Árvores exóticas no viveiro municipal
Valorizar nossas árvores não é apenas uma questão de identidade, mas de equilíbrio

Recentemente, fui ao viveiro municipal de São José do Rio Preto em busca de mudas para plantar. Minha expectativa era encontrar, sobretudo, espécies nativas do Cerrado ou Mata Atlântica, já que estamos no país com a maior diversidade de árvores do mundo — mais de oito mil espécies registradas, muitas delas únicas de nossos biomas.
No entanto, ao analisar a lista de árvores de pequeno e médio porte disponíveis, percebi algo que me incomodou profundamente: a quantidade de opções é mínima, de pequeno porte, duas nativas contra quatro exóticas, de médio porte, 7 nativas para 5 exóticas, ou seja, somando as duas opções temos praticamente o mesmo número de espécies nativas e exóticas: 9 para cada.
Aparentemente, isso poderia soar como “variedade” ou “opção para todos os gostos”. Mas, na prática, significa que estamos ocupando ruas, praças e jardins com plantas de outros continentes — australianas, asiáticas, africanas — enquanto negligenciamos a imensa biodiversidade que herdamos. Essa escolha não é neutra: cada espécie exótica plantada em uma calçada é um espaço a menos para a fauna e a flora locais se regenerarem e interagirem.
O Brasil, país megadiverso, possui árvores adaptadas a todos os climas e regiões, com flores, frutos e formas que encantam tanto quanto qualquer espécie estrangeira. No entanto, nossa herança cultural e estética, marcada por séculos de colonialismo, nos ensinou a ver as plantas de fora como mais bonitas ou mais “nobres”. Resultado: mesmo em viveiros públicos, onde a função deveria ser também educativa e ambiental, a oferta de exóticas compete de igual para igual com as nativas.
Valorizar nossas árvores não é apenas uma questão de identidade, mas de equilíbrio ecológico. Espécies nativas alimentam a fauna local, ajudam na polinização e na dispersão de sementes, mantêm o solo saudável e interagem com o clima de forma a amenizar extremos de temperatura. Quando optamos por exóticas, muitas vezes deixamos de lado esses benefícios — e ainda corremos o risco de introduzir espécies invasoras que prejudicam ecossistemas inteiros.
Se somos o país com mais árvores no planeta, por que continuar tratando nossas espécies como coadjuvantes nos espaços urbanos? É hora de exigir que viveiros municipais priorizem, em suas listas, as árvores que carregam a história, a beleza e a vida dos nossos biomas, no nosso caso, do cerrado e da mata atlântica. Plantar uma árvore nativa é plantar também um pedaço do Brasil que queremos preservar.
Érico Fumero
Professor, Doutor em Filosofia pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha.