Pandemia do coronavírus faz crescer número de idosos com planos de saúde em Rio Preto
Grupo etário que já paga as mais altas mensalidades pode pagar ainda mais caro nos próximos anos

O medo do coronavírus e o acelerado processo de envelhecimento da população fez crescer o número de idosos com planos de saúde em Rio Preto durante a pandemia. A adesão do grupo etário que já paga as mais altas mensalidades ao contratar o serviço cresceu 7,8% nos últimos quatro anos, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O número de beneficiários a partir de 60 anos passou de 33.939 em 2018 para 36.591 em 2021.
Maria do Carmo Liria Andreu, de 63 anos, foi umas das rio-pretenses que recorreu a um plano de saúde durante a pandemia da Covid-19. “Fiz porque vi o caos que estava o SUS durante a pandemia. Com o sistema sobrecarregado fiquei com receio de não conseguir ser atendida caso fosse infectada. Foi quando enxerguei a necessidade de ter um plano de saúde”, contou.
O aumento de beneficiários idosos também puxou o crescimento total de clientes com planos de saúde, em Rio Preto. De 200.667 beneficiários, em 2018, a cidade passou a ter 211.886. Um aumento de 5,6%. No entanto, o maior crescimento de clientes foi observado na faixa etária dos 40 a 49 anos, que saltou 15% em quatro anos. A explicação está nos planos empresariais que voltaram a reaquecer o mercado em 2021 e representam, em média, 70% dos convênios brasileiros.
“Vários aspectos econômicos ajudam a explicar esse aumento de idosos com planos de saúde em Rio Preto. A primeira é que a cidade está entre os municípios com maior número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil. A segunda é que a renda per capita daqui é maior que a do próprio País. Isso favorece muitas pessoas a terem plano de saúde”, apontou o economista Hipólito Martins Filho.
Custo mais alto
No entanto, o aumento da longevidade também deve fazer os planos de saúde ficarem ainda mais caros nos próximos anos. “Já observamos esse aumento no Brasil e no mundo. O custo per capita de atenção à saúde cresce mais do que a renda das pessoas. Com isso, vai ficando mais difícil pagar as mensalidades do plano”, apontou José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
No Brasil, quanto mais velho, maior o custo dos planos de saúde. Isso porque jovens, em geral, pagam menos, mas ao mesmo tempo usam pouco o serviço, enquanto idosos pagam mais, mas também usam mais os planos. Em Rio Preto, um plano de saúde para idosos chega a ser a ter quatro vezes mais caro do que para jovens de 18 anos.
Além disso, as operadoras de planos de saúde apontam que com uma participação menor de jovens em relação aos idosos como beneficiários do serviço, acontece desajuste no orçamento, o que deve tornar o custo dos planos de saúde ainda mais caro para todos os consumidores nos próximos anos.
“Os custos dos planos refletem os gastos com os serviços de assistência. É natural que o envelhecimento da população demande mais gastos com terapias, procedimentos e internações. Assim como a cobertura de novos procedimentos, a inflação médica e até mesmo o surgimento de epidemias podem influenciar os preços”, explicou Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).
Em Rio Preto, enquanto houve redução de 0,6% do número de beneficiários na faixa etária de 20 a 29 anos, houve crescimento de 9,6% para idosos entre 70 e 79 anos nos últimos quatro anos. “No Brasil, quase 70% dos beneficiários são de planos empresariais. Á medida que as pessoas foram perdendo emprego durante a pandemia, os planos de saúde para os mais jovens também foi caindo”, destacou Cechin.
Famílias revisam planos
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que da mesma forma que ocorreu em Rio Preto, houve um avanço de 5% do número de beneficiários com planos médico-hospitalares no Brasil, entre 2020 e 2021. Além disso, o País ocupa a segunda posição no ranking mundial de beneficiários do serviço, atrás apenas dos Estados Unidos.
“À medida que as pessoas envelhecem vai crescendo a procura por médicos devido a problemas de saúde. Um tratamento de câncer, em uma instituição de boa reputação custa, em média, de R$ 500 mil a R$ 1 milhão. Se a pessoa paga o plano durante 100 anos, não equivale a R$ 1 milhão. Ou seja, o plano não é caro frente às demandas da saúde. Nossa renda que é baixa”, afirmou José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
Viviane Aparecida da Fonseca Morales, 56, sabe a importância de ter um plano de saúde. Desde da década de 90, ela não abre mão de ter o serviço. Porém, com a pandemia da Covid-19, teve que apertar as contas e migrar de cobertura.
“Antes eu conseguia marcar a consulta direto com o médico, agora preciso passar por um clínico geral que me faz um encaminhamento. Foi uma forma de continuar por que não ter o serviço me deixa em pânico. Ainda mais durante a pandemia”, relatou Viviane.
Para Maria do Carmo Liria Andreu, que preside o Conselho do Idoso de Rio Preto, apesar do aumento da adesão de idosos por planos de saúde é importante lembrar que nem todos brasileiros têm condições de pagar pelo serviço. “São necessárias mais políticas públicas de saúde para os idosos que vivem em situação de vulnerabilidade social. Um hospital do idoso, nos mesmos moldes do Hospital da Criança e Maternidade, seria super bem-vindo em Rio Preto”.
Serviços mais buscados
Levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar aponta que entre os serviços mais buscados pelos beneficiários dos planos de saúde no Brasil estão exames complementares (783 mil), seguido por consultas (208 mil), procedimentos odontológicos. (153 mil), outros atendimentos ambulatoriais (131 mil), terapias (55 mil) e internações (7 mil).
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), defende que com o aumento de beneficiário é necessário a adoção de um modelo de remuneração aos prestadores de serviço, por melhores desfechos clínicos. Atualmente, no modelo em vigência, de remuneração por serviços (fee for service), quanto mais procedimentos realizados, mais o prestador recebe.
“Ou seja, esse modelo estimula a realização procedimentos dispendiosos, nem sempre mais eficientes para os pacientes. O setor precisa caminhar para um modelo que promova uma medicina baseada em entrega de mais valor para o paciente (value-based), mais eficaz para se conseguir desfechos clínicos mais positivos. Ou seja, remunera-se por resultados, por melhores desfechos clínicos, e não por número de procedimentos”, defendeu Vera.
Confira o número de beneficiários por faixa etária em Rio Preto no link.