Inflação tem feito os brasileiros mudarem hábitos alimentares
Inflação do grupo de alimentos mais consumido pela população em casa registrou alta de 23,5% no último ano, no Brasil; tomate foi o maior destaque no período, com alta de 126,80%

A inflação do prato acumula alta de 23,5% no último ano, o que tem feito os brasileiros mudarem hábitos alimentares e ficarem de olho nas promoções para não abrir mão de nutrientes. Nesse grupo, o tomate foi teve o maior destaque, já que registrou aumento de 126,80% no período.
As constatações – sentidas por todos que vão aos supermercados, hortifrútis ou açougues – integram estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Segundo o economista e pesquisador Matheus Peçanha, esse recorte vem sendo feito desde 2020 e, de lá para cá, o que se observa é uma aceleração nos preços dos alimentos. “Essa cesta de produtos tem acumulado alta e acelerado”, afirmou.
Os números fazem parte do Índice de Preços ao Consumidor - Mercado (IPC-M) e mostram como os alimentos têm exercido peso sobre a inflação. No período de abril de 2021 a abril deste ano, enquanto o custo do prato feito acumula alta de 23,53%, a inflação pelo IPC-M foi de 10,37%.
Em igual período anterior, a inflação do prato feito era de 22,91% e a inflação batia em 6,08%. “A inflação geral mais que dobrou e os alimentos seguiram no mesmo ritmo de alta”, afirmou.
Segundo Matheus, a inflação no País é pressionada por problemas na produção, que sofreu seca recorde no ano passado, geada e depois chuvas em excesso. Todas essas mudanças climáticas contribuíram para impactar nos alimentos. “Agora vemos um reflexo forte nos hortifrútis, como tomate e cenoura se tornando artigos de luxo”, disse.
Dos dez os itens que formam o prato feito – nome dado para esse grupo de alimentos consumidos em domicílio, em especial para fazer a marmita do dia a dia –, apenas dois não tiveram aumento nos últimos 12 meses. As reduções de preço foram observadas no arroz (-10,50%) e no feijão preto (-3,40%).
Além do tomate, que liderou as altas, os destaques são a batata-inglesa (44,65%), alface (32,05%) e frango em pedaços (21,10%). “Além das questões climáticas, há ainda a taxa de câmbio valorizada, que incentiva as exportações, e a própria demanda chinesa, que também acelera as exportações”, disse.
O índice de difusão da inflação está em quase 100%, ou seja, a grande parte dos produtos subiu. O arroz e feijão foram exceções no período, pois atingiram alta recorde no ano passado. Em 2021, o feijão-preto havia registrado alta de 61,65% e o arroz, de 55,36% no mesmo período.
No caso das proteínas, a pressão de preços se mantém e agora atinge o frango, que registrou alta de 11,82%. O frango é o primeiro substituto da carne bovina. Os ovos ficaram 11,32% mais caros no período.
E se há uma pressão generalizada sobre os preços dos alimentos, resta aos consumidores mudar os hábitos alimentares, fazer as substituições necessárias e tentar compensar os nutrientes. “O que resta é consumir o que está subindo menos, já que a inflação está bem disseminada”, afirmou Matheus.
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De olho constante nas promoções
E quando se trata de alto custo dos alimentos mais consumidos no dia a dia, não apenas os trabalhadores sofrem com essa pressão, mas também quem tem negócios ligados à alimentação.
É o caso da nutricionista Natália Cristina Menoya, que montou a Tia da Cozinha Marmitaria em fevereiro, no bairro Residencial Palestra, em Rio Preto. “Fiz o curso de gastronomia e sempre tive vontade abrir meu restaurante, mas com a pandemia resolvi começar a marmitaria para poder expandir depois”.
Desde que montou o negócio, a estratégia tem sido acompanhar os preços praticados em supermercados, açougues e mercearias para não perder as promoções. “Trabalho antecipadamente. Decido o cardápio no dia anterior, de acordo com as promoções desses lugares”, afirmou.
Mesmo ligada às ofertas, a microempresária já precisou reajustar os preços em 5% desde que começou a trabalhar. “Não está sendo fácil. Acabo colocando opções mais elaboradas a cada dez, 15 dias. Também gostaria de colocar carne bovina como opção todos os dias, mas não tem dado. O que mantenho é o legume”, disse.
Para ajudar no incremento das vendas e assim equilibrar os custos, Natália também trabalha com a venda de capuccino em pó e em cápsula. Agora, nesse período mais frio, criou também alguns caldos congelados. “Por enquanto está sendo um complemento de renda, mas pretendo fazer um fundo de caixa para o restaurante”. (LM)