólogos e cientistas políticos para defenderem seus ideários, seus valores e seus interesses.
Do outro lado, encontramos defensores de ideias progressistas que defendiam a intervenção do Estado Nacional, acreditando que a atuação estatal seria fundamental para evitar as falhas do mercado, defendendo uma maior fiscalização dos excessos dos capitalistas e criando espaços para reduzir as desigualdades sociais criadas pelos mercados, garantindo oportunidades para todos os setores da comunidade, privilegiando os mais precarizados da sociedade, afinal, percebemos que vivemos numa das nações mais desiguais da comunidade internacional.
Estas teorias defendiam políticas públicas progressistas, defendendo protecionismo para os setores produtivos e investimentos governamentais para melhorar a convivência entre capital e trabalho, trazendo uma nova pauta para as discussões sociais e políticas, tais como mais investimentos em educação e em capital humano, maiores investimentos em escolas, ensino técnico e universidades e mais políticas públicas visando os interesses coletivos, além de defenderem maior tributação para os grupos mais privilegiados da sociedade, diminuição das isenções fiscais e tributárias, pautas rechaçadas pelos detentores do capital, que sempre pregaram e defenderam suas isenções fiscais que sempre garantiram seus interesses imediatos.
Neste momento, percebemos uma mudança substancial nas discussões na sociedade global, nações ocidentais ricas e desenvolvidas, além de industrializadas, passaram a defender mais protecionismos econômico e comercial, menor concorrência no ambiente produtivo internacional e, em contrapartida, nações anteriormente vistas como pobres e miseráveis, passaram a defender e estimular maior competição no comércio internacional. Países que rechaçavam a atuação dos governos nacionais e defendiam a concorrência global agora, clamam para a intervenção dos seus governos, pressionando seus governantes para defenderem seus interesses econômicos e produtivos, aceitando e estimulando a atuação militar e o uso da força bélica, como estamos vivenciando no ambiente global contemporâneo.
O mundo passa por grandes transformações estruturais, as ideologias estão em constantes movimentações, anteriormente as propostas eram ideológicas e coerentes, atualmente os interesses são puramente econômicos, neste cenário os escrúpulos inexistem, tudo se transformou em verdadeiros negócios, apenas...
Ary Ramos da Silva Júnior
Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário.