Em nome de Deus
O deus mercado é tão tinhoso que enfeitiça parte de seus “colaboradores” voluntários

Nunca o uso da fé popular, das religiões e de Deus foi tão recorrente em narrativas políticas e esferas institucionais como nos dias de hoje. Obviamente, isso contamina o conceito constitucional de Estado laico e garantidor das liberdades individuais.
Há décadas existem lutas e pautas urgentes de mulheres, negras e negros, LGBTs, artistas e educadores pela regulamentação e atualização de leis que garantam direitos fundamentais a todos os brasileiros e brasileiras.
No oposto dos avanços civilizatórios, estão os políticos de extrema-direita, levantando suas bandeiras em nome de Deus, Pátria e Família. Por trás dessa palavra de ordem, repousa uma gigantesca hipocrisia e promiscuidade.
É comum, e historicamente registrado nos acervos policial e judicial, o perfil de muitos políticos e militantes de extrema-direita: estupradores, pedófilos, traficantes, sonegadores de impostos, homicidas, feminicidas, corruptos, misóginos, homofóbicos e racistas.
Quem não reconhece a existência desse fenômeno psicopolítico-social, concentrado no extremismo da direita brasileira e mundial, ignora os fatos ou realmente tem a certeza de que o redondo planeta Terra é um imenso pasto plano que nos leva ao reino de Deus.
É uma turba conduzida por ódios irracionais. É o fascismo se instrumentalizando de um povo adoecido pela ignorância e fragilizado pelo medo da miséria e da violência, cirurgicamente produzida pelo deus mercado. Tudo o que o diabólico mercado faz é em nome de Deus.
Na política local, não é diferente. Enquanto se tenta impor a obrigatoriedade de orações religiosas em nossas escolas municipais, as redes de educação, saúde e proteção social são desmanteladas, e os recursos públicos, direcionados para esquemas criminosos disfarçados de ONGs e empresas terceirizadas de serviços. Obviamente, essa constatação não se estende à maioria das sérias instituições sociais de nossa cidade.
Na impossibilidade de sobreviver à luz da Constituição Federal, em seu sentido mais amplo e humanitário, o obscurantismo remonta à Idade Média nas redes sociais e inventa novas regras a partir do moralismo bíblico, arrebanhando um exército de aloprados que se comunicam com extraterrestres, rezam para pneus e montam acampamentos em frente a quartéis, pedindo ditadura em nome da liberdade e de Deus.
O desprezo pelas regras democráticas e o descolamento da realidade levaram à cadeia aqueles que seguiram, de forma irresponsável e louca, o comando perverso e covarde de Bolsonaro e de generais golpistas minoritários.
O deus mercado é tão tinhoso que enfeitiça parte de seus “colaboradores” voluntários e os utiliza como munição descartável.
Afinal, não há nenhum industrial, banqueiro, mega pecuarista ou grande construtor preso. A sacana campanha pela anistia não passa de uma retórica desesperada para que a turba não perceba que marcha, mugindo devaneios, rumo ao corredor do abatedouro.
João Paulo Rillo
Vereador (PSOL)