Jovens com até 25 anos são 12,8% dos endividados em Rio Preto
Mensalidade, moradia, transporte, consumo: despesas do dia a dia pesam e levam jovens ao endividamento em Rio Preto; são 6,6 mil inadimplentes, o que representa 12,8% do total

Rio Preto tem hoje 51,8 mil consumidores endividados. Desse conjunto, uma parcela relevante – 12,8%, é formada por jovens de até 25 anos, o que representa 6,6 mil inadimplentes. São pessoas que acumulam 13 mil dívidas, num total de R$ 9 milhões. É o custo com a mensalidade da faculdade, com a moradia, com o transporte, com a a alimentação e o peso do consumo em geral. Os dados fazem parte do levantamento do SPC, da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp).
A situação financeira foi agravada pelos impactos da crise gerada pela pandemia de coronavírus: desemprego em alta, redução da renda, e dificuldade de reinserção no mercado de trabalho. Some-se a essa equação, a falta de educação financeira, que reflete na vida dos brasileiros desde a mais jovem faixa etária.
"São vários os fatores que determinam essa situação. Essa faixa etária entre 18 e 25 anos é onde estão o maior número de desempregados no Brasil e, também boa parte das pessoas que não estudam e nem trabalham. Em função disso, a tendência é de não assumir os compromissos financeiros e criarem dívidas por não conseguirem pagar”, explica o economista Hipólito Martins Filho.
Segundo o especialista, não se trata de um número baixo, mas também nem tão elevado dadas às circunstâncias da pandemia. “É preciso tomar os devidos cuidados para não virar uma bola de neve e aumentar cada vez mais. Ter o nome num banco de dados acaba complicando a vida do jovem: ele deixa de poder fazer um financiamento de um imóvel ou de um carro”.
Maturidade
Para a mentora financeira Juliana, a falta de maturidade dos jovens também contribui para que haja problemas relacionados ao endividamento. “Hoje em dia tem crédito abundante: limite, cartão de crédito, mas não tem emprego, daí a dificuldade de pagar”.
Segundo ela, 80% das dívidas estão atreladas ao cartão de crédito, meio muito fácil de consumo. “Existe o desejo de comprar, só que não consegue manter o desejo”, afirma.
O economista reforça a necessidade da educação financeira no Brasil. “Por ser um país que vivenciou uma inflação violenta por várias décadas – só começando a melhorar a partir do Plano Real – não se criou a cultura de educação financeira. Ou seja, o jovem chega à idade de trabalhar e começar a construir o futuro sem essa noção básica de planejamento financeiro”, afirma.
E a educação financeira está intimamente ligada às questões emocionais. “É preciso controlar as emoções, entender que o consumo não vai, necessariamente, resolver o vazio interior ou as questões sociais”, disse Juliana.
E para chegar a essa etapa faz parte, de maneira prática, aprender a fazer compras, a consumir, aprender a se planejar para os pagamentos e entender quanto pode ser comprometido da renda. “Não pode haver uma restrição de consumo, mas planejamento.”
Para quem está com problemas, o primeiro passo é fazer uma avaliação das dívidas e checar a taxa de juros para buscar negociar com o credor. “Essa negociação precisa ser feita de acordo com a parcela que é possível ser paga pelo jovem. E, colocá-la no planejamento financeiro e honrar esse compromisso”, afirmou.
(Colaborou Júlia de Britto)
Saiba mais
Por que os jovens estão se endividando?
- Falta de maturidade para gerir o próprio dinheiro
- Impulsos consumistas
- Facilidade em obter crédito
- Falta de educação financeira
Com o que os jovens têm que tomar mais cuidado?
Crediário/Cartão de Crédito/Financiamento: Mesmo que venha a fazer parcelamento de alguma compra - seja no cartão, no cheque, boleto bancário, cartões de lojas – é preciso ficar atento se a parcela vai caber no bolso durante todo o tempo do parcelamento. E lembre-se: toda parcela tem juros. Paga mais caro quem compra a prazo.
O que fazer para melhorar os resultados financeiros?
Receitas: Saber exatamente quanto ganha por mês (mesada, salário, bolsa de estudo, etc)
Despesas: Listar todas as coisas com que costuma gastar (transporte, alimentação, roupas, sapatos e sapatos, baladas, cursos, ajuda em casa, etc)
Gastos fantasmas: Durante um mês, diariamente, anotar cada centavo que gastou com cada uma dessas coisas. Isso vai ajudar a perceber com o que gasta mais e menos e que tipo de gasto anda exagerado
Metas financeiras de curto, médio e longo prazos: Pensar em três principais desejos que dependem de dinheiro, sendo um deles para realizar daqui a um ano, em até dez anos e para mais de dez anos.
Devedores 51,8 mil
Dívidas 113.161
Valor das dívidas R$ 79,9 milhões
Dívidas por faixa etária
- Até 25 anos
- 6.647 pessoas
- 12,8% do total
- 13.050 dívidas
- R$ 9 milhões
Fontes – Mentora financeira Juliana Campos e Acirp
Gastos conscientes

A estudante de engenharia ambiental Isabella Ferreira, 19 anos, é rio-pretense e acabou de se mudar para São Paulo para começar a vida universitária. Ela conta que, para evitar problemas com dinheiro e como uma forma de usá-lo de maneira correta, decidiu investir em educação financeira.
“Eu já reconhecia que minha relação com o dinheiro não era consciente. Eu recebia uma mesada e não sabia para onde o dinheiro ia. Se tivesse guardado, poderia ter aproveitado melhor”, afirmou.
E como agora vai viver as primeiras experiências controlando seu dinheiro, Isabella está aprendendo a usá-lo de maneira mais inteligente, entendendo o valor das coisas e como gastá-lo. Tenho cartão de débito e crédito, sei como é fácil se descontrolar”, disse. Além disso, já está estudando uma forma de gerar renda por meio do seu próprio negócio. “Meu objetivo é, ao sair da faculdade, ter independência financeira até um ano depois”, disse. (LM)
Sem novas dívidas no cartão
Antes de conhecer a organização financeira, a estudante de direito Patrícia Oliveira, 20 anos, tinha dívidas com o cartão de crédito. Ela, que é estagiária, afirma que já chegou a dever R$ 5 mil, resultado de gastos com roupas, sapatos, viagens e idas ao barzinho próximo à faculdade. “Eu tinha a bolsa estágio como renda, mas era pouco, então meu pai me ajudava. Eu estava enlouquecendo e sem saber o que fazer: tudo que eu ganhava era para pagar dívida. Não gosto nem de lembrar”, recorda.
Para resolver o problema, Patrícia resolveu aprender a lidar com suas finanças, descobrindo no processo que o descontrole nos gastos tinha influência emocional. “A educação financeira cuida do nosso emocional. No final das contas, percebi que o que eu tinha era baixa autoestima”.
Ela conseguiu eliminar a dívida e começou a poupar. “Aprendi a usar o cartão de crédito, a fazer o planejamento financeiro e a resolver meu problema emocional com o dinheiro. Negociei e dividi o débito para pagar por mês e resolvi minha dívida. Hoje já tenho R$ 14 mil na reserva de emergência”. (LM)