Açougues apostam em ‘kit churrasco’ para atrair consumidores
Com a alta nos preços das carnes, açougues apostam na criação de combos que garantem a refeição tradicional, gastando menos


A carne vermelha é um dos alimentos que mais encareceu desde o início da pandemia. De acordo com os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o produto registrou uma alta de 34,28% no acumulado dos últimos 12 meses. No mesmo período, o preço das aves teve aumento de 19% e o da linguiça, uma das principais carnes industrializadas, sofreu reajuste de 24,66%.
Se preparar as proteínas de origem animal dentro de casa durante as refeições do dia a dia já está apertando o orçamento, optar por um churrasco pode pesar ainda mais no bolso. Uma alternativa para quem não abre mão de uma carne assada na brasa é de optar pelos kits de churrasco – porções com quantidade e preço já pré-determinados. O serviço já é oferecido por diversas casas de carnes de Rio Preto.
No Açougue Big Carnes, os kits para churrasco começaram a ser vendidos durante a pandemia por meio de delivery como uma estratégia para atender aos consumidores sem que eles precisassem sair de casa. Atualmente, o serviço representa 25% do faturamento total do estabelecimento, afirma a proprietária Vanessa Russo. “O cliente que optar pelo kit churrasco pode pagar até 5% mais barato do que se pedisse no balcão. Como o giro é grande, conseguimos dar um desconto maior”.
Como a procura cresceu desde o ano passado, o açougue conta com um profissional exclusivo para atender aos pedidos. Depois de selecionadas, as carnes são cortadas e embaladas a vácuo. As opções variam de R$ 50 até R$ 180. “Temos diferentes cardápios, tanto com os cortes especiais quanto com os mais populares”.
Na casa de carnes Sr Filet, os kits foram criados pensando os clientes preocupados com o orçamento e nos que não têm muita experiência na escolha das melhores opções para assar na churrasqueira. “Com o orçamento fechado o cliente tem a segurança de saber quanto vai gastar, o que se torna mais importante com a alta nos preços”, afirma Beto Iglesias, proprietário do estabelecimento.
O serviço também oferece para o consumidor a chance de conhecer diferentes tipos de cortes, que servem como alternativa para aos mais nobres. Como é o caso do kit de chuck beef (R$ 149). “A gente consegue entregar para o cliente um churrasco tão bom quanto, com uma redução de valor e sem perda de qualidade”.
A Casa de Carnes da Mamãe trabalha com a venda de kits de espetos para churrasco há cerca de três anos e atende desde pessoas comuns a pequenos comerciantes. São três opções com valores que variam de R$ 179 (no combo tradicional) a R$ 279 (no pacote prime), sendo que cada combo tem de 4 a 5 quilos e conta com 30 diferentes tipos de espeto.
Segundo a gestora de comunicação da empresa, Gabriela do Val Teixeira, ao optar pelos conjuntos o consumidor chega a pagar um valor 10% menor. “Deixamos os kits prontos e montados, o que demanda menos trabalho. A mão de obra para preparar a carne para o churrasco acaba encarecendo”, diz.
Razões para o aumento
O custo no preço das carnes sofreu um aumento de 1,74% em julho em relação a junho e foi um dos principais itens que contribuiu para a inflação no segmento alimentação no domicílio, segundo dados do IPCA.
Diferentes fatores contribuíram para o aumento no preço da carne vermelha no Brasil desde o ano passado, destaca o economista Hipólito Martins. Um deles é o preço do dólar em relação à moeda brasileira. “A carne é uma commoditie e o preço acompanha o valor do mercado internacional.
Outro ponto que influenciou no encarecimento da proteína é a estiagem, que prejudica a alimentação do gado. Sem o pasto, os pecuaristas precisam investir em ração para alimentar os animais. “Os grãos usados para alimentar o gado também seguem a cotação do dólar”.
A junção desses três fatores fez com que a carne sofresse esse aumento sem precedentes. Esses mesmos fatores também afetam o preço da carne branca e da carne de porco, já que a alimentação desses animais é composta pelos mesmos insumos da ração do gado. “E não há expectativa de que o preço se reduza a curto prazo”. (FN)