Diário da Região
RADAR ECONÔMICO

A força do agro tropical

Nesta COP30, o agro mostrou que a agricultura tropical, liderada pelo Brasil, é parte essencial das soluções climáticas, energéticas e alimentares

por Jacyr Costa Filho
Publicado há 7 horasAtualizado há 1 hora
Jacyr Costa Filho (Divulgação)
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Jacyr Costa Filho (Divulgação)
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A COP30, que termina nesta sexta-feira (21/11), já está marcada como um ponto de virada, uma oportunidade decisiva para reposicionar a agricultura tropical como parte central das soluções globais para clima, energia e segurança alimentar. Atendendo a uma demanda do embaixador e CEO da COP30, André Corrêa do Lago, um ano atrás, o setor do agronegócio se organizou para levar um posicionamento uníssono, por meio de um estudo intitulado “Agricultura Tropical Sustentável: Cultivando Soluções para Alimentos, Energia e Clima”. O estudo, coordenado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, com participação de mais de 40 entidades do agronegócio e da pesquisa brasileira, virou um livro entregue ao embaixador na Fiesp, durante reunião do Cosag (Conselho Superior do Agronegócio), no dia 3 de novembro. A mensagem principal: o Brasil tem legitimidade e resultados para liderar essa agenda.

A agricultura tropical reúne ativos únicos: 40% das terras aráveis do planeta, mais da metade da água doce e uma biodiversidade sem paralelo. Mas enfrenta desafios como solos frágeis, clima variável, pragas e pressão sobre recursos naturais. O Brasil mostrou ser possível superá-los com pesquisa aplicada, sistemas integrados de produção, manejo sustentável e inovação contínua — lições valiosas para os países da África e do sul da Ásia.

Em somente 50 anos, o País deixou de importar 30% dos alimentos para se tornar um dos principais exportadores do mundo. Hoje, um em cada quatro produtos agro exportados globalmente é brasileiro. Esse avanço não dependeu de expansão territorial descontrolada, mas de ciência, tecnologia e do espírito empreendedor e do trabalho árduo dos nossos produtores rurais. A agropecuária ocupa cerca de um terço do território, preservando grande parte da vegetação nativa e mantendo o País entre os líderes em produção sustentável.

O estudo destaca ainda o papel decisivo do agro na transição energética. Metade da matriz energética brasileira é renovável, contra 15% da média global. Sem o setor agropecuário, esse número cairia para 20%. Biocombustíveis, bioenergia e bioeconomia ampliam a capacidade do Brasil de contribuir para metas climáticas, ao mesmo tempo, em que geram empregos, renda e oportunidades para regiões tropicais.

Para outros países avançarem nesse modelo — especialmente regiões como a África Subsaariana, rica em potencial agronômico, mas limitada por falta de infraestrutura, tecnologia e de formação de mão de obra —, é essencial ampliar investimentos em pesquisa, assistência técnica e políticas públicas. E, sobretudo, enfrentar o protecionismo crescente, que distorce os mercados e impede que nações tropicais aproveitem plenamente suas vantagens comparativas.

Por isso, o conceito de Transição Justa ganhou força na COP30: descarbonizar gerando oportunidades de crescimento econômico e social. A agricultura tropical brasileira que transformou o Brasil em potência agroambiental prova que isso é possível.

Como reforçou Roberto Rodrigues, a ambição maior é que o Brasil seja “o campeão da paz”. Num mundo marcado por conflitos e tensões geopolíticas, combater a fome e promover desenvolvimento sustentável são caminhos concretos para construir estabilidade social e econômica.

Jacyr Costa Filho

Presidente do Cosag - Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da consultoria Agroadvice