Alta no valor do frete marítimo prejudica importações de empresas da região de Rio Preto
Valor do frete marítimo dispara com falta de contêineres e espaço em navios; resultado é queda nas importações e alta nos preços

A pandemia da Covid-19 provocou um desarranjo na logística do comércio internacional, causando congestionamento dos portos, atrasos nos prazos de entregas e um aumento excessivo no valor do frete. Faltam contêineres e as empresas precisam brigar por espaço nos navios para receber insumos e produtos do mercado exterior. Assim como em um efeito dominó, toda a cadeia produtiva foi afetada e as consequências desse descompasso já são sentidas pelo consumidor nas prateleiras.
De acordo com o despachante aduaneiro da Rio Port, Márcio Marcassa, esse caos no transporte marítimo teve início no ano passado e se estende até o momento. Com a chegada da pandemia, empresas responsáveis pelo transporte marítimo diminuíram suas operações diante das medidas restritivas adotadas por diversos países, interrompendo suas atividades comerciais. “Também tivemos uma diminuição das linhas marítimas com a junção de empresas que se fundiram para diminuir os prejuízos”.
No entanto, a retomada das atividades comerciais em escala global provocou um aumento na demanda por transporte, bem superior à capacidade logística dos armadores e terminais portuários. “A grande demanda frente à pouca oferta fez o preço do frete marítimo disparar”.
Segundo Marcassa, antes da pandemia o valor do frete marítimo partindo da China – um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, girava entre US$ 1,8 mil e US$ 2 mil. Atualmente, o preço cobrado pelo transporte de um contêiner é de quase US$ 13 mil, o que representa alta entre 550% e 622%. “É um aumento absurdo, que causa grande impacto nas empresas. Tenho clientes que já disseram que vão parar de importar porque o preço não está mais compensando”.
Uma das empresas que decidiu interromper parte das importações foi o Rei dos Parafusos, loja de ferramentas e acessórios para reforma e construção. De acordo com o empresário Ulisses Cury Filho, o volume de exportações em 2021 caiu pela metade em comparação com 2019 – antes da pandemia. “O preço do frete está inviabilizando todo o processo e já estamos tendo escassez de produtos. Hoje, temos mercadorias em que o preço do frete já é quase metade do valor do produto”.
Cury destaca ainda que não existe outra solução a não ser repassar os aumentos dos custos para o consumidor final. “Não tem como segurar, tudo implica no consumidor final”.
Empresa rio-pretense do ramo de materiais elétricos, a Lukma importava aproximadamente 50 contêineres por ano antes da pandemia. Atualmente, o volume de importação teve uma queda de 15%, afirma a auxiliar de compras Sabrina Lukasavicus. Queda justificada pelo aumento de 700% no valor do frete.
“O encargo, que representava aproximadamente 1% do custo do nosso produto final, hoje passou a representar cerca de 9%, e este cenário vem contribuindo desde o início da pandemia com um grande aumento nos custos de nossos produtos. Aumentos, estes, que tivemos que absorver em grande parte para não repassar na íntegra aos nossos clientes”.
Frete impacta no imposto
O aumento no preço do frete marítimo causa impacto em todos os setores que trabalham com importação e exportação, pois na importação o aumento do valor do frete influencia diretamente nos impostos, elevando assim o custo da mercadoria. De acordo com o despachante aduaneiro da Rio Port, Marcio Marcassa. “O valor do frete vai na base aduaneira, que é onde se calculam os impostos de importação. Isso acaba elevando muito o custo final do produto”.
No caso de um produto ser vendido por R$ 100 e frete seja calculado em R$ 130 (R$ 230 na soma), o preço do produto chega no Brasil a R$ 460, já com a cobrança dos tributos.
Para o especialista, a escalada dos preços deve se manter nos próximos meses em função das dificuldades logísticas em escoar o volume acumulado de cargas. A expectativa é de que o preço do frete passe a recuar apenas no ano que vem. “Esperamos uma redução no segundo semestre de 2022. O preço não deve voltar ao que tínhamos antes da pandemia, mas esperamos que chegue à casa de US$ 4,5 mil a US$ 5 mil”.
Problemas enfrentados pela indústria na pandemia
Problemas identificados na exportação
- Aumento no valor do frete 76%
- Indisponibilidade de navios ou de espaço 74%
- Indisponibilidade de contêineres 69%
- Cancelamento / omissão de embarque programado 66%
- Suspensão de rota ou escalas semanais 58%
- Cobrança indevida por sobre-estadia 28%
- Comunicação em prazo insuficiente nos casos de cancelamento de embarque 44%
- Comunicação em prazo insuficiente nos casos de suspensão de rota/escala 31%
Problemas identificados na importação
- Aumento no valor do frete 96%
- Indisponibilidade de navios ou de espaço 72%
- Indisponibilidade de contêineres 59%
- Cancelamento / omissão de embarque programado 54%
- Suspensão de rota ou escalas semanais 46%
- Cobrança indevida por sobre-estadia 32%
- Comunicação em prazo insuficiente nos casos de cancelamento de embarque 30%
- Comunicação em prazo insuficiente nos casos de suspensão de rota/escala 29%
Fonte: Questionário da Confederação Nacional da Industria respondido em julho de 2021 por empresas e associações brasileiras