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Pesquisas em Votuporanga ajudam o produtor a ganhar tempo com cultivo do seringal

Ao todo, são 400 hectares de área cultivada em Votuporanga, com várias culturas em estudo

por Cristina Cais
Publicado em 21/08/2021 às 02:03Atualizado em 21/08/2021 às 08:14
Seringal onde pesquisas com clones de seringueira são estudadas em Votuporanga: melhorar produtividade e antecipar sangria (Divulgação)
Seringal onde pesquisas com clones de seringueira são estudadas em Votuporanga: melhorar produtividade e antecipar sangria (Divulgação)
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Pesquisa do Instituto Agronômico (IAC), na Fazenda Experimental de Votuporanga, tem como objetivo antecipar a produção da cultura da borracha natural, atividade que normalmente leva dez anos para gerar rentabilidade ao produtor. Com o novo clone, a sangria da seringueira pode começar mais cedo.

Ao todo, são 400 hectares de área cultivada em Votuporanga, com várias culturas em estudo. As pesquisas com as seringueiras do Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais do IAC de Votuporanga ganharam destaque e tempo rigoroso de estudo e prática no campo: a pesquisa vem sendo realizada desde 1950. Atualmente, estão registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) 31 clones de seringueiras para o plantio.

A região Noroeste do estado de São Paulo, maior produtora de borracha natural do País, com 66% de área cultivada, ganhou ainda mais força com as pesquisas e programas de melhoramento genético de seringueiras. O ideal é que os clones possam ser mais produtivos e que o produtor possa antecipar a sangria das árvores, que hoje só é possível a partir do sétimo ano de produção e de dez anos com produtividade mais viável em rendimento e lucratividade.

“Os novos clones apresentaram essa precocidade. O produtor poderá antecipar em até dois anos o cultivo da borracha natural. E, além disso, o processo de melhoramento genético da seringueira é muito longo. Para se desenvolver um clone novo, leva mais de 30 anos de pesquisa”, disse o pesquisador científico do IAC de Votuporanga Erivaldo José Scaloppi Junior.

Os clones, segundo o pesquisador, têm bom potencial produtivo e há uma demanda grande de produtores que se interessaram em fazer o plantio das mudas em suas propriedades na região do Noroeste Paulista. “O produtor ganha tempo e maior retorno no investimento realizado no plantio das seringueiras, com esse clone que é muito vigoroso”, pontua.

Atualmente, em 80% das propriedades com produção de seringueiras, são cultivados os clones de RRIM 600, desenvolvidos pelos Institutos de Pesquisas da Malásia. Com os novos clones IAC da série 500, Scaloppi afirmou que a produtividade das seringueiras deve ser 70% maior em comparação com o clone RRM 600, hoje o mais cultivado. “Se as condições climáticas da região fossem melhores, os novos clones seriam até mais produtivos. Mas vivemos um período de falta de chuvas e temos uma estiagem prolongada”.

As pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais (IAC) de Votuporanga conta ainda com parceria entre os produtores e os viveiristas que comercializam as mudas de seringueira.

Produtores atestam diferenças

Em Cardoso, o produtor Januário Antônio Gorga Filho plantou mil árvores com os novos clones IAC e notou a diferença na produtividade que o seringal ganhou. As novas mudas da série IAC 500 foram plantadas há quatro anos e apesar da colheita ocorrer apenas a partir do sétimo, ele já notou precocidade.

“Tranquilamente, essas novas árvores vão entrar em produção a partir do quinto ano. Poderia até abrir painel agora, já seria possível, mas vou aguardar mais um ano”, disse Januário. Ele possui 19 mil árvores de seringueiras, sendo 12 mil em produção, e comparou que, o resultado com os novos clones será positivo em relação às variedades cultivadas, na maioria, RRIM 600.

Januário diz que as árvores, em cultivo com as novas mudas do IAC, já possuem diâmetro entre 48 e 49 centímetros de espessura, o que daria para iniciar a sangria e colher a borracha, diferentemente das outras variedades cultivadas na propriedade. “O investimento é muito alto no plantio do seringal e o período de produção longo”.

O produtor José Manoel Pinto Júnior cultiva 30 mil seringueiras em Nova Granada e pretende expandir a plantação para pelo menos seis mil novas plantas. “Estou procurando informações sobre os novos clones. Apesar de ainda não ter me decidido sobre qual muda plantar, quero renovar com variedades diferentes das que tenho. Vejo com muito bons olhos as pesquisas do IAC de Votuporanga, que apontam para clones mais produtivos e precoces”. (CC)