Com aumento no preço da carne, rio-pretense gasta quase o dobro para fazer churrasco
O valor médio dos cortes de carnes mais populares na churrasqueira acumula alta de 98% desde outubro de 2016 em Rio Preto; no mesmo período, o salário mínimo subiu apenas 25%

Uma das paixões do brasileiro, o churrasco está mais caro e isso não é novidade. O que é perceptível aos olhos e sentido no bolso se confirma em números. Com o aumento no preço das carnes bovina, suína e de frango, o rio-pretense passou a gastar quase o dobro para assar a mesma quantidade de carne que em outubro de 2016. Nos últimos cinco anos, o preço médio das carnes preferidas para ir à churrasqueira subiu 98%. Enquanto isso, o salário-mínimo aumentou 25% no mesmo período. Há cinco anos, o mínimo era R$ 880 e atualmente é de R$ 1,1 mil.
Para se ter uma ideia, há cinco anos, o preço médio de um quilo de contrafilé era R$ 24,49 nos açougues de Rio Preto, de acordo com levantamento da coluna Economize, do Diário. Na última pesquisa, realizada em outubro deste ano, o preço médio do mesmo corte saia por R$ 47,95 – alta de 95%.
Carne mais nobre, a picanha apresentou variação ainda maior. Atualmente, o preço médio pago pelo quilo da carne é de R$ 68,95. Há cinco anos, era possível comprar o mesmo produto pelo preço médio de R$ 33,95 – uma alta acumulada de 103%.
O mesmo ocorreu com carnes suínas e de frango. No período, a panceta suína teve variação de 123% e a linguiça toscana apresentou uma alta acumulada de 70%. Já a asa de frango e a coxa temperada tiveram altas de 65% e 58%, respectivamente.
Pesquisador de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, Thiago Bernardino de Carvalho afirma que o atual preço da carne bovina ocorre pela baixa oferta no campo. Ele explica que isso é um reflexo da crise econômica de 2016, que fez o preço da arroba do boi gordo cair após um período de altos investimentos no campo. Esse movimento acabou motivando um abatimento grande de fêmeas nos anos seguintes. “Como o ciclo produtivo do boi é de quatro anos, isso causou uma baixa oferta no campo”.
No entanto, a partir do fim de 2019 a China passou a importar grande volume de carne brasileira, o que continuou mesmo com a chegada da pandemia. “Houve um abate muito grande de fêmeas que provocou uma baixa na produção, momento que coincidiu com um grande comprador entrando. Houve uma corrida de investimentos e elevação de custos para produção por causa da falta de chuvas. Tudo isso é um quebra-cabeça para entendermos o preço elevado da carne”.
Mesmo com a suspensão do envio da carne para a China, o preço da proteína continua em alta, pressionada pelos custos na produção e pela alta demanda. Isso porque cerca de 70% do que é produzido no País é consumido internamente.
Por consequência, o aumento no preço da carne bovina acaba refletindo nos valores das outras carnes, argumenta o pesquisador. Isso ocorre porque elas passam a ser alternativas no prato. “O brasileiro tem preferência pelo consumo de carne bovina, mas, por outro lado, ele vê no frango uma alternativa de uma carne mais barata e de maior facilidade de preparo”. Maior consumo de frango pressiona os preços. Além disso, o milho, que representa metade dos custos de produção do frango, subiu devido à cotação do dólar.
“Já a carne suína depende muito da precificação da carne bovina e da carne de frango. Se as outras duas sobem, ela passa a entrar mais na dieta do brasileiro. É um mercado que não está muito na preferência do brasileiro, então ele depende do movimento das exportações e do preço das demais carnes”.
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Churrasco agora, só na sacolinha

Parece improvável, mas houve um tempo em que o anfitrião fazia questão de bancar o churrasco como forma de agradar os convidados durante uma ocasião especial. Mas já há algum tempo, a nova convenção social dita que cada um deve levar sua porção de carne para contribuir com o churrasco e assim pesar menos no bolso.
O que houve foi uma mudança no comportamento dos consumidores, afirma o empresário José Carlos Viale, proprietário do Frigorífico JC. Há 18 anos no ramo de açougue, ele conta que a procura por tipos de carne para churrasco continua, apesar de ter apresentado queda durante a pandemia (média de 30%). A diferença é que agora a porção levada por cliente diminuiu.
“Antigamente se fazia churrasco em casa e uma ou duas pessoas ficavam responsáveis em comprar a carne para a festa. Agora, isso foi dividido. Cada um vem e busca meio quilo de um tipo para dar uma diversificada”, conta.
No balcão, a preferência dos clientes também mudou. Segundo o empresário, por causa da alta de preços, os cortes mais em conta são os mais buscados. “Acontece muito de os clientes chegarem no balcão e começarem a discutir qual carne levar. Ninguém quer comprar carne boa e chegar no churrasco e comer as mais baratas”.
Para que o churrasco seja democrático, o estudante José Luis Tofanin Neto, 24 anos, e os amigos adotaram uma estratégia. Em vez de pedir para que cada leve sua porção, eles juntam o dinheiro para que a compra seja feita de uma vez só. “É um tipo de sacolinha diferente, desse jeito a gente decide em conjunto e consegue dividir tudo”, conta.
É que se cada um não contribuir, dificilmente o churrasco sai. E como assar carne acaba sendo um pretexto para a reunião, o esforço acaba valendo a pena. “O churrasco nem é só pela carne. É uma questão de se reunir para interagir com o pessoal. Por isso, a gente até diminui a quantidade, mas não fica sem”, comenta. (FN)