Diário da Região
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Da ponte sonhada aos trilhos do futuro

Aprendi, ali, a maior lição: não desistir muda destinos. E a ponte segue ensinando

por Edinho Araújo
Publicado há 15 horas
Edinho Araújo (Divulgação)
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Edinho Araújo (Divulgação)
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Recordo-me como se fosse ontem: acompanhado de meu pai, Emídio Araújo, um garoto de 10 anos, deslumbrado na barranca do Rio Paraná, em Porto do Taboado, vendo a caravana de Jânio Quadros cruzar a região num trem de passageiros transformado em palanque. Da janela, ele lançava ao povo pequenas vassourinhas, prometendo uma limpeza moral no país. Depois, subiu num banquinho e proclamou: “Vou construir aqui uma ponte ligando São Paulo ao Mato Grosso.”

Jânio venceu, renunciou e a ponte virou apenas lembrança de campanha.

A travessia por balsas continuou a ditar o ritmo lento de quem precisava circular entre os dois lados do rio. Cresci com a convicção de que a ponte não era um luxo, mas uma necessidade estratégica para a integração nacional. Revisitei inúmeras vezes o texto de Euclides da Cunha, de 1901, em que defendia a mesma obra após chegar à região montado em mulas, um retrato do isolamento que parecia eterno.

Transformei essa ponte na bandeira da minha vida. Ainda estudante, fui a Brasília pedir diretamente ao ministro Mário Andreazza que tirasse o projeto do papel. Foram 28 anos de idas e vindas, avanços tímidos, paralisações e desconfianças. Até que, em 1998, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso inaugurou a ponte de 3,7 mil metros, com pista rodoviária superior e linha férrea inferior, unindo Rubineia a Aparecida do Taboado. Em 2025, por ela circula cerca de 15% da soja produzida no Centro-Oeste rumo ao Porto de Santos.

Aprendi, ali, a maior lição: não desistir muda destinos. E a ponte segue ensinando. A economia brasileira passa diariamente por ela, provando que planejamento e persistência constroem futuro.

Agora, um novo ciclo logístico se abre com a Ferrovia Estadual do Mato Grosso, obra conduzida pela Rumo Logística. O primeiro trecho ligará Rondonópolis a Lucas do Rio Verde, criando um corredor ferroviário que conectará a produção mato-grossense à malha paulista e, depois, ao Porto de Santos.

O investimento total de mais de R$ 12 bilhões é integralmente privado. Serão 145 mil empregos diretos e indiretos, 22 pontes, 21 viadutos e dois quilômetros de túneis. A primeira fase, com R$ 5 bilhões de orçamento, já emprega cinco mil pessoas e deverá colocar em operação, até 2026, 160 dos 211 km entre Rondonópolis e Campo Verde.

Ao final, a ferrovia será incorporada à malha de 13,5 mil km da Rumo, ampliando a competitividade brasileira no agronegócio e consolidando o Centro-Oeste como potência logística.

Registro ainda obras fundamentais que estão sendo executadas pela Rumo na região para garantir a segurança viária, em especial em São José do Rio Preto. Ação esta que estive envolvido diretamente. Entre elas a obra do Jardim Conceição, composta por um viaduto e passarela, passarelas próximas da Represa e o viaduto que dá acesso à Favela Marte.

Hoje vejo que os trilhos cumprem o mesmo papel: conectar regiões, escoar riquezas e gerar emprego e renda para o País. Persistir vale a pena. E o Brasil avança quando acredita nos próprios caminhos.

Edinho Araújo

Deputado federal por 4 vezes, 3 deputado estadual, ministro dos Portos, 4 vezes prefeito de São José do Rio Preto e 1 como prefeito de Santa Fé do Sul.