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Instituto de Pesca de Rio Preto investe mais de R$ 6 milhões em pesquisas

Para o desenvolvimento em sanidade da piscicultura; foco é a criação de tilápia, principal espécie cultivada no Noroeste paulista

por Cristina Cais
Publicado em 17/01/2023 às 00:01Atualizado em 17/01/2023 às 17:50
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Tanques-redes de Emerson Esteves, em Santa Fé do Sul (Divulgação)
Tanques-redes de Emerson Esteves, em Santa Fé do Sul (Divulgação)
Tanques do Instituto da Pesca receberam investimentos para o desenvolvimento em sanidade da piscicultura (Divulgação)
Tanques do Instituto da Pesca receberam investimentos para o desenvolvimento em sanidade da piscicultura (Divulgação)
Antonio Fernando Leonardo (à direita) coordena as pesquisas com tilápias no Instituto da Pesca em Rio Preto (Divulgação)
Antonio Fernando Leonardo (à direita) coordena as pesquisas com tilápias no Instituto da Pesca em Rio Preto (Divulgação)
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A mortalidade na criação de tilápias, causada por doenças, é estimada em 15% pelos criadores da espécie no Noroeste paulista, resultando em prejuízos para a produção do peixe. De acordo com os especialistas, o diagnóstico de doenças, as vacinas e o melhoramento genético são ferramentas importantes para contribuir com a tilapicultura, no que diz respeito à sanidade da espécie. Para isso, investimentos em pesquisas do Instituto de Pesca (IP) de Rio Preto e na construção de um laboratório, da ordem de mais de R$ 6 milhões, deverão contribuir com a cadeia produtiva da tilápia, na piscicultura da região.

“Espera-se com este trabalho, o potencial de impacto em viabilizar um pacote tecnológico para impulsionar a cadeia produtiva da tilápia. Na indústria, visando à segurança alimentar, e, além disso, a alta qualidade genética da criação, ao agregar valor e que envolve a sanidade dos peixes”, diz o pesquisador Antônio Fernando Leonardo, do Instituto de Pesca de Rio Preto, órgão ligado a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Leonardo diz que o estudo deve ser direcionado para três linhas de pesquisa. Em uma delas, alinha o desenvolvimento de kits de diagnóstico para doenças de piscicultura (da bactéria francisella e do vírus ISKNV). Estas enfermidades, de acordo com o pesquisador, contribuem com a mortandade de peixes e trazem prejuízos para o produtor de tilápia.

Numa segunda área da pesquisa, Leonardo explica que o estudo é direcionado para as vacinas contra essas doenças.

“As vacinas são fundamentais para dar melhores condições de vida para as tilápias e sustentabilidade para a criação”, pontua.

Melhoramento genético

Com foco na sanidade das tilápias, uma terceira linha da pesquisa envolve o melhoramento genético. O pesquisador diz que, em seu trabalho com a reprodução de tilápias, é fundamental a seleção dos casais da espécie. “Aqui, no IP, nós temos 6.000 peixes (60 famílias de tilápia). E o foco é ter 120 famílias para estudar a maior variabilidade da espécie, como ganho de peso, resistência às doenças, maior conformidade da carne de filé da tilápia, entre outros aspectos”, conta Leonardo.

Neste trabalho, de seleção genética, o pesquisador destaca que está sendo construído um laboratório, no centro de pesquisas de Rio Preto, para avaliação da reprodução de tilápias e da genética. “O futuro está no melhoramento genético das tilápias”, complementa.

O Centro de Ciência do IP conta, neste projeto, com 18 pesquisadores que possuem doutorado e formação multidisciplinar, além de bolsistas que serão os jovens pesquisadores para os estudos. Leonardo diz ainda que o IP tem parceria com o Centro de Aquicultura da Unesp (Jaboticabal), o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e com a Faculdade de Zootecnia da USP (Pirassununga).

Mais investimentos em genética

Ramon Amaral é criador de tilápia e sócio-diretor do Grupo Ambar Amaral, frigorífico de Santa Fé do Sul, e conta que a empresa deve expandir os negócios no setor de melhoramento genético. “A pesquisa em genética é muito importante para a criação e à indústria, no que diz respeito ao rendimento de carcaça do peixe, conversão alimentar e tempo de cultivo”, pontua.

Com a produção de 1,2 milhão de tilápias por mês, Ramon pretende investir em novos tanques destinados para a reprodução e genética da criação. “Hoje temos a nossa própria fábrica de ração, e agora vamos ampliar essa produção mensal para 5,0 milhões de peixes, e assim não precisamos mais comprar a matriz da tilápia”.

Atualmente, Ramon diz que compra as matrizes de tilápia de uma empresa particular. “Percebemos que há uma preocupação em comercializar o peixe de melhoramento genético por quantidade e queremos qualidade da criação de tilápia, com melhores resultados para a indústria”, diz Ramon. (CC)

Qualidade da água é fundamental

Responsável por maior parte da produção de tilápia do estado de São Paulo, a região Noroeste possui mais de 250 criadores, concentrados nos municípios de Santa Fé do Sul, Rubineia, Santa Clara d’Oeste e Riolândia. De acordo com a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), o Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, espécie que representa 63,5% da produção do país.

Para o criador Claudio Masocatto, de Riolândia, as pesquisas do Instituto de Pesca (IP) representam grande importância para a região. Ele considera fundamental para garantir a produção de tilápias nos tanques, qualidade da água e sanidade dos peixes. “A região concentra grandes produções de tilápias, sendo o controle sanitário importante para conscientizar o criador”, diz Claudio.

Ele diz que as doenças causadas por vírus, na criação dos peixes, sempre foram prejudiciais para a tilapicultura, analisando ainda que as vacinas são importantes e até há pouco tempo ainda não existiam no mercado para o controle dos animais. “Agora já temos a vacina para o controle de um dos vírus e está surgindo outra para controlar outro vírus”. Claudio lembra que a mortalidade pode chegar a 15%, quando as doenças atacam os peixes em criatórios da empresa que gerencia, em Riolândia.

Segundo Emerson Esteves, criador de tilápia e diretor da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (PeixeSP), as doenças causadas por bactérias são as que mais impactam a criação da espécie. Ele diz que a pesquisa para manter a sanidade dos peixes e incentivar o melhoramento genético da tilapicultura são iniciativas importantes para a produção da região. (CC)