Diário da Região
CULPA DA GASOLINA

Atendimento em domicílio fica mais caro em Rio Preto devido à alta dos combustíveis

Reajustes nos preços dos serviços chegam a 25% em Rio Preto

por Da Redação
Publicado em 03/12/2021 às 21:55Atualizado em 04/12/2021 às 07:39
Suellen Chiareli tem evitado endereços mais distantes (Arquivo Pessoal)
Suellen Chiareli tem evitado endereços mais distantes (Arquivo Pessoal)
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O aumento no preço dos combustíveis tem impactado diretamente a vida de quem presta serviços em domicílio em Rio Preto. Sem alternativas para driblar os aumentos de preços, os trabalhadores autônomos não possuem outra opção senão aumentar o valor da mão de obra. Tem casos de aumento de até 25% no custo e a consequência é a redução na quantidade de serviços que o profissional consegue ao longo do mês.

De janeiro até outubro deste ano os combustíveis ficaram em média 36,9% mais caros, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O último aumento foi realizado pela Petrobras e ocorreu no dia 25 de outubro, quando o valor da gasolina foi reajustado em 7%. Em Rio Preto, o litro do combustível já é encontrado por R$ 6,399. O litro do etanol está saindo por até R$ 5,399.

Depois de meses mantendo o mesmo preço do serviço, a cabeleireira Amanda Ribeiro dos Santos foi obrigada a aumentar o valor. O corte de cabelo, que custava R$ 40 passou a R$ 50, uma alta de 25%. “Meu lucro estava diminuindo, mas mantinha o mesmo valor. Há dois meses tive que reajustar e, desde então, o número de clientes diminuiu. Em outros anos, o mês de novembro costumava ser bem movimentado e, neste ano não foi”.

Amanda atendia seus clientes em um salão próprio, mas, com o início da pandemia, teve que fechar o local e passou a atender em domicilio. “Em março fechei temporariamente e esperei por quatro meses para reabrir, mas os casos de Covid-19 só aumentavam. Então tive que fechar oficialmente o local e vender alguns móveis para me preparar para atender em domicilio”.

No início era mais vantajoso ir até a casa dos clientes para atendê-los. “Apesar do gasto com deslocamento, eu deixei de pagar água, luz e o aluguel do salão.” Entretanto, com as sucessivas altas dos combustíveis, essa despesa passou a pesar mais. Ela usa aplicativos de transporte para ir de um cliente ao outro. “Hoje não está compensando tanto usar os aplicativos de locomoção, pois com os aumentos dos combustíveis, as corridas também aumentaram. Além disso, muitos motoristas deixaram de trabalhar na plataforma, o que encareceu ainda mais o custo da viagem e aumentou o tempo de espera.”

Com a diminuição dos casos de Covid-19 e reabertura de todas as atividades presenciais, Amanda pensa em retomar o atendimento em salão próprio. “O deslocamento, além de ser cansativo, não está dando tanto lucro quanto tinha antes da pandemia. Ainda não estou pagando para trabalhar, mas o custo está próximo do meu lucro”.

Cálculos bem feitos

Para o economista José Mauro da Silva, o trabalhador autônomo precisa medir todos os gastos para que não fique no prejuízo. “É uma contabilidade que deve ser realizada constantemente: Quanto que gastou de verdade? Quanto que ganhou de verdade? Precisa-se ter um controle rigoroso de todos os custos, pois se ficar segurando o valor dos combustíveis, passará a pagar para trabalhar.”

José Mauro explica que, apesar do Brasil ter petróleo suficiente para abastecimento próprio, há falta de refinarias para separar e tratar o composto, sendo necessário envia-lo para outros países. “Isso internacionaliza o produto fazendo com que ele fique preso ao valor do mercado internacional. Há perda da autonomia do preço dos combustíveis”.

(colaborou Lucas Amancio)

Mudança no modo de atendimento

A designer de sobrancelha e cílios Suellen Chiareli faz atendimentos em domicilio e foi afetada pela alta dos combustíveis. Ela passou a negociar com os clientes os locais em que realiza os trabalhos. “Tenho deixado de atender alguns endereços distantes. Também comecei a chamar os clientes que moram perto para vir até minha casa. Evito ao máximo tirar meu carro da garagem e só vou aos locais com maior distância se for algum trabalho com custo mais alto”.

Entretanto, a mudança no modelo de atendimento não foi o suficiente para driblar os aumentos nos custos de locomoção e Suellen precisou subir o preço do serviço prestado. “Tive que aumentar o valor do meu trabalho em 15%, pois além do custo dos combustíveis, o material de trabalho também aumentou”.

A designer afirma que o reajuste no preço não agradou parte de seus clientes, mas que, como já estavam fidelizados, não deixou de atender nenhum deles. “Algumas pessoas não aceitaram bem os novos preços, mas como já conhecem meu trabalho, continuaram comigo.”

Redução

A estudante Julia Eloiza Soares Barduco fazia uso de serviços a domicilio com frequência, mas diminuiu a quantidade de vezes que os contrata. “Eu fazia a unha pelo menos uma vez por semana, agora estou fazendo a cada duas. Também cortei meu cabelo e deixei ele na cor natural, para não ter mais esse gasto. Quando preciso fazer algo nele, como escova, faço sozinha em casa”.

Chiareli tem buscado maneiras de economizar na hora de abastecer, como por exemplo, ir sempre ao mesmo posto de combustível de confiança e com melhor preço. “Percebi que o combustível em um posto que vou é melhor do que outros, pois está rendendo mais por litro, então tenho abastecido somente nele”. (LA)

Definição de rota comum

Rodrigues reajustou mão de obra em 15% (Rodrigues reajustou mão de obra em 15%)
Rodrigues reajustou mão de obra em 15% (Rodrigues reajustou mão de obra em 15%)

O setor da beleza não foi o único impactado pelos aumentos no preço dos combustíveis. O técnico especialista de ar-condicionado Ivan Carlos Borges Rodrigues realiza visitas técnicas diariamente à casa dos clientes para fazer orçamentos e manutenções. Os preços do trabalho variam de acordo com a complexidade e localização e custam a partir de R$ 150. O reajuste médio no valor da mão de obra foi de 15%.

Rodrigues tem trabalhado com agendamentos como forma de economizar no deslocamento até a casa dos fregueses. “Para o meu cliente não absorver todos os reajustes sozinho, tenho trabalhado com agendamentos semanais para conseguir adequar minha rota do dia à mesma região, ou seja, otimizando minha logística.”

Outra estratégia é abastecer em postos que oferecem desconto por meio de programas de fidelidade. “Quando vou ao posto procuro sempre pagar com o cartão de crédito, pois com ele tenho recebido cashback”.

O eletricista João Victor Martins de Souza é obrigado a utilizar o carro para trabalhar pois, além da locomoção até a casa dos clientes, também depende do veículo para o transporte das ferramentas . “Uso alicates, chave-inglesa e outros utensílios diariamente, então dependo do meu carro para levá-las. Com o aumento do combustível aumentaram meus custos para trabalhar”.

Souza e Rodrigues compartilham entre si uma vantagem. O setor de consertos continua em alta, mesmo com os reajustes na mão de obra. “Acredito que os clientes sabem o tamanho dos custos e dos gastos que os profissionais autônomos têm. Infelizmente esta é uma realidade que todos precisamos enfrentar juntos”, diz Rodrigues. (LA)