Diário da Região
ARTIGO

Democracia e representação

O fato é que, hoje, se nota um profundo desencantamento pela atividade política

por João Francisco Neto
Publicado em 26/07/2025 às 13:32Atualizado há 9 horas
João Francisco Neto (João Francisco Neto)
João Francisco Neto (João Francisco Neto)
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Criada na antiga Grécia, a democracia logo passou a enfrentar um grande dilema: se o povo não podia exercê-la diretamente, como fazer então? A solução veio pelo conhecido método da representação política, por meio do qual o povo seria representado por algumas pessoas escolhidas para tanto. De l[a para cá, de certa forma, esse é o método que perdura até nossos dias, com a escolha de vereadores, deputados e senadores, que representam politicamente o povo.

A questão central é que nem sempre o representante escolhido age de acordo com a vontade e os interesses do povo que ele deveria representar. E isso por várias razões: uma, porque o representante não sabe exatamente qual é a vontade do povo (ou da maioria, pelo menos); e outra, porque, embora sabendo, prefere agir segundo os seus próprios interesses, o que é mais comum.

O fundamento filosófico do mecanismo da representação política é o seguinte: se o povo não pode, ele próprio, exercer diretamente a democracia, que seja então representado pelos cidadãos mais capazes, mais honestos, mais bem preparados. Os mais virtuosos, enfim. Essas pessoas existem, e não são poucas, diga-se, a bem da verdade. O problema é que normalmente elas não se apresentam para o jogo político (eleições), e, quando se apresentam, não são identificadas, ou seja, não são eleitas.

Como se fora uma rara conjunção de astros, que ocorre poucas vezes na História, um grupo de políticos virtuosos reuniu-se na cidade de Filadélfia, logo após a independência norte-americana, para redigir a Constituição dos Estados Unidos. Isso foi em 1787, e aqueles 55 representantes políticos das antigas 13 (treze) colônias americanas, até hoje, são detentores de imenso prestígio, reconhecimento e consideração. Diz-se, de forma exagerada, que aqueles cidadãos tinham 10 metros de estatura moral. Também, lá, nos EUA, isso nunca mais ocorreu.

O fato é que, hoje, se nota um profundo desencantamento pela atividade política, e não há evidências de que esse quadro possa ser logo revertido. Ao contrário, o desinteresse aumenta, e não é só no Brasil.

Esse desinteresse pela política provoca o afastamento dos mais jovens, e, assim, as lideranças dos partidos não se renovam, de forma que, para as eleições, apresentam-se sempre as mesmas pessoas. Não há renovação dos quadros: novas eleições, e sempre os mesmos velhos e conhecidos nomes. Eis aí mais um dilema: como atrair os jovens para a atividade política, para permitir que haja um sopro de renovação, e que, enfim, possamos ser todos participantes?

João Francisco Neto

Advogado, doutor em Direito Econômico e Financeiro (USP); Monte Aprazível-SP