Diário da Região
TRANSPORTE SOB PRESSÃO

Alta do diesel faz transportadoras repassarem custo a clientes na região de Rio Preto

Empresas de logística da região de Rio Preto, impactadas pelos aumentos no óleo diesel e na tabela do frete, ativam dispositivos nos contratos com as empresas para repassar aumentos aos clientes

por Lucas Israel
Publicado em 30/06/2022 às 23:54Atualizado em 01/07/2022 às 08:32
Para uma viagem de ida e volta de Rio Preto a Santos, um caminhão pode consumir até 400 litros de diesel; custo superior a R$ 2,7 mil (Divulgação/Transreal)
Para uma viagem de ida e volta de Rio Preto a Santos, um caminhão pode consumir até 400 litros de diesel; custo superior a R$ 2,7 mil (Divulgação/Transreal)
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As empresas de transporte de carga da região de Rio Preto vivem um momento de pressão, com aumento acumulado neste ano de 37% no preço do óleo diesel e mais o aumento da tabela do frete divulgado nesta semana pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), que varia entre 7% e 10%. Quem trabalha no setor de logística não tem outra alternativa a não ser repassar o valor diretamente para os clientes. Se antes a ferramenta era a negociação, agora, passou a ser o gatilho nos contratos, o que têm impacto direto no custo do transporte e no preço final dos produtos.

O gatilho é um mecanismo que consta nos contratos com as empresas que serve como defesa para que as transportadoras não arquem sozinhas com os aumentos, por exemplo, do diesel, que representa de 40% a 45% do preço de uma viagem. Antes, eram ativados de maneira trimestral. Ou seja, a cada três meses, caso a alta nos preços seja superior a 5%, o valor é repassado de maneira integral aos contratos com as empresas.

“As empresas que firmam novos contratos, ou que estão renovando, analisam as propostas bem de perto, embora a maioria esteja sendo compreensiva e aceita esses repasses. Para ir e voltar de Santos, por exemplo, são 400 litros de diesel, em média. O valor está muito alto”, diz José Luís Appoloni Neto, gerente da Trans Real, de Rio Preto, que comanda uma frota de pouco mais de 150 caminhões.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do litro do óleo diesel em Rio Preto é R$ 6,90. Ou seja, só em combustível o custo da viagem é de R$ 2.760. Segundo o IPCA, a alta acumulada nos últimos 12 meses do óleo diesel é de 52%.

O problema é que com as altas constantes, as transportadoras tendem a mudar o mecanismo novamente. A partir de agora, o gatilho deve ser mensal. Com isso, o consumidor deve sentir o impacto dos custos da logística de maneira direta no custo final do produto.

A transportadora Graneleiro, de Mirassol, por exemplo, somente após o último reajuste dado pela Petrobras no preço do óleo diesel, de 14,2%, acumulou um prejuízo de R$ 600 mil entre o valor pago às distribuidoras pelo combustível e o que foi acordado com as empresas. A equalização destes valores será feita a partir desta sexta-feira, 1º. “Agora a gente vai ter que antecipar o reajuste para que a gente não fique com o prejuízo, ativando um gatilho mensal. Como é um impacto direto sobre os preços da cadeia de logística, não tem como fugir”, afirma o assessor comercial da empresa, Lucas Sevilha.

Desequilíbrio

O problema se alastra pela cadeia produtiva não só na forma do preço do diesel, mas também pelo desequilíbrio no fluxo das cargas. Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São José do Rio Preto e Região (Setcarp), Kagio Miura, os autônomos que prestam serviço às transportadoras pensam duas vezes antes de aceitar uma viagem. “Com o diesel neste valor, muitos autônomos estão parando porque não têm como pagar a viagem. Você tem carga para levar para Santos, de grãos por exemplo, mas não tem a carga para subir (voltar), porque não tem fertilizante, já que a guerra entre Rússia e Ucrânia paralisou a produção”, diz, ao lembrar que há casos de motoristas que esperam até quatro dias em Santos para conseguir carga suficiente para retornar.

Os aumentos são generalizados. Com isso, não é apenas o diesel que preocupa. “Tudo subiu. veículo, pneu, peça, combustível, seguro. O seguro de um cavalo simples, que puxa uma carreta, está em R$ 800 mil”, afirma Appoloni.

Segundo o economista José Mauro da Silva, o problema do transporte é apenas um dos problemas do Brasil. “É um problema estrutural. O preço do diesel, do valor da base do frete, da inflação e os resultados da pandemia, que gerou atrasos na produção e desabastecimento. Não só são as empresas que vêm sentindo isso, mas as famílias, o mundo tem sentido esse problema”, diz.