Diário da Região
LUTO

Morre d. Cláudio, arcebispo emérito de São Paulo

‘A Terra não aguenta mais’, disse dom Cláudio ao falar em defesa do verde

por Agência Estado
Publicado em 04/07/2022 às 22:44Atualizado em 05/07/2022 às 09:44
Segundo a Arquidiocese de São Paulo, D. Cláudio Hummes, que estava com 87 anos de idade, morreu após ‘prolongada enfermidade’ (Divulgação/Diocese de Piracicaba)
Segundo a Arquidiocese de São Paulo, D. Cláudio Hummes, que estava com 87 anos de idade, morreu após ‘prolongada enfermidade’ (Divulgação/Diocese de Piracicaba)
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Arcebispo emérito de São Paulo, o cardeal d. Cláudio Hummes morreu aos 87 anos na manhã desta segunda-feira, 4. Nome forte na Igreja Católica, foi bastante próximo do papa Francisco e até cotado para assumir o posto mais alto do Vaticano no conclave de Bento XVI. Mais recentemente, liderou o Sínodo da Amazônia e era engajado em temas ligados à floresta e na defesa de mudanças para combater a crise climática. "A Terra não aguenta mais", chegou a declarar.

O corpo foi velado na Catedral Metropolitana de São Paulo, onde foram celebradas missas. O sepultamento será após a missa das 10h desta quarta, 6, na Cripta da Catedral. Segundo a Arquidiocese de São Paulo, D. Cláudio Hummes morreu após “prolongada enfermidade”.

Gaúcho de Salvador do Sul, quando integrava o município de Montenegro, ingressou na Ordem Franciscana dos Frades Menores aos 17 anos, tendo passado pelas ordenações sacerdotal e episcopal respectivamente em 1958 e 1975. Foi arcebispo de São Paulo e Fortaleza e bispo de Santo André e, em 2001, foi nomeado cardeal. Quando ocupou o cargo no ABC paulista, desafiou o regime militar e abriu as portas das igrejas da região para os trabalhadores em greve no fim da década de 1970 e início dos anos 1980.

D. Cláudio era então arcebispo de São Paulo quando ocorreu o “Massacre da Sé”, em que dez pessoas em situação de rua foram atacadas, seis delas mortas, em 2004. Liderança da Pastoral do Povo da Rua, padre Júlio Lancellotti falou ao Estadão nesta segunda sobre a atuação do cardeal naquele momento. “Foi comigo nos hospitais, acompanhou tudo aquilo muito de perto. Foi sempre um grande aliado de grandes causas do povo pobre, da população de rua, dos indígenas”, afirma. "O legado de d. Cláudio é o amor aos pobres.”

Em 2013, o próprio papa Francisco atribuiu ao cardeal a inspiração para a escolha do nome que usaria à frente da Igreja. Segundo Jorge Bergoglio disse em entrevista, quando ficou claro que o seria escolhido pelo conclave, ouviu de Hummes: “Não se esqueça dos pobres”. Ao escutar as palavras do amigo brasileiro, o pontífice pensou em São Francisco de Assis, conhecido pela defesa dos pobres.

Naquele ano, falou sobre a importância da escolha de um latinoamericano como papa. "Eles fizeram isso, os cardeais. Dentro de um dia e meio, fizeram essa revolução. A mídia do mundo inteiro ficou surpresa", declarou.

Em 2019, foi relator geral da Assembleia Especial do Sínodo para a Igreja Católica na Amazônia, realizada pelo Vaticano de 6 a 27 de outubro. Na época, ele disse: “A vida na Amazônia talvez nunca tenha estado tão ameaçada como hoje”, declarou no início do evento.

Lamento

Autoridades e organizações de diferentes esferas políticas lamentaram a morte do arcebispo. O cardeal d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, pediu preces em “agradecimento pela vida operosa do falecido Cardeal Hummes”. “Deus acolha em suas moradas eternas nosso irmão falecido, cardeal Cláudio Hummes, e faça brilhar para ele a luz eterna”. Já o governador Rodrigo Garcia (PSDB) se pronunciou em rede social: “Sua ação e fé fortaleceram a Igreja Católica. Que sua trajetória de dedicação a Deus e ao povo continue a nos servir de exemplo e inspiração". O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), lembrou da trajetória do arcebispo. “Fica seu exemplo de fraternidade e amizade social que não se limitou a palavras.”