Diário da Região
MEGAOPERAÇÃO

Defensoria do Rio de Janeiro diz que há 132 mortos após operação contra o Comando Vermelho

Segundo ativistas e moradores, cadáveres têm sido achados em área de mata desde a madrugada; governo não atualizou balanço oficial

por Agência Estado
Publicado há 13 horasAtualizado há 13 horas
Corpos localizados por moradores do Rio (Tomaz Silva/Agência Brasil)
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Corpos localizados por moradores do Rio (Tomaz Silva/Agência Brasil)
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A Defensoria Pública do Rio de Janeiro afirma que há 132 mortos após a megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) dessa terça-feira, 28, a mais letal da história do Estado. Moradores do Complexo da Penha, na zona norte carioca, um dos locais onde houve a operação, levaram ao menos 60 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, durante a madrugada e o início da manhã desta quarta-feira, 29, após.

Mais cedo, à TV Globo, o secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, disse que os cadáveres levados pelos moradores não estavam na contagem. O governo, porém, não atualizou o balanço oficial.

O governo Cláudio Castro (PL) afirmou que a ofensiva - que envolveu 2,5 mil policiais, blindados e helicópteros - ocorreu para avançar sobre um território dominado pelo crime organizado. O CV chegou a usar drones com bombas na reação, o que expôs o poder bélico dos traficantes.

“Ninguém nunca viu no Brasil o que está acontecendo aqui”, disse Jéssica, uma moradora em frente à fila de corpos na manhã desta quarta. “Ninguém nunca viu no Brasil o que está acontecendo aqui”, afirma Jéssica.

O ativista Raull Santiago, diretor do Instituto Papo Reto, afirmou no Instagram que os corpos foram encontrados em uma área de mata na Serra da Misericórdia. Segundo ele, a Defesa Civil Estadual está no local para retirar os corpos.

Facções

As imagens de casas em chamas após ataques com drones no Rio de Janeiro nesta terça-feira, 28, expõem a escalada bélica do crime organizado no País. Facções incorporam tecnologia cada vez mais avançada tanto para a logística do tráfico de drogas quanto para atacar grupos rivais e as forças de segurança - e risco para moradores das comunidades vulneráveis onde os bandidos se escondem.

A ação também visou a apreensão de armamento usado pela facção criminosa e, até a última atualização anunciada pelo governador Cláudio Castro (PL), 93 fuzis haviam sido apreendidos pelas forças policiais.

Em reação à ofensiva policial, o CV usou drones adaptados para lançar bombas. A tática repete estratégias usadas em guerra como a da Ucrânia e a da Faixa de Gaza e revela o novo estágio de sofisticação das facções, conforme especialistas em segurança pública ouvidos pelo Estadão.

Além dos drones, o arsenal inclui armamento cada vez mais pesado - com a descoberta pelas autoridades até de fábricas clandestinas de fuzis, com uso de matéria-prima importada -, câmeras termográficas para monitorar a movimentação de alvos e bloqueadores de GPS.

Os equipamentos usados costumam ser drones comerciais do tipo FPV (First Person View), facilmente adquiridos pela internet por valores entre R$ 3 mil e R$ 10 mil. Apesar de simples, são capazes de transportar cargas de até meio quilo, o que já é suficiente para carregar uma granada de mão.

“Cada vez mais facções como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) adquirem armamento de grosso calibre, de ponta, para atividades criminosas”, diz Leonardo Silva, pesquisador sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Não à toa, nos últimos anos se observa no Rio a apreensão de equipamentos antidrone, justamente de facções tentando se proteger do ataque de grupos rivais.”