Marco para vales derruba ações de empresas francesas na Bolsa
Haddad defendeu medidas adotadas pelo governo federal, enquanto empresas estudam medidas judiciais

As ações das francesas Pluxee e Edenred tiveram em forte baixa na Bolsa de Paris nesta quarta-feira, 12, após o governo brasileiro estabelecer um novo marco para o sistema de vales-refeição e alimentação, medida que, segundo as empresas, pode gerar impacto financeiro.
Na terça-feira, 11, o Brasil anunciou planos de reformular o setor, para aumentar a concorrência. A Edenred disse ter sido surpreendida pelas medidas, sobretudo por mudanças na taxa de desconto cobrada dos estabelecimentos e no prazo de reembolso. Segundo a companhia, que oferece soluções de serviços e pagamentos, os termos diferem significativamente do que vinha sendo discutido com o governo e com a associação do setor.
Se o decreto entrar em vigor, a Edenred projeta que seu Ebitda orgânico de 2026 fique de 8% a 12% abaixo do previsto anteriormente (alta de 2% a 4%). O negócio de vales-refeição e alimentação no Brasil respondeu por 9,5% da receita operacional da Edenred em 2024.
A Pluxee afirmou na segunda-feira, 10, temer que as medidas comprometam a sustentabilidade de longo prazo do programa de alimentação ao trabalhador, alegando maior risco de descumprimento, uso indevido e desequilíbrio de crédito, principalmente com clientes públicos. A companhia disse que avaliará impactos financeiros e eventuais ações mitigadoras quando o decreto completo for publicado. Ambas informaram que estudam possíveis medidas judiciais contra o novo marco.
HADDAD
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira, 12, que as novas regras do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), trazidas em decreto assinado na terça-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, visam a sanar irregularidades.
“O problema do PAT é que o dinheiro foi ficando pelo caminho. Era um dinheiro que deveria ser destinado ao trabalhador — com benefícios fiscais para as empresas que aderissem ao programa — e chegasse à ponta (o restaurante, a padaria, o mercado, o supermercado). O que começamos a perceber é que o dinheiro do PAT começou a ficar na intermediação”, criticou ele, em entrevista a jornalistas na portaria do Ministério da Fazenda.
Ele salientou que a taxa de retorno estava muito elevada e havia um comportamento inadequado do ponto de vista legal. “O rebate, por exemplo, foi proibido, estava sendo feito, constaram inclusive do balanço das companhias, essa devolução de recursos”, exemplificou.
Haddad disse que foram fixadas regras razoáveis após discussão com o setor para o recurso ser destinado à alimentação saudável do trabalhador, ao custo compatível, sem prejudicar o dono do restaurante, o dono do supermercado e assim por diante.
Com relação à escolha da bandeira do cartão, a portabilidade, o ministro disse que algumas questões tecnológicas não puderam ser resolvidas. “Mas tudo que pôde ser resolvido pelo decreto foi resolvido”.
Mais cedo, a Fazenda informou que a regulamentação do programa têm o potencial de gerar uma economia de R$ 7,9 bilhões ao ano, o equivalente a R$ 225 por trabalhador, segundo estimativas da Secretaria de Reformas Econômicas (SRE).