Diário da Região
DA CANA AO ALAMBIQUE

Produtores do Noroeste paulista investem na produção eficiente da cachaça

Produtores paulistas estão empenhados em fabricar a cachaça, bebida tipicamente brasileira e que envolve várias etapas na produção, com maior eficiência

por Cristina Cais
Publicado em 07/11/2023 às 01:55Atualizado em 07/11/2023 às 08:23
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Produção de cachaça no estado de São Paulo vem crescendo (Divulgação)
Produção de cachaça no estado de São Paulo vem crescendo (Divulgação)
Diego Pavão destaca a valorização da cachaça de alambique (Divulgação)
Diego Pavão destaca a valorização da cachaça de alambique (Divulgação)
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Cercada pela cana-de-açúcar para produção de diversos produtos em todo Noroeste paulista, a produção de cachaça é mais uma opção aos produtores que estão investindo na bebida. Terceiro destilado mais consumido no mundo, a cachaça movimenta mais de R$ 15 bilhões anualmente no Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). Os segredos para uma boa bebida incluem o corte da cana-de açúcar e a qualidade das cultivares que serão incorporadas, da destilação ao envelhecimento, ao destilado mais famoso do País.

O estado de São Paulo se destaca na produção da cachaça, bebida com denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, tendo como matéria-prima o mosto fermentado do caldo da cana-de-açúcar. Segundo o produtor e integrante da Câmara Setorial da Cachaça no estado paulista, Diego Pavão, a produção de cachaça tem ganhado força para fomentar ainda mais o destilado em todas as cachaçarias de São Paulo.

“Em 2021 foi lançado um livro para divulgar a cachaça de alambique no estado de São Paulo, o que deve valorizar ainda mais a cadeia produtiva da bebida, especialmente de pequenos produtores”, destaca Diego. De acordo com dados da Secretaria estadual de Agricultura, com toda a produção - entre a industrial e a de alambique - o estado paulista é o maior produtor, consumidor e exportador da cachaça brasileira.

Qualidade

Na produção da cachaça, segundo Diego, o produtor deve estar atento aos diversos fatores da cadeia produtiva da bebida, como a escolha das variedades de cana-de-açúcar, o tempo de fermentação, o processo de destilação e o envelhecimento da bebida. “Cada um desses fatores pode influenciar na qualidade final da cachaça, tornando-a mais suave, mais aromática, mais complexa ou mais encorpada”.

Diego conta que cresceu observando a família envolvida na produção do destilado que leva o rótulo de Cachaça Pavão, e tem volume de 1 mil litros anuais da bebida. Há seis anos, Diego também resolveu trabalhar com a venda da bebida, que leva um blend de leveduras consideradas selvagens, e é produzida em alambique. “Em nossa produção da cana-de-açúcar tem ainda o corte manual, com alambique de fogo direto, tudo bem artesanal”, ressalta.

Ele explica ainda a diferença entre a destilação em coluna e a destilação de alambique. “Existem boas marcas de cachaça de destilação de coluna, que é uma produção mais industrial, em grande escala. Porém, a destilação de alambique é mais sensorial, os aromas da cana são preservados”, diz Diego.

Cada produtor, de acordo com Diego, tem uma receita própria e uma maneira de produzir a cachaça, e ainda, deve ser levado em conta o envelhecimento da bebida. “Importante destacar que a cachaça, assim como o vinho, tem o terroir, um termo francês que se refere às características geográficas, climáticas, de solo e de vegetação de uma região, e que influencia na produção de um determinado produto agrícola, como acontece também com a cachaça”.

Engenho tradicional

Com o final da safra da cana-de-açúcar na região de Rio Preto, o produtor João Pulici está satisfeito com a produção da cachaça em engenho tipicamente tradicional, localizado no município de Cedral. Há oito anos, o produtor iniciou a atividade na cadeia produtiva da cachaça, e atualmente, vem ampliando o engenho, com volume de produção diário de 350 litros. Atualmente, a produção está indo tão bem que João decidiu deixar a advocacia para seguir apenas como produtor de cachaça.

“Estou muito satisfeito com a produção deste ano, e também foi um longo processo até chegar à certificação que consegui junto ao Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), para o rótulo da cachaça Dom Alexandre”, afirma. João conta ainda que, para o processo da cachaça utiliza a destilação de alambique e o envelhecimento em tonel de madeiras como as de jequitibá rosa, amendoim e carvalho francês.

Entre as opções em destilar em alambique ou em coluna, João diz que tudo depende do capricho de quem produz a bebida. “Toda a forma de destilação precisa respeitar os equipamentos, não pode ter pressa. As duas cachaças, tanto de alambique como a de coluna, são boas”. Segundo o produtor, o segredo da produção de cachaça é a limpeza do ambiente, além de fazer tudo com muita calma. (CC)

Exportações refletem em aumento da produção

Família Tapparo está na atividade há quatro décadas (Divulgação)
Família Tapparo está na atividade há quatro décadas (Divulgação)

Em 2022, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior e compilados pelo Ibrac, o Brasil teve recorde na exportação da cachaça. Foram US$ 18,47 milhões exportados, o maior valor dos últimos 12 anos e 54,74% maior que as exportações de 2021. Da produção na cidade de Mirassol, a família Tápparo também aumentou a exportação da cachaça, ampliando ainda os países para onde destina o produto.

Breno Tápparo, sócio proprietário da empresa, pontua que a empresa está mantendo o foco na exportação dos produtos da cachaçaria. “Começamos a exportar em 2019 para os Estados Unidos e agora já ampliamos as comercializações para a União Europeia, principalmente para Reino Unido, Holanda, Portugal e França”.

O engenho Dom Tápparo teve início com o avô de Breno, a terceira geração da família que está no negócio há mais de quatro décadas. A marca também já ganhou prêmios internacionais como a melhor cachaça mundial. “Quando meu avô começou, ainda mantinha o corte manual e a destilação de alambique. Mas hoje, já ampliamos muito a produção, com volume de 2 mil litros por hora da bebida”, comenta Breno.

O consumo da cachaça ao redor do mundo tem aumentado, e Breno diz que a exportação teve aumento de 1 mil % nas vendas da marca da empresa. “O apelo é muito forte lá fora, é o mercado da saudade, porque a cachaça é um produto genuíno nosso e que remete ao Brasil”. Além disso, o produtor diz que a alíquota para exportar o produto impulsiona ainda mais o setor, já que é quase zero em termos de taxas pagas pelos empresários. (CC)