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Cartas de amor

Hoje, as redes sociais são o meio mais utilizado para se declarar a alguém; não passa de quatro linhas

por Laerte Teixeira da Costa
Publicado há 4 horasAtualizado há 2 horas
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Caiu-me às mãos o poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Escrever sobre ele é um atrevimento. Por melhor que faça, fico devendo em estilo e conteúdo. Melhor seria Romildo Santana elaborar com sua maestria. Mas, o desatino é meu e vou arriscar ser cafona, sinônimo imperfeito de ridículo.

Denomina-se “Todas as cartas de amor são ridículas” e como ele diz “não seriam cartas de amor se não fossem ridículas”. Quem não teve em mãos ou foi lembrado de algo escrito e dedicado ao amor do momento, do qual se envergonhou? O duro é quando o texto lhe é esfregado na cara.

1957 em Mirassol na Rua 9 de Julho, no Escritório do Sneyder, office-boy, uns 12 anos, passava à frente a menina loirinha de quem nem o nome lembro. Trocávamos bilhetinhos, a maioria escritos pelos adultos do escritório, que se divertiam com a situação. Foi a primeira e inconsequente experiência.

Mais tarde, já maior, haveria consequências. Uma delas dramática, de garota que, interrompido o interlúdio epistolar (braba essa!), ficou possessa e rogou-me todas as pragas possíveis. Algumas, acho, pegaram. O amor é coisa séria e os homens demoraram a descobrir isso, enganando-se com o prazer da conquista. Felizmente, as mudanças foram para melhor.

No passado, o tempo entre ida e volta de correspondências era longo. Levava semanas, o que aumentava o prazer dos correspondentes. Li que a notícia do assassinato de Lincoln demorou uma semana para chegar à Europa. A distância da Maratona (42,195 km), segundo a lenda, foi percorrida por Fitípides para dar a notícia de uma vitória militar (ou pedir ajuda) no ano 490 a.C.

Descobriram-se histórias comoventes de cartas não entregues. Conta-se que uma judia escreveu para um cantor falando-lhe sobre sua gravidez. A carta está com a expressão “niet hebben”, indicando que o destinatário se recusou a abri-la. Em épocas de guerras muitas cartas jamais chegaram a seus destinos. A internet informa que o primeiro serviço de correios surgiu no Império Persa em 500 a.C.

Voltemos às cartas de amor. Hoje, as redes sociais são o meio mais utilizado para se declarar a alguém. Dá para apostar que nenhuma passa de quatro linhas. Há de diversos tipos, engraçadas e sérias, comuns e criativas, algumas poucas comoventes. Melhor nos tempos de Fernando Pessoa e sua Ofélia Queiroz.

Laerte Teixeira da Costa

Vice-presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores) e ex-vereador de Rio Preto