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RADAR ECONÔMICO

A crise da mão de obra e a próxima geração de profissionais

Enquanto milhares de empresas enfrentam uma grave escassez de mão de obra, cresce, ao mesmo tempo, o desinteresse de parte da nova geração pelos empregos formais

por Letícia Mariane Gomes Tavares
Publicado há 5 horasAtualizado há 2 horas
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O Brasil vive hoje uma contradição que merece atenção. Enquanto milhares de empresas enfrentam uma grave escassez de mão de obra, cresce, ao mesmo tempo, o desinteresse de parte da nova geração pelos empregos formais. Não se trata apenas de falta de vagas. Trata-se de falta de comprometimento, visão de carreira e valorização do trabalho como ferramenta de crescimento.

Empreendedores de diversos setores relatam a mesma dificuldade: jovens que não permanecem nos empregos, que faltam sem aviso, que não demonstram compromisso com horários, metas ou aprendizado. Quando há interesse por uma vaga, muitas vezes a expectativa salarial inicial já começa acima do piso da categoria, sem experiência prévia ou disposição para crescer dentro da empresa.

O resultado é um mercado travado. Empresas querem contratar, entretanto não encontram profissionais dispostos a aprender o processo e evoluir. Ao mesmo tempo, muitos jovens optam por trabalhos imediatistas, como aplicativos de entrega ou transporte, atraídos pelo ganho rápido, sem considerar a ausência de benefícios, estabilidade ou plano de carreira a longo prazo.

Não se trata de desmerecer essas atividades, que são dignas e importantes, mas de refletir sobre a falta de planejamento profissional. Ganhar mais hoje não significa, necessariamente, construir um futuro sólido amanhã. Sem capacitação contínua, sem histórico profissional e sem crescimento estruturado, o risco de estagnação é alto.

Como Agente Local de Inovação, observo essa realidade diariamente, mas falo também como mãe. Me preocupo profundamente com o futuro dos meus filhos e com a formação da próxima geração. Acredito no valor do trabalho, no aprendizado que começa nos primeiros empregos, no esforço diário que constrói caráter, responsabilidade e visão de futuro. Incentivo meus filhos a conquistarem o próprio dinheiro, entendendo que nada substitui a experiência adquirida com dedicação e disciplina.

O mercado de trabalho mudou, é verdade! Mas princípios como compromisso, responsabilidade e vontade de aprender continuam sendo diferenciais. O desafio que temos hoje não é apenas econômico, é cultural! Precisamos resgatar a ideia de que crescer profissionalmente exige tempo, esforço e paciência.

Caso não enfrentemos essa realidade agora, o custo será alto no futuro: empresas sem equipes, jovens sem carreira e uma economia cada vez mais fragilizada. Portanto, o trabalho precisa voltar a ser visto não apenas como renda imediata, mas como caminho de construção pessoal e profissional.

Letícia Mariane Gomes Tavares

Agente Local de Inovação do Sebrae-SP