Diário da Região
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Educar para a Igualdade

Se tivéssemos aprendido sobre as contribuições africanas, talvez o racismo já não encontrasse solo tão fértil

por Rosangela Ribeiro
Publicado há 1 hora
Rosangela Ribeiro (Divulgação)
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Rosangela Ribeiro (Divulgação)
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O colo é o primeiro território ao qual pertencemos e nele aprendemos o sentido e a necessidade do cuidado, do olhar, do toque. Mas seria possível dizer que todos os colos acolhem do mesmo modo?

Segundo Jussara Santos, em seu livro “A democratização do colo”, oferecer colo também é um gesto político: é reconhecer cada bebê em sua beleza, especificidades e ancestralidade.

Quando educamos desde o berço para enxergar a magnitude de cada pertencimento, estamos semeando um mundo mais equitativo. Se, em nossa infância, tivéssemos aprendido sobre as contribuições africanas que estruturaram o Brasil — sobre os reinos, os inventos, os saberes e as artes de nossos ancestrais — talvez o racismo já não encontrasse solo tão fértil.

A África é berço da humanidade, da ciência e da poesia. Apesar de ser necessário falar sobre o sofrimento vivido, nossas histórias não começam nas senzalas, mas nas comunidades que ensinavam a dançar o tempo, nas mãos que criaram instrumentos, nas mentes que imaginaram o número e a palavra. É urgente revelar às crianças que ser negro é também herdar sabedoria, criação e potência.

A escola, como extensão desse colo, precisa nutrir referências que afirmem identidades. A literatura é uma grande aliada nessa travessia. Quando uma criança se vê nas páginas de um livro, algo em seu interior se reorganiza: o espelho reconhece o reflexo, o mundo ganha sentido.

Conceição Evaristo nos ensina que nossas escrevivências são maneiras de existir e resistir. Cida Bento nos recorda da urgência de romper o pacto narcísico da branquitude. Nilma Lino Gomes nos convoca a recontar a história a partir de muitas vozes — sobretudo as que foram silenciadas.

Não somos todos iguais, e é justamente nas diferenças que residem nossas riquezas. Reconhecer as individualidades, respeitar cada traço, cada tom de pele, cada maneira de ser e existir é o que nos aproxima da verdadeira equidade.

Trabalhar as relações étnico-raciais desde o fazer com os bebês, é abrir caminho para um futuro em que nenhuma criança se sinta menos digna de reconhecimento e de afeto - aquele que nos afeta e nos faz sentir pertencentes. Porque educar para a equidade é, antes de tudo, ensinar o valor do respeito à diversidade.

Rosangela Ribeiro

Mulher preta, mãe, prof.ª formadora ERER da Secretaria Municipal de Educação de São José do Rio Preto – SP, idealizadora do projeto Afrocantos, Membro do Conselho Municipal Afro.