Acorda, Rio Preto
Grandes obras públicas dependem de visão, continuidade e coragem administrativa

Na recente passagem do governador Tarcísio de Freitas pela região noroeste, os anúncios de investimentos chamaram atenção, sobretudo na área da saúde. Mas, um deles expôs algo ainda mais revelador: a liberação de R$ 15,5 milhões para a construção de um trecho do anel viário de Fernandópolis.
Enquanto isso, São José do Rio Preto, que lidera uma Região Metropolitana com mais de trinta municípios, segue sem sequer um projeto básico para o seu anel viário regional. É inacreditável que interlocutores e representantes locais ainda não compreendam o impacto dessa obra para o futuro da mobilidade, da logística e do desenvolvimento econômico regional.
Em Fernandópolis, o anel viário é pauta de décadas. Incluído no Plano de Mobilidade Urbana de 2015, o projeto começou a se tornar realidade em 2016, quando o município obteve a posse de uma área estratégica e iniciou as obras por etapas. O novo trecho, com cerca de sete quilômetros, vai interligar distritos industriais e vias estaduais, retirando o tráfego pesado do perímetro urbano e impulsionando o crescimento local.
Projetos dessa dimensão não nascem prontos. O anel viário da Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, teve seu traçado definido em 1992 e as primeiras obras iniciadas em 1998 — e até hoje segue sendo ampliado, por trechos. Mas só existe porque alguém começou. Grandes obras públicas dependem de visão, continuidade e coragem administrativa.
Em Rio Preto, os estudos para a implantação de um rodoanel metropolitano foram autorizados pelo Governo do Estado em 2022, sob responsabilidade do DER-SP e da Secretaria de Logística e Transportes. Mas, até agora, ficaram apenas no papel — ou nas tratativas de bastidor. Nenhum projeto foi apresentado, nenhuma licitação lançada, nenhum passo concreto dado.
Por quê? Falta de iniciativa de quem? Quem está, de fato, lutando por essa pauta estratégica da Região Metropolitana? O tema parece ter se perdido entre discursos e protocolos, sem que ninguém o colocasse na agenda real de prioridades. E enquanto o tempo passa, as oportunidades passam junto.
O anel viário de Fernandópolis é mais do que uma obra: é o reflexo de uma cidade que se planejou e soube insistir. Enquanto isso, Rio Preto continua assistindo. E, a cada novo investimento que passa ao largo, fica mais evidente que o tempo da inércia custa caro demais.
Acorda, Rio Preto. O desenvolvimento não espera quem fica parado.
Fernando Cunha
Ex-prefeito de Olímpia, empresário, engenheiro, foi presidente da CESP, deputado estadual e secretário de Estado.