Dia Mundial sem Tabaco
Os desafios para o controle do tabagismo no Brasil são enormes

Desde 1987, no dia 31/5, a OMS comemora o Dia Mundial sem Tabaco, alertando para a “epidemia do tabagismo”, uma das avassaladoras causas de dependência química e o maior causador de mortes evitáveis do planeta: 8 milhões de fumantes anualmente em todo o mundo. (No Brasil, um dos responsáveis por essa “hecatombe”, são 200 mil mortes.)
A campanha de 2025, “Desmascarando a indústria do tabaco”, tem como um dos objetivos revelar a tática tabagista destinada a tornar seus produtos mais atrativos, como se não fossem um importante fator de risco para diversas doenças. Segundo Drauzio Varella (Folha, 4/6/2025), a tática vem da 1ª Guerra Mundial: “As indústrias do tabaco cometem o maior crime da história do capitalismo mundial (fora a escravidão), ao usar os meios de comunicação de massa para associar ao cigarro a imagem de um hábito charmoso, adotado pelas mulheres mais lindas do cinema e por homens como o cowboy do Marlboro - que, aliás, morreu de câncer de pulmão”. (Um agravante: 80% dos brasileiros acima dos 14 anos, que fazem uso dos dispositivos eletrônicos para fumar (vapes), não diminuíram o consumo do cigarro comum e só 9% o abandonaram. Folha de S. Paulo, editorial de 18/6/2025.)
Os desafios para o controle do tabagismo no Brasil são enormes. Alan Roger S-Silva, Ph.D., Estomatologista e Patologista Oral & Maxilofacial (FOP/Unicamp, Fellow da American Academy of Oral Medicine), cita um exemplo emblemático desse desafio: “O Brasil é o único país a ostentar o tabaco num de seus símbolos oficiais, o Brasão de Armas da República Federativa Brasileira. Ao redor do Brasão aparece uma auréola formada por um ramo de café frutificado e outro de fumo florido, sobre um resplendor de ouro. A permanência do tabaco como símbolo nacional destaca a complexidade e a resistência enfrentadas pelo nosso país na luta contra a cultura do tabagismo e seus malefícios”.
Encerro lembrando os “Anos de Ouro de Hollywood”, décadas de 1940/1950. O cinema era forte veículo de propaganda, com o fim de transformar (subliminarmente) o cigarro em objeto de desejo, transferindo aos fumantes o glamour que os astros, generosamente recompensados, exibiam nas películas. Da lista interminável dos garotos-propaganda beneficiários da indústria do tabaco, os cinéfilos vão lembrar de Humphrey Bogart, Ingrid Bergman e John Wayne, entre outros ícones do cinema, em cujos filmes o cigarro rouba-lhes o protagonismo, feito um personagem coadjuvante!
A história, bancada pelas indústrias tabagistas, veio à tona quando sua estreita relação de interesses com estúdios de produção cinematográfica foi escancarada, com base em documentos judicialmente obtidos. Lamentavelmente, nem por isso teve fim, lembra Drauzio Varella na sua corajosa abordagem...
Eurípides A. Silva
Mestre e doutor em Matemática pela USP, aposentado pelo Ibilce, campus da Unesp em S. J. do Rio Preto