Alta do diesel faz transportadoras repassarem custo a clientes na região de Rio Preto
Empresas de logística da região de Rio Preto, impactadas pelos aumentos no óleo diesel e na tabela do frete, ativam dispositivos nos contratos com as empresas para repassar aumentos aos clientes

As empresas de transporte de carga da região de Rio Preto vivem um momento de pressão, com aumento acumulado neste ano de 37% no preço do óleo diesel e mais o aumento da tabela do frete divulgado nesta semana pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), que varia entre 7% e 10%. Quem trabalha no setor de logística não tem outra alternativa a não ser repassar o valor diretamente para os clientes. Se antes a ferramenta era a negociação, agora, passou a ser o gatilho nos contratos, o que têm impacto direto no custo do transporte e no preço final dos produtos.
O gatilho é um mecanismo que consta nos contratos com as empresas que serve como defesa para que as transportadoras não arquem sozinhas com os aumentos, por exemplo, do diesel, que representa de 40% a 45% do preço de uma viagem. Antes, eram ativados de maneira trimestral. Ou seja, a cada três meses, caso a alta nos preços seja superior a 5%, o valor é repassado de maneira integral aos contratos com as empresas.
“As empresas que firmam novos contratos, ou que estão renovando, analisam as propostas bem de perto, embora a maioria esteja sendo compreensiva e aceita esses repasses. Para ir e voltar de Santos, por exemplo, são 400 litros de diesel, em média. O valor está muito alto”, diz José Luís Appoloni Neto, gerente da Trans Real, de Rio Preto, que comanda uma frota de pouco mais de 150 caminhões.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do litro do óleo diesel em Rio Preto é R$ 6,90. Ou seja, só em combustível o custo da viagem é de R$ 2.760. Segundo o IPCA, a alta acumulada nos últimos 12 meses do óleo diesel é de 52%.
O problema é que com as altas constantes, as transportadoras tendem a mudar o mecanismo novamente. A partir de agora, o gatilho deve ser mensal. Com isso, o consumidor deve sentir o impacto dos custos da logística de maneira direta no custo final do produto.
A transportadora Graneleiro, de Mirassol, por exemplo, somente após o último reajuste dado pela Petrobras no preço do óleo diesel, de 14,2%, acumulou um prejuízo de R$ 600 mil entre o valor pago às distribuidoras pelo combustível e o que foi acordado com as empresas. A equalização destes valores será feita a partir desta sexta-feira, 1º. “Agora a gente vai ter que antecipar o reajuste para que a gente não fique com o prejuízo, ativando um gatilho mensal. Como é um impacto direto sobre os preços da cadeia de logística, não tem como fugir”, afirma o assessor comercial da empresa, Lucas Sevilha.
Desequilíbrio
O problema se alastra pela cadeia produtiva não só na forma do preço do diesel, mas também pelo desequilíbrio no fluxo das cargas. Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São José do Rio Preto e Região (Setcarp), Kagio Miura, os autônomos que prestam serviço às transportadoras pensam duas vezes antes de aceitar uma viagem. “Com o diesel neste valor, muitos autônomos estão parando porque não têm como pagar a viagem. Você tem carga para levar para Santos, de grãos por exemplo, mas não tem a carga para subir (voltar), porque não tem fertilizante, já que a guerra entre Rússia e Ucrânia paralisou a produção”, diz, ao lembrar que há casos de motoristas que esperam até quatro dias em Santos para conseguir carga suficiente para retornar.
Os aumentos são generalizados. Com isso, não é apenas o diesel que preocupa. “Tudo subiu. veículo, pneu, peça, combustível, seguro. O seguro de um cavalo simples, que puxa uma carreta, está em R$ 800 mil”, afirma Appoloni.
Segundo o economista José Mauro da Silva, o problema do transporte é apenas um dos problemas do Brasil. “É um problema estrutural. O preço do diesel, do valor da base do frete, da inflação e os resultados da pandemia, que gerou atrasos na produção e desabastecimento. Não só são as empresas que vêm sentindo isso, mas as famílias, o mundo tem sentido esse problema”, diz.