Diário da Região
ARTIGO

Biroli, sinônimo de integridade

No fundo, era um coração mole, um verdadeiro paizão, sempre disposto a ouvir os colegas

por Ruy Sampaio
Publicado em 29/08/2025 às 21:00Atualizado em 30/08/2025 às 13:08
Ruy Sampaio (Divulgação)
Ruy Sampaio (Divulgação)
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No último dia 28, José Roberto Biroli nos deixou, após uma luta silenciosa contra uma grave doença que enfrentou com dignidade. Amigos que acompanharam sua trajetória relatam que, mesmo ciente da gravidade de sua condição, Biroli manteve-se sereno, equilibrado e altivo, refletindo sua essência. Durante os oito anos em que tive a honra de conviver com ele no Semae — Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto de São José do Rio Preto —, nunca ouvi sua voz elevar-se em tom. Sua comunicação era sempre modulada, independentemente da situação. Talvez isso se deva à sua formação como engenheiro, que imprimia sensatez e racionalidade à sua personalidade.

Conhecido simplesmente como Biroli, ele ocupou o cargo de diretor-geral da autarquia de água e esgoto de Rio Preto, onde sua contribuição foi inestimável. Garantia que nada de errado ocorresse nos contratos, lendo cada um deles com atenção, corrigindo até os menores erros de português. Sua presença levou tranquilidade à gestão. Conduzia as reuniões com firmeza, mas sempre sem perder a ternura. No fundo, era um coração mole, um verdadeiro paizão, sempre disposto a ouvir os colegas com atenção.

Biroli tinha um talento especial para compartilhar passagens de sua trajetória profissional. Apreciava um bom vinho e uma boa prosa, além de exaltar o amor por sua família. Marta, sua esposa e companheira, esteve sempre ao seu lado, e ele se orgulhava imensamente de suas três filhas: Flávia, cientista política; Fernanda, engenheira civil; e Roberta, dentista. Não cansava de mencioná-las aos colegas, sempre com um adjetivo enaltecedor.

Sua vida profissional foi marcada por realizações notáveis. Formou-se em engenharia civil em 1972 pela Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo. Passou pelo DAE — Departamento de Água e Esgoto de Jundiaí, foi diretor da Sansão Engenharia e da Encalso, e dedicou-se ao Semae durante as duas gestões do prefeito Edinho Araújo. Biroli também foi presidente da Sociedade de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Rio Preto e da Federação das Associações de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo (FAEASP).

Em 2022, ele me convidou para escrever seu perfil na revista da Sociedade dos Engenheiros, comemorando 50 anos de dedicação à engenharia. Foi uma honra ser escolhido para essa missão desafiadora. Fiquei admirado ao conhecer sua história e a paixão que nutria pela engenharia. Biroli construiu 600 pontes e viadutos, 40 conjuntos habitacionais, 100 escolas, 2 milhões de m² de pavimentação urbana, 2,8 milhões de m² de pavimentação de rodovias, além de inúmeras outras obras, como a ETE — Estação de Tratamento de Esgoto de Rio Preto. Ele costumava dizer que, se juntássemos todas as pontes que construiu, elas se estenderiam por mais de 20 quilômetros.

A marca de Biroli ficará eternamente gravada na história das cidades por onde suas obras se espalharam. O Calçadão de Rio Preto é um exemplo emblemático. Para encerrar este tributo, reproduzo o final do texto que escrevi para a revista da Sociedade dos Engenheiros: "Biroli foi um apaixonado pela engenharia, pela construção e edificação. Um mestre detalhista e envolvido em seu trabalho, sua história está escrita e registrada nas cidades e locais por onde passou, construindo verdadeiras obras de arte." Sua integridade e exemplo farão falta a todos nós.

Ruy Sampaio

Jornalista e ex-diretor de Comunicação do Semae. Atualmente é secretário de Cultura de Cornélio Procópio/PR.