A prática é o critério da verdade
Rio Preto não é extremista, nem tolera comportamentos vacilantes ou mentiras prolongadas

Depois de uma belicosa eleição municipal, o novo governo assumiu sem ter feito uma transição digna e republicana. O governo findante mostrava pouca vontade em apresentar o verdadeiro diagnóstico administrativo e financeiro, e o governo entrante tampouco se empenhou em compreender a real situação ou tornar públicas informações essenciais. A cidade foi, então, submetida ao método de trocar as rodas com o carro andando.
Ficava evidente que não haveria continuidade de políticas públicas essenciais para o município. O diálogo de Estado-maior, de alto nível republicano, foi substituído por euforia e troca de farpas.
A postura austera e imperativa do prefeito, de anunciar ações impactantes logo nos 100 primeiros dias e reduzir gastos desnecessários, transformou-se em obsessiva dedicação à continuidade dos volumosos contratos, empréstimos e financiamentos.
O resultado desse péssimo começo foi chegar ao final do ano sem avanços significativos e com muito retrocesso administrativo, social e político.
Para desviar a atenção pública de suas trapalhadas e malfeitorias, o governo transformou a cidade em um palanque eleitoral permanente, e voluntarismo performático fez de nossa maior autoridade um animador de auditório, que invariavelmente inicia seus grotescos discursos com o bordão “quem tá feliz aqui levanta a mão”.
Enquanto o governo organiza a farsa mal ensaiada, a milícia digital de seu partido, disfarçada de mídia independente, não economiza disparos contra dissidentes e opositores.
O fundamentalismo religioso tomou conta do ambiente institucional, com orações em repartições públicas durante o expediente, enquanto a desfaçatez e a impunidade desfilam com um terço na mão. Tudo em nome de Deus.
Esse método se sustenta pela dissonância cognitiva: diante dos fatos, dobra-se a aposta na própria narrativa, substituindo a autocrítica pela propaganda e pelo ataque aos opositores. Em vez de reconhecer erros e corrigir rumos, tenta-se subordinar a realidade à crença.
O golpe do IPTU, a drástica revisão da planta genérica, o aumento de ISS para construção e a liquidação dos bens e serviços públicos em forma de PPP nos levará a um endividamento ainda maior e muito mais comprometedor que governos passados.
O prefeito terá muito dinheiro para tentar reverter a péssima percepção que a maioria da cidade tem hoje. Mas dificilmente reverterá o ranço e a desconfiança que pairam sobre nossa grande aldeia.
Rio Preto não é extremista, nem tolera comportamentos vacilantes ou mentiras prolongadas. E isso não se explica por alinhamentos ideológicos, mas por uma disposição histórica, a ideia de alma e caráter coletivos.
O método já se revelou. Como lembra o velho pensador alemão, a prática, de fato, é o critério da verdade.
João Paulo Rillo
Vereador (PT)