Micro e pequenas empresas brasileiras enfrentam aumento nos custos e mercadorias
Pesquisa mostra que a alta no preço das mercadorias e os sucessivos aumentos nos combustíveis têm sido os fatores que mais têm pressionado os custos dos pequenos negócios

Responsáveis por grande parte dos empregos em todo o País e também por fazer girar a roda da economia, as micro e pequenas empresas têm enfrentado momentos difíceis. Não bastasse a queda no consumo – motivado pelo desemprego e pela redução da renda – agora é preciso lidar também com a inflação. A 12ª edição da Pesquisa de Impacto da Pandemia nos Pequenos Negócios mostra que a alta no preço das mercadorias e os sucessivos aumentos nos combustíveis têm sido os fatores que mais têm pressionado os custos dos pequenos negócios.
Segundo a pequisa realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), os gastos com insumos, mercadorias e combustíveis foram citados como os que mais impactam os negócios por 63% dos microempreendedores individuais (MEI) e por 61% das micro e pequenas empresas. Se somar a esses números as despesas com gás e energia elétrica, eles sobem para 76% para os MEI e 77% para as MPE. Custos com aluguel foram citados por 13% dos MEI e por 15% das MPE.
Realizada entre o fim de agosto e o início de setembro com 6.104 respondentes de todos 26 Estados e do Distrito Federal, a pesquisa reflete também o que passam os microempresários de Rio Preto que, de acordo com o Mapa das Empresas, ferramenta do Ministério da Economia, reúne 64,7 mil empreendedores do tipo.
A empresária Jubelina Chaves, proprietária do Empório Manfrim, que vende produtos naturais, conta que o principal impacto vem sendo a alta nos preços dos produtos que vende – a maior parte importada e, portanto, atrelados ao dólar. As castanhas, por exemplo, tiveram alta entre 15% e 20% nos últimos quatro meses. O custo do frete – em função do aumento dos preços dos combustíveis – teve reajuste da ordem de 10%. “Não dá para repassar tudo, senão a venda fica inviável, ainda que seja a granel. Tento absorver parte do reajuste e ganhar um pouco menos”.
Para driblar as despesas, Jubelina tem optado por cortar gastos, especialmente no consumo de energia elétrica, água e horas extras, tudo também para poder poupar os empregos. Ela emprega 11 pessoas em duas lojas e um depósito para os produtos. “Também temos cotado os insumos como sacos plásticos, embalagens, etiquetas e materiais de limpeza com outros fornecedores, que oferecem melhores preços.”

O empresário Eduardo Ola Ribeiro, sócio do irmão Elio Ola Ribeiro na Solar Mundo, empresa que presta serviços e vende produtos voltados à energia solar, diz que os maiores custos atualmente são relacionados à locomoção, em função da alta dos combustíveis.
Em Rio Preto, o litro da gasolina chega a R$ 6,09 e o do etanol, a R$ 4,80. “Gastávamos R$ 500 por semana e agora gastamos R$ 1 mil. Temos dois carros de serviço. Iríamos comprar mais um, mas decidimos colocar mais um funcionário por carro e não fazer a compra”, explicou. Ele também comprou uma carretinha para transportar equipamentos ao invés de outro automóvel.
Segundo Eduardo, os custos dos materiais utilizados na instalação das placas fotovoltaicas chegaram a dobrar, como é o caso de fios, do cobre e alumínio. “Não conseguimos repassar toda a alta, então absorvemos parte do prejuízo”.
O que favorece o negócio de Eduardo é que o nicho que atua com energia solar está em expansão em função da própria crise hídrica e do custo da energia elétrica. “A alternativa é enxugar os custos ao máximo. Como o negócio está em alta, conseguimos equilibrar as contas”, afirmou.
Menores sofrem mais
Redução no consumo, inflação e falta de acesso ao crédito. Essas as principais dificuldades enfrentadas pelas micro e pequenas empresas no País atualmente. “Um terço da força de trabalho no País não tem trabalho. E se não tem renda, não tem consumo. Quem acaba sofrendo mais são as pequenas empresas”, afirma o professor de economia da Faculdade de Economia da USP Paulo Feldman.
Além desse aspecto, ele destaca que quando ocorre o aumento no custo de um item que a empresa precisa vender ou serviço a prestar, ela não pode repassar porque já está com problemas de venda. “Se aumenta o preço, aí que não vende. Então ela tem perda porque não passa para a frente a inflação que recebe.”
Nesse mesmo cenário complexo, ele cita a dificuldade que as menores empresas ainda têm no País para acessar o crédito, mesmo o programa Pronampe, criado pelo governo para ajudar na superação da crise imposta pela pandemia. “Esse dinheiro fica parado porque os bancos não querem emprestar”. (LM)
Despesas na ponta do lápis
Observar os custos é fundamental para as empresas enfrentarem esse momento, afirma Wagner Jacometi, consultor de negócios do Sebrae. “O empresário deve olhar para seus custos e verificar o que pode reduzir ou cortar”.
O especialista explica que o empresário deve calcular qual será o impacto dos aumentos no valor das mercadorias, do aluguel, da energia elétrica e dos combustíveis sobre os resultados da empresa. “O ideal seria repassar, mas nem sempre isso é possível”. Por conta disso, o empresário deve avaliar as alternativas para aumentar vendas e buscar o mesmo faturamento.
Segundo o contador João Elias Martins, no final, quem acaba sofrendo mais é o consumidor. “Para o empresário, ocorre a perda da sua rentabilidade. A empresa deixa de ser lucrativa como era antes, o que o força a rever custos.”
Ainda como alternativas para tentar enfrentar as altas com menos prejuízo, ele sugere a busca por processos mais eficientes, equipamentos que gastem menos energia e outras logísticas de entrega que possam baratear os custos. (LM)