Diário da Região
RETRAÇÃO NO E-COMMERCE

Compras on-line diminuem 7,3% no primeiro semestre de 2023

Faturamento de pedidos on-line teve queda de 7,3% no primeiro semestre em função de mudanças de comportamento do consumidor; expectativa é que mercado se recupere no segundo semestre

por Lucas da Silva
Publicado em 04/10/2023 às 00:02Atualizado em 04/10/2023 às 08:23
Aline Caritas Moraes buscou alternativas para aumentar as vendas (Arquivo Pessoal)
Aline Caritas Moraes buscou alternativas para aumentar as vendas (Arquivo Pessoal)
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O consumidor tem comprado menos pela internet. É o que revela um estudo publicado pela NIQ Ebit, empresa de monitoramento e-commerce, que mostra queda de 7,3% no faturamento de pedidos on-line realizados no Brasil no primeiro semestre de 2023, em comparação ao de 2022. Segundo o levantamento, agora os consumidores têm se planejado mais antes de realizar compras virtuais. Em números absolutos, houve faturamento de R$ 128,4 bilhões nos seis primeiros meses do ano passado contra R$ 119 bilhões em igual período deste ano.

O primeiro trimestre do ano foi o principal responsável pela retração. Em janeiro, o volume de vendas caiu 5%, seguido por uma queda de 9,8% em fevereiro e de 11,9% em março, o pior mês do ano. Para chegar ao valor, o estudo analisou dados transacionais de compras on-line e resultados de pesquisa de opinião.

Para o professor da Faculdade de Administração e Economia (FEA) da USP Ribeirão Preto Luciano Nakabashi, era esperado que os pedidos on-line caíssem, pois no ano passado o consumidor ainda estava muito acostumado a comprar pela internet, hábito impulsionado pela pandemia de Covid-19. “Aos poucos as pessoas retomaram as atividades presenciais, como trabalho, estudo e lazer, e isso influenciou como e onde comprar”, afirma.

O setor de telefonia, por exemplo, teve queda de 43,1% e o de moda e acessórios retraíram 31,9%. “Antes as pessoas precisavam de internet rápida, pois o trabalho era home office, sendo necessário recorrer ao e-commerce”, completa. Ainda que os pedidos tenham caído, o número de consumidores do mercado on-line cresceu, passando de 49,8 milhões em 2022 para 53 milhões no primeiro semestre deste ano.

Outro fator listado pelo economista foi a alta taxa de juros, que passou o primeiro semestre fixada em 13,75%. “A taxa influencia, sobretudo na queda de compra de bens duráveis, como eletrônicos (-15,9%) e eletrodomésticos (-15,2%). Além disso, esses produtos já tiveram forte venda na pandemia e não precisam ser trocados com frequência”, diz.

Apesar da queda no volume de pedidos, houve aumento no tíquete médio em algumas categorias. O setor de alimentos e bebidas registrou alta de 50,4%, seguido pelo de moda e acessórios (+8,6%) e pelo de telefonia (+5,4%). Um dos motivos apontados pelo estudo foi o comportamento do consumidor, que tem se planejado mais na hora de realizar compras online.

Recuperação

Também houve queda no faturamento de e-commerce dos meses de abril (-10%), maio (-5%) e junho (-2,1%), mas estas foram menos acentuadas que as registradas no início do ano. Segundo o levantamento, esse movimento foi impulsionado por datas comemorativas, como o Dia das Mães e dos Namorados. Tanto que o único setor que registrou aumento no volume de pedidos foi o de perfumaria, alta de 5,8% em comparação a 2022.

No segundo semestre, a tendência é que o mercado se recupere. “O índice mais baixo foi atingido em março e agora vemos um movimento de melhora. O mercado de trabalho está aquecido, a taxa de desemprego e de juros caíram, então esses fatores influenciam um retorno às compras. Entretanto, não devemos ter vendas muito superiores a 2022 ao longo do segundo semestre, apenas um resultado próximo do registrado no ano passado”, finaliza Luciano Nakabashi.

Redes sociais impulsionam vendas

Em Rio Preto, diversos comerciantes têm sentido a queda no volume de vendas e faturamento. É o caso da Aline Caritas Moraes, dona da loja de joias personalizadas Majorie, que teve de buscar alternativas para alavancar as vendas.

“Por sermos uma loja apenas virtual, nossa estratégia foi aumentar o impulsionamento da marca, por meio de propagandas no Instagram e Google Ads. Investimos mensalmente de R$ 5 mil a R$ 7 mil, sendo esse nosso maior custo operacional”, afirma.

Fundada em 2019, a empresa teve forte faturamento durante a pandemia, devido a lives de vendas em redes sociais que, na época, estavam em alta. “Antes, o site era nosso principal canal, mas isso mudou na pandemia. Hoje, nossa vitrine é o Instagram, em conjunto com o WhatsApp e Pinterest”, completa.

Outra estratégia adotada pela empresária foi a criação de um clube de assinatura, similar a um consórcio, no qual há um pagamento mensal durante seis meses, revertido em produtos. “As iniciativas têm dado certo e conseguimos retomar o mesmo faturamento da época da pandemia, com uma base de clientes muito mais ampla”, diz Aline.

Aline acredita que, ao menos para sua empresa, um ponto físico de venda não é essencial, mas ajuda a criar credibilidade. “Hoje estudo a possibilidade de abrir lojas físicas em Rio Preto e em São Paulo, de uma marca expandida da Majorie, que oferecerá também pratarias, bolsas de couro, óculos e acessórios, com foco em personalização”, finaliza a empresária. (LS)

Mudança de comportamento

Dhara Cristina deu uma segurada nas compras; agora tem economizado (Arquivo Pessoal)
Dhara Cristina deu uma segurada nas compras; agora tem economizado (Arquivo Pessoal)

A assessora de vendas rio-pretense Dhara Cristina foi uma das pessoas que mudou o comportamento de compras pela internet. No ano passado ela comprava muito, mas teve que reduzir neste ano. “Meus objetivos mudaram, comecei a fazer um curso e precisei economizar. Além disso, senti que o preço de alguns produtos aumentou”, diz.

Dhara chegava a gastar R$ 250 todo mês somente em supérfluos comprados pela internet, principal gasto reduzido pela consumidora. “Eram produtos para cabelo, acessórios, bijuterias, entre outros. Esse ano, descobri um clube de assinatura de produtos de beleza, onde gasto R$ 89 por mês, somente com o essencial”, completa.

Além dos supérfluos, ela também reduziu a quantidade de pedidos de delivery, movimento que vai ao encontro com um dado revelado pelo estudo, que mostra queda de 34,5% no valor gasto pelos consumidores com alimentos e bebidas. Antes, Dhara fazia ao menos um pedido de delivery por semana, que no final do mês somava mais de R$ 200 gastos no cartão de crédito. Agora, os pedidos estão mais espaçados: de um a dois por mês, que, juntos, totalizam no máximo R$ 100.

“Hoje penso muito antes de comprar, principalmente quando é necessário parcelar. Penso em como esse valor vai impactar minhas finanças, o tempo que vou levar para pagar e se preciso mesmo daquilo. Quase sempre a resposta é não”. (LS)