Diário da Região
ARTIGO

A lógica da sobrevivência israelense

Israel, apesar de todas as suas contradições e tensões internas, é uma democracia vibrante

por Fernando Cosenza Araujo
Publicado em 18/06/2025 às 23:28Atualizado em 19/06/2025 às 09:20
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Estudei em Israel em 2001, durante a Segunda Intifada. Na época, atentados suicidas contra civis eram recorrentes, e a sensação de ameaça existencial estava sempre presente. Ali aprendi que a segurança em Israel não é uma abstração teórica — é uma questão cotidiana.

Tenho muitos amigos israelenses, de diferentes espectros políticos — incluindo muitos que nunca votaram em Benjamin Netanyahu. Essa convivência me ensinou algo essencial: o debate político em Israel é intenso, plural e democrático.

Estamos falando de um Estado — o Irã — cujo regime teocrático e autoritário declara, de forma aberta e repetida, que o Estado de Israel não deveria existir. Essa não é uma retórica simbólica, mas um projeto político com braços operacionais: o financiamento ao Hezbollah no Líbano, ao Hamas em Gaza e a milícias na Síria e no Iraque que colocam Israel sob constante ameaça.

O Irã, diferentemente de Israel, não é uma democracia. Não há eleições livres, liberdade de imprensa ou Judiciário independente. Trata-se de um regime fechado, onde o radicalismo ideológico não encontra barreiras institucionais. Em contraste, Israel, apesar de todas as suas contradições e tensões internas, é uma democracia vibrante, com oposição ativa, imprensa crítica e uma Suprema Corte que atua como freio aos excessos do governo. Essa diferença importa muito quando avaliamos a responsabilidade no uso da força.

Israel não pode se dar ao luxo da passividade estratégica. Sua geografia apertada e a concentração populacional em poucos centros urbanos tornam o país extremamente vulnerável. A experiência do povo judeu, especialmente no século XX, ensinou duramente que ameaças existenciais devem ser levadas a sério — sobretudo quando vêm de regimes que não respondem a pressões internacionais.

É legítimo que se critique os excessos do governo israelense. Democracias são justamente o espaço onde críticas devem prosperar. Mas é um erro de análise moral e estratégica equiparar Israel e Irã como dois polos equivalentes de um conflito regional. Um deles é uma democracia sitiada, que busca sobreviver. O outro é uma ditadura expansionista, que instrumentaliza o ódio para consolidar poder interno e influência externa. Ignorar essa assimetria é desonesto.

O ataque às instalações militares iranianas deve ser lido à luz dessa realidade: não como um ato arbitrário de beligerância, mas como uma resposta preventiva diante de ameaças explícitas e persistentes. Em um mundo ideal, a diplomacia resolveria tudo. No mundo real, o da realpolitik, a história é outra.

Fernando Cosenza Araujo

Pesquisador de pós-doutorado da FEAUSP e professor da Faculdade Albert Einstein