A lógica da sobrevivência israelense
Israel, apesar de todas as suas contradições e tensões internas, é uma democracia vibrante

Estudei em Israel em 2001, durante a Segunda Intifada. Na época, atentados suicidas contra civis eram recorrentes, e a sensação de ameaça existencial estava sempre presente. Ali aprendi que a segurança em Israel não é uma abstração teórica — é uma questão cotidiana.
Tenho muitos amigos israelenses, de diferentes espectros políticos — incluindo muitos que nunca votaram em Benjamin Netanyahu. Essa convivência me ensinou algo essencial: o debate político em Israel é intenso, plural e democrático.
Estamos falando de um Estado — o Irã — cujo regime teocrático e autoritário declara, de forma aberta e repetida, que o Estado de Israel não deveria existir. Essa não é uma retórica simbólica, mas um projeto político com braços operacionais: o financiamento ao Hezbollah no Líbano, ao Hamas em Gaza e a milícias na Síria e no Iraque que colocam Israel sob constante ameaça.
O Irã, diferentemente de Israel, não é uma democracia. Não há eleições livres, liberdade de imprensa ou Judiciário independente. Trata-se de um regime fechado, onde o radicalismo ideológico não encontra barreiras institucionais. Em contraste, Israel, apesar de todas as suas contradições e tensões internas, é uma democracia vibrante, com oposição ativa, imprensa crítica e uma Suprema Corte que atua como freio aos excessos do governo. Essa diferença importa muito quando avaliamos a responsabilidade no uso da força.
Israel não pode se dar ao luxo da passividade estratégica. Sua geografia apertada e a concentração populacional em poucos centros urbanos tornam o país extremamente vulnerável. A experiência do povo judeu, especialmente no século XX, ensinou duramente que ameaças existenciais devem ser levadas a sério — sobretudo quando vêm de regimes que não respondem a pressões internacionais.
É legítimo que se critique os excessos do governo israelense. Democracias são justamente o espaço onde críticas devem prosperar. Mas é um erro de análise moral e estratégica equiparar Israel e Irã como dois polos equivalentes de um conflito regional. Um deles é uma democracia sitiada, que busca sobreviver. O outro é uma ditadura expansionista, que instrumentaliza o ódio para consolidar poder interno e influência externa. Ignorar essa assimetria é desonesto.
O ataque às instalações militares iranianas deve ser lido à luz dessa realidade: não como um ato arbitrário de beligerância, mas como uma resposta preventiva diante de ameaças explícitas e persistentes. Em um mundo ideal, a diplomacia resolveria tudo. No mundo real, o da realpolitik, a história é outra.
Fernando Cosenza Araujo
Pesquisador de pós-doutorado da FEAUSP e professor da Faculdade Albert Einstein