Número de jovens em busca da CNH diminui 11,6% na região de Rio Preto
Custos dos veículos, da CNH e mudança de cultura explicam fenômeno

Com a pandemia do coronavírus e o preço mais alto para comprar um carro, houve uma redução no interesse de jovens da região de Rio Preto por tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O próprio custo do serviço, entre R$ 2,5 mil e R$ 2,8 mil em Rio Preto, também impacta na decisão. Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) apontam para uma queda de 11,6% do número de pessoas com idade entre 18 e 30 anos que tiraram o documento nos últimos seis anos. De 64.036 mil pessoas habilitadas nessa faixa etária em junho de 2015, o número passou para 56.561 em junho deste ano.
O alto custo para manutenção de veículos, expansão dos aplicativos de carona e a mudança de cultura são apontados como principais fatores para a diminuição do interesse dos jovens por tirar o documento que concede o direito de dirigir. No estado de São Paulo, a queda nessa faixa ficou em 10,5%.
“Fatores culturais e econômicos influenciam o perfil dos motoristas com o passar dos anos. Hoje temos uma geração que se preocupa mais com a questão ambiental e a facilidade oferecida pelos aplicativos de transporte. Os jovens hoje têm outras expectativas. Essa discussão sobre mudanças dos modais é mundial”, ressalta o diretor-presidente do Detran de São Paulo, Neto Mascellani.
A estudante Gabriella Masson dos Santos, 20 anos, é uma das jovens da região que resolveram não tirar CNH. “São vários os fatores que me levaram a não querer tirar. Primeiro, não tenho vontade, segundo por questões financeiras e terceiro o lado psicológico. Isso porque dirigir no trânsito de Rio Preto requer condições psicológicas”, destacou.
Quem também ainda não tirou a CNH e não tem previsão é o estudante Diogo Oliveira, de 26 anos. “Não sou a pessoa com maior vontade de dirigir, fora que também pesa a questão financeira. Quando fiz 18 anos, por exemplo, não tinha a condição de meus pais pagarem para mim. Foi quando escolhi por estudar no lugar de tirar a CNH”.
Para o especialista em trânsito Renato Campestrini, essa tendência de redução do interesse de jovens pela CNH ocorre em todas as regiões do país, diante de uma nova visão da mobilidade urbana. “O uso do modo de transporte coletivo, do modo ativo e o transporte compartilhado através de plataformas de aplicativos são alternativas para se deslocar sem a necessidade de investir recursos em um veículo motorizado ou ainda, contribuindo com o meio ambiente com o uso de modos de transportes menos poluentes. Com o advento da pandemia da Covid-19, alguns, com medo do contágio, passaram a rever esses conceitos”, afirmou.
O diretor da Associação Brasileira de Medicina do Trabalho (Abramet), José Montal, afirma que alterações culturais e comportamentais tiraram do automóvel o apelo que o tornou objeto do desejo de várias gerações de jovens que chegavam na idade em que podiam se habilitar como motorista. “O conceito que os jovens têm hoje do transporte leva mais em conta a questão da mobilidade, muitas vezes privilegiando outros modais mais saudáveis, como a bicicleta e o pedestrianismo”.
Diminuição em outras idades
Com a facilidade de locomoção através dos aplicativos de carona e o preço dos combustíveis lá em cima, ao mesmo tempo que menos jovens querem tirar CNH, também cresce o número de pessoas mais velhas deixando de ter um carro na garagem. “A gente também enxerga essa mudança na outra ponta, com mais pessoas que diminuíram o número de veículos ou que não tem veículo nenhum. Tanto por conta da facilidade que temos hoje em dia, mas também em relação ao custo e sustentabilidade”, disse o diretor-presidente do Detran, Neto Mascellani.
O custo para tirar CNH – entre R$ 2,5 mil e R$ 2,8 mil em Rio Preto – e a correria diária também são fatores que explicam a diminuição pela procura do documento. “Cada vez mais se difunde os conceitos de cidades de 15 minutos, mais compactas, conectadas, coordenadas, em que as pessoas podem realizar suas tarefas em distâncias percorridas nesse período de tempo, o que pode levar alguns a também a abrir mão de uma CNH ou um veículo”, diz o especialista em trânsito Renato Campestrini. (RC)