Ter o próprio negócio é tendência entre os jovens em Rio Preto
Dos 47,5 mil MEIs existentes na cidade, 10,3 mil estão na faixa etária entre 16 e 30 anos



Fazer a diferença no mundo é a segunda motivação dos jovens quando decidem empreender. Perde apenas para outra, um tanto quanto mais urgente, que é ganhar a vida em função da escassez de empregos formais no mercado. Outras motivações são construir uma grande riqueza e continuar uma tradição familiar. As constatações integram documento que apresenta os resultados detalhados sobre o perfil dos empreendedores no estado de São Paulo por faixa etária, a partir dos dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) São Paulo.
O empreendedorismo jovem em Rio Preto espelha bem os números da pesquisa. De acordo com os dados, o grupo de empreendedores de 18 a 34 anos tem como principal motivação ganhar a vida, com 74,3% das respostas no Estado. Em seguida aparece a vontade de fazer a diferença, com 68,1% do total. Na sequência, construir riqueza, com 61,4% e continuar tradição familiar (26,8%). A pesquisa foi realizada com 2 mil pessoas de 18 a 64 anos no ano passado.
Não há números sobre todo o universo de jovens empreendedores de Rio Preto, mas o grupo entre os microempreendedores individuais (MEIs) dá uma boa ideia do conjunto. Dos 47,5 mil MEIs existentes na cidade, 10,3 mil estão na faixa etária entre 16 e 30 anos, o que representa 21,8% do total. A maior faixa seguinte tem entre 31 e 40 anos, com 14,3 mil pessoas.
Para o economista Hipólito Martins Filho, trata-se de um movimento natural do mercado e o resultado positivo é a inovação que pode surgir a partir da mentalidade das pessoas de gerações mais novas. Hoje em dia, com mais dificuldades para obter uma carteira assinada, o jovem passa a empreender. “Existe uma mudança no perfil do mercado de trabalho. Os jovens também não querem mais esse modelo convencional, buscam um novo modelo de trabalho: mais flexível em horários, em atitudes, com melhor rendimento, adaptado aos novos tempos”, diz.
A analista de atendimento do Sebrae de Rio Preto, Sabrina Ikeda Neves Saeki, observa uma grande procura de jovens em busca de formação voltada ao marketing digital, para atuar na internet, seja com a prestação de serviços a outros seja com a venda de produtos. “São pessoas buscando cursos na área, buscando se especializar”, afirmou.
Espírito
O jovem empresário Pedro Henrique de Melo Santos, do Rei Doces, se encaixa bem no perfil empreendedor da nova geração. Hoje, ele comanda uma empresa que emprega 17 pessoas. E para chegar aonde chegou, a palavra de ordem é disciplina e muito trabalho. “É preciso economizar, juntar dinheiro, trabalhar mais e mais. Ser muito focado. Sempre tive esse espírito empreendedor, vejo as oportunidades e aproveito”, disse.
A história de Pedro com o empreendedorismo começou cedo, aos 15 anos. Tudo porque ele queria comprar um celular. E conseguiu, juntou R$ 4 mil vendendo trufas na escola. Depois disso, veio a vontade de comprar um notebook, mais R$ 4 mil. Daí surgiu seu maior sonho, fazer um intercâmbio, para o que precisaria de R$ 35 mil. “Terminei a escola, mudei da casa da minha para um apartamento e fui juntando o dinheiro, vendendo trufas e bombons”, conta.
Nesse período, as vendas foram crescendo e foi preciso começar as contratações. Ao mesmo tempo, chegou a pandemia e os planos de viajar foram suspensos. Pedro decidiu mudar para uma casa, montou um showroom, uma vitrine e as vendas cresceram ainda mais. “Senti a necessidade de mudar para um lugar ainda maior e montei minha loja em fevereiro”, disse.
Entidades representativas
Rio Preto tem ao menos duas entidades que reúnem jovens empreendedores, o Núcleo de Jovens Empreendedores, da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp), e o Lide Futuro Noroeste paulista, braço jovem do grupo Lide Noroeste Paulista. Os dois ambientes são voltados tanto à formação quanto ao relacionamento entre os participantes.
Atualmente, o Lide Futuro tem 105 filiados com idade média de 32 anos. Podem se filiar jovens empreendedores ou em sucessão familiar com idade entre 20 e 42 anos. O objetivo é se reunir para aprender, trocar experiências, fazer networking e gerar novos negócios. “Os jovens têm seus amigos de baladas, religião e outras redes sociais, mas o Lide dá a oportunidade de ter os amigos de negócios e estar se atualizando na profissão constantemente”, afirma o presidente do Lide, Marcos Scaldelai.
Segundo a vice-presidente do Lide Futuro, Jerusa Menegaldo Silva, da J.Silva Paineis, o empreendedorismo jovem em Rio Preto é fundamental para o desenvolvimento da economia da região. “Me surpreende a capacidade de inovação das pessoas, que estão profissionalizando os negócios cada vez mais jovens, o que tem tudo para crescer”, afirma.
A diretora do NJE, Samara Crismarques, traz algumas dicas par os jovens que desejam empreender. A entidade reúne 20 jovens atualmente. A primeira é procurar por espaços que falem sobre educação empreendedora para conhecer as ferramentas necessárias; estruturar a ideia de negócio e conhecer muito bem a demanda de mercado. “Um jovem empreendedor precisa ser ensinável porque ele sempre terá que aprender algo. Além de ser dinâmico, terá que ter agilidade nos momentos que necessitem de mudanças bruscas”, afirma.
Outra característica, importante, afirma Samara, é ter capacidade de se reinventar, objetivo e planejamento bem definidos. Entre os desafios ela cita ter que lidar com a limitação de recursos financeiros para colocar em prática o seu negócio, além das burocracias legais e a falta de um plano de negócio estruturado. “A maior vantagem de se empreender jovem é que o processo de amadurecimento e aprendizagem começa mais cedo”, afirma. (LM)
Espírito empreendedor
Na casa de Lorraine da Cunha Gomes Silva, conhecida como Flora, o empreendedorismo é de família. Ela, o pai e as duas irmãs são microempreendedores individuais e cada um atua numa área. Flora, 20 anos, atualmente trabalha com artesanatos em resina, mas seu primeiro negócio foi uma loja de roupas online. Ela conta que sua passagem pelo Instituto Valquírias World foi fundamental na sua formação como pessoa e profissional. “A ideia de ter um negócio é a busca por independência, e ainda ajudar o próximo, porque meu trabalho eterniza objetos, de maneira personalizada. Isso é importante para meu cliente e para mim”.
Por enquanto, o empreendedorismo é um complemento de renda, já que a empresária tem um trabalho fixo na área de cursos profissionalizantes e empregabilidade. As vendas ocorrem pelas redes sociais e aplicativos de mensagens. E o dinheiro obtido tem sido investido na própria empresa.
A mãe da maquiadora Lara Olliver 18 anos, é sua inspiração para empreender. Foi com a cabeleireira que ela viu nascer a vontade de ter seu próprio negócio e, por enquanto, é no salão da mãe que atua com extensão de cílios fio a fio. “Abri meu MEI em janeiro deste ano. Foi quando percebi que quero mesmo atuar com beleza, área que gosto muito”, diz.
Lara conta que sua principal motivação é ter flexibilidade de horário, trabalhar para si própria e conseguir sua independência. “O desafio é que não há uma renda fixa, não dá para saber se amanhã vai ter cliente, por isso é preciso correr atrás sempre”, diz. Para isso, ela tem investido em marketing, porque sabe que a divulgação é fundamental. “Minha meta é abrir uma clínica, ter uma boa renda e ainda dar cursos”, conta. (LM)