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Cultura não é sobra de orçamento

Uma cidade que investe em cultura gasta menos com problemas sociais no futuro

por Glau Ramires
Publicado há 2 horasAtualizado há 2 horas
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É preciso dizer com todas as letras: negar recursos públicos para a cultura não é responsabilidade — é retrocesso. Quando um vereador afirma que “cultura não nasce de verba pública”, desconsidera a Constituição, ignora a história do país e despreza o papel transformador da cultura na vida das pessoas e no desenvolvimento das cidades.

Cultura não é entretenimento opcional, é política pública. O Programa Cultura Viva, reconhecido como uma das políticas culturais mais inovadoras da América Latina, existe porque o Estado entendeu que nenhuma comunidade floresce sem apoio institucional. Pontos e Pontões de Cultura mostram que, quando o governo investe, a sociedade responde com arte, cidadania, combate às violências, geração de renda e fortalecimento de identidades. Se depender apenas do “mercado”, sobrevivem sempre os mesmos, e morrem saberes e tradições que não dão lucro imediato, mas geram vida e pertencimento.

O Plano Nacional de Cultura estabelece metas de financiamento, diversidade e participação social. Reconhece que cultura não é gasto supérfluo, mas vetor de desenvolvimento econômico e social. Estudos globais indicam que cada real investido retorna multiplicado para a economia. Cortar cultura não é economia: é miopia. São José do Rio Preto precisa olhar para si mesma: destinar 1% do orçamento à Cultura não é exagero, é o mínimo para uma política consistente. A maioria dos municípios referência em qualidade de vida já ultrapassou esse patamar. Rio Preto, com toda a sua potência criativa, seus coletivos e equipamentos culturais, não pode aceitar ser tratada como cidade de visão curta.

Quando a maioria dos vereadores vota contra os 1%, não vota “contra um projeto”. Vota contra o acesso democrático, contra a preservação da memória, contra a juventude periférica, contra a economia criativa e contra coletivos que fazem muito com pouco e só precisam de políticas duradouras — não de discursos vazios. O argumento de que “há prioridades mais urgentes” é um falso dilema. Cultura não compete com saúde ou educação; cultura complementa, fortalece e previne. Cultura reduz violência, aumenta autoestima, gera pertencimento e forma cidadãos.

Uma cidade que investe em cultura gasta menos com problemas sociais no futuro. Cultura não é esmola, nem luxo. É direito. E direito exige orçamento. Defender os 1% não é pedir muito — é pedir o básico. O que falta não é dinheiro: é visão.

Glau Ramires

Multiartista, Escritora, Artivista, Agente Territorial de Cultura, Membra dos Coletivos Mulheres na Política e Lugar de Mulher é Onde Ela Quiser e Fundadora do Coletivo Filhas de Fênix.