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A crônica de um desastre anunciado

Lobistas tentaram, de todas as formas, nos convencer a realizar aplicações no Banco Master

por Jair Moretti
Publicado há 8 horas
Jair Moretti (Divulgação/Reprodução)
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Jair Moretti (Divulgação/Reprodução)
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Quem entende minimamente de economia e de mercado financeiro conhece bem o tripé que sustenta qualquer aplicação responsável: segurança, liquidez e rentabilidade. Pois bem, já no início de 2024, há dois anos, na condição de superintendente da RioPretoPrev, recomendei de forma categórica aos membros do Comitê de Investimentos, cinco profissionais de altíssima competência, que não negociassem papéis originados do Banco Master. Os sinais de alerta estavam ali, claros para quem quisesse enxergar.

E não foi por falta de insistência de lobistas que tentaram, de todas as formas, nos convencer a realizar essas aplicações.

Hoje, dois anos depois, assistimos ao desfecho daquilo que os órgãos governamentais, responsáveis por acompanhar o mercado diariamente, deveriam ter previsto e evitado: mais um rombo significativo no sistema financeiro.

Imaginem quantos Institutos de Previdência aplicaram recursos nesse banco e agora enfrentarão severas dificuldades para reaver o dinheiro, se é que irão reaver. O prejuízo recairá, inevitavelmente, sobre a poupança de servidores que confiaram no sistema. Só no Rio de Janeiro, fala-se em dois bilhões de reais.

Aqui em nossa cidade, felizmente, e graças ao trabalho técnico e responsável da equipe da RioPretoPrev, não fomos atingidos. É verdade que o “Exército da Salvação” instalado em nossa cidade no final de 2024 chegou a anunciar que faria uma devassa no nosso Instituto. Mas, ao que parece, nunca houve necessidade, justamente porque sempre atuamos com prudência e rigor técnico.

O problema do Brasil, contudo, vai além: é a morosidade dos órgãos de controle e, igualmente, da nossa Justiça. Recordo o caso do Banco Crefissul, do famigerado sr. Mansur. No passado, ele adquiriu o tradicional Banco Antônio de Queiroz, da respeitada família Queiroz de Monte Azul, apenas para quebrá-lo logo em seguida. O banco entrou em recuperação em 1998, depois, em falência, e pasmem, até hoje o processo não chegou ao fim.

Falo com propriedade: fui eleito à época e permaneço até hoje como presidente nacional dos Credores Quirografários do Banco Crefissul, justamente aqueles que, sendo os últimos da fila, talvez jamais recebam os recursos que depositaram há quase 30 anos.

Enquanto isso, as informações que correm são de que o sr. Ricardo Mansur vive muito bem na Inglaterra, onde mantém uma bela mansão e um haras, desfrutando diariamente do prazer das cavalgadas ao lado da esposa e dos filhos.

Jair Moretti

Advogado.