Diário da Região

Pecuária avança em produção e região ganha Centro de Pesquisas

Com foco na pecuária sustentável, Rio Preto conta com pesquisas voltadas às mudanças climáticas; Brasil lidera, pela primeira vez, a produção mundial de carne bovina

por Cristina Cais
Publicado há 7 horas
Brasil assume a liderança mundial na produção de carne bovina (Divulgação)
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Brasil assume a liderança mundial na produção de carne bovina (Divulgação)
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A pecuária brasileira, que já ocupa posição de maior exportador da proteína, assume também a liderança com a maior produção mundial de carne bovina em 2025. Para a região Noroeste, o destaque também envolve a concentração do setor produtivo e, mais recentemente, as pesquisas do Centro de Pecuária Sustentável. Em área de 220 hectares do Instituto de Zootecnia (IZ-Apta), vinculado à Secretaria estadual de Agricultura e Abastecimento, a unidade está localizada em Rio Preto e vai atender as pesquisas voltadas à pecuária de baixo carbono.

Segundo a pesquisadora Renata Branco, diretora do Centro, o objetivo é atender o setor com ciência e dados, ou seja, um dos maiores desafios da atualidade, que é a produção de alimentos de forma eficiente, competitiva e ambientalmente responsável. “O nosso papel é desenvolver e validar tecnologias que reduzam as emissões de gases de efeito estufa, especialmente o metano, sem comprometer a produtividade dos sistemas pecuários”, ressaltou.

A pesquisadora destaca que o Centro de Rio Preto tem foco na neutralidade climática da produção de bovinos de corte, na intensificação sustentável dos sistemas produtivos e na integração entre sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e bem-estar animal, com ênfase em arranjos como a Integração Lavoura-Pecuária e outras estratégias de uso racional da terra. “É a ciência pública colocando o Brasil na liderança da pecuária de baixo carbono”.

Certificado

Além disso, pecuaristas do Noroeste paulista vão contar com o primeiro centro de pesquisa com animais de grande porte certificado pela Fair Food, reconhecimento que atesta o atendimento a elevados padrões de bem-estar animal, ética na pesquisa e produção sustentável da pecuária de corte.

Renata explica ainda que o Centro foi estruturado para atuar como referência técnica e vitrine tecnológica para o setor produtivo. “A proposta é disponibilizar ao pecuarista e à indústria diferentes modelos de produção, com indicadores produtivos, ambientais e econômicos consolidados, de forma a subsidiar decisões técnicas baseadas em evidências científicas e promover a competitividade da pecuária brasileira”, pontua.

Para o desenvolvimento das pesquisas, a pesquisadora acrescenta que o Centro de Rio Preto conta com 280 animais bovinos e com as plantações de amendoim e milho para silagem, arranjos importantes para a integração da pecuária de baixo impacto de carbono.

“Hoje, as pesquisas no IZ estão focadas nos animais em confinamento e a pasto, o que nos permite avaliar soluções para diferentes sistemas de produção. Esses estudos são integrados à recuperação de áreas degradadas, com o cultivo de amendoim e milho para silagem, impulsionando a melhoria do solo, a eficiência produtiva e a sustentabilidade. Esse modelo conecta diretamente a produção animal às práticas agrícolas, fortalecendo uma pecuária mais moderna e de baixo impacto ambiental”, afirmou Renata.

Pecuária na liderança da produção de carne bovina

Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam que o Brasil deverá produzir 12,35 milhões de toneladas de carne bovina em 2025, superando, pela primeira vez, os Estados Unidos, que possui produção estimada em 11,81 milhões de toneladas.

O volume projetado pelo USDA mostra um crescimento de 4% em relação a 2024, quando a produção brasileira atingiu 11,9 milhões de toneladas de carne bovina. De acordo com o órgão, o Brasil também foi líder na exportação em 2025, com mais de 4,0 milhões de toneladas, seguido pela Austrália, Índia e Estados Unidos.

Com a posição de maior produtor mundial de bovinos de corte, especialistas afirmam que a intensificação do uso de tecnologias no campo, especialmente na nutrição, manejo e genética, além da integração entre sistemas produtivos foram fatores importantes para o Brasil atingir essa liderança.

Conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a liderança mundial do País como maior produtor é reflexo ainda da escala do setor, aliada à eficiência na criação de bezerros e à estrutura industrial distribuída em todo o território nacional, o que sustenta elevados volumes com regularidade e competitividade.

“Alcançar a liderança também na produção mundial reforça a base que sustenta o Brasil como maior exportador de carne bovina. Produção em escala, produtividade crescente e eficiência industrial são fundamentais para garantir regularidade de oferta, competitividade e confiança nos mercados internacionais, permitindo que o País atenda diferentes destinos ao longo do ano”, comentou o presidente da Abiec, Roberto Perosa.

Centro de Ciência

O Centro de Rio Preto também envolve os dados científicos e a participação de empresas do setor. Segundo Renata, a unidade vai sediar o NeutroPec, o primeiro Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) da América Latina, dedicado à neutralidade climática da pecuária de corte em regiões tropicais.

A iniciativa estratégica do Centro de Ciência tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Contamos ainda com a participação da iniciativa privada, incluindo empresas como a SilvaFeed, Alltech e JBS. O objetivo é desenvolver, avaliar e validar tecnologias capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, especialmente o metano, sem comprometer a produtividade animal”, diz a pesquisadora.

Para o coordenador do Instituto de Zootecnia (IZ), Enilson Ribeiro, o grande desafio da pecuária, atualmente, é seguir as normas de sustentabilidade e de bem-estar animal. “Criamos esta unidade para aumentar a sustentabilidade da pecuária, tornando-a mais competitiva no mercado internacional”.