Diário da Região
INCÊNDIO NO CANAVIAL

Produtores de cana sofrem com estiagem e focos de incêndio na região de Rio Preto

IAC faz estudo que aponta R$ 228 milhões em investimentos de prevenção e combate ao fogo

por Cristina Cais
Publicado em 21/09/2021 às 22:26Atualizado em 22/09/2021 às 08:45
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Cana-de-açúcar vem sendo uma das mais prejudicadas com os focos de incêndios (Divulgação)
Cana-de-açúcar vem sendo uma das mais prejudicadas com os focos de incêndios (Divulgação)
Pesquisa mostra que houve R$ 228 milhões de investimentos na prevenção e combate a incêndios (Pesquisa mostra que houve R$ 228 milhões de investimentos na prevenção e combate a incêndios)
Pesquisa mostra que houve R$ 228 milhões de investimentos na prevenção e combate a incêndios (Pesquisa mostra que houve R$ 228 milhões de investimentos na prevenção e combate a incêndios)
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Estiagem prolongada, geadas em julho e, recentemente, com maior potência neste mês de setembro, os focos de incêndio que estão prejudicando os canaviais e contribuindo para a queda de produção de matéria-prima. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a ocorrência de incêndios em canaviais paulistas aumentou nos primeiros dias de setembro.

Apenas nos nove primeiros dias deste mês, foram 920 focos de queimadas em lavouras de cana no Estado, número 47% maior que os 624 do mesmo período de 2020. Diante deste cenário, produtores rurais e especialistas buscam alternativas para o combate e prevenção dos incêndios nos canaviais.

Como os incêndios são frequentes, principalmente no período de junho a outubro, e com um maior número de ocorrências nos meses de agosto e setembro, o Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realizou uma pesquisa no ano passado para reunir indicadores sobre os focos de incêndios nos canaviais paulistas.

Para a área pesquisada pelo IAC, foram investidos R$ 228 milhões na prevenção e combate a incêndios, volume relativo às 90 usinas do setor sucroenergético que participaram do estudo. As amostras totalizaram 3,3 milhões de hectares de área cultivada, isto é, um terço da área total de cana no Brasil. “Foram estimados investimentos de R$ 690 milhões em ações de combate aos focos de incêndio em todas unidades produtivas de cana do País”, afirmou Marcos Guimarães de Andrade Landell, líder do Programa Cana IAC e diretor-geral da entidade.

O objetivo do estudo é o de dimensionar o investimento que se faz na produção de cana-de-açúcar, e assim, combater ou prevenir os incêndios nas plantações. O setor foi ouvido no período entre 28 de setembro e 5 de outubro do ano passado. “A cana-de-açúcar é uma cultura perene, que fica exposta o ano inteiro no campo e acaba sendo atingida por ações de fogo, muitas vezes criminosas, e que interferem nas operações agrícolas”. É importante, segundo o pesquisador, destacar que dentre todas as culturas, a cana-de-açúcar vem sendo uma das mais prejudicadas com os focos de incêndios.

Os riscos de incêndios em canaviais são considerados importantes para os investimentos que o setor realiza. Landell observou ainda que “é um verdadeiro desastre para o produtor rural quando ocorre a queimada do canavial”. A cada ano, o pesquisador explica que o tempo seco tem causado prejuízo para o produtor, o que mostra a importância destes dados para todo o setor, a partir de números tão expressivos de incêndios.

“É muito claro que o produtor não tem interesse nenhum em colocar fogo em suas plantações, porque é prejuízo para ele, uma prática que ficou no passado”, pontua. Landell se refere às queimadas que eram feitas e que foram restringidas há mais de uma década no País.

Prevenção

Fazer aceiro - São faixas ao longo das cercas, livres de vegetação da superfície do solo, para que o fogo não passe para outros locais

Tanque de água - Manter um tanque de água sempre cheio, além de meios de transporte para levar água até o local do incêndio

Limpeza de terreno - Fazer a limpeza, eliminando materiais de fácil combustão das áreas

Plano de contingência - Elaborar um plano de contingência junto aos funcionários e à família, com a discussão prévia das medidas para conter o incêndio. E ainda, mobilizar todas as pessoas da fazenda e também os vizinhos para evitar que o fogo fique incontrolável.


Fonte - Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

Prejuízo em 70 hectares

Em 2019, o produtor rural João Thomaz Leal Pimenta teve um prejuízo em 70 hectares de plantação de cana-de-açúcar, após um incêndio atingir parte de sua propriedade rural, em Tanabi. “Prefiro nem falar nos cálculos com o prejuízo, mas para o produtor pode se dizer que é um prejuízo muito grande”, disse João.

Neste ano, a seca provocada pela falta de chuvas causa ainda mais preocupação, pois aumenta os riscos de queimada. Além disso, a estiagem já impactou na produtividade provocando uma queda de 28% na safra. “Tivemos muito prejuízo com a geada também”. Com essas adversidades climáticas, o produtor afirma que a próxima safra também deverá ser menor.

“Hoje, acredito que mais de 95% dos produtores estão conscientes sobre os riscos e perdas na plantação”, afirma o produtor rural Alexandre Pinto César. Ele lembra que existem um intenso trabalho da Polícia Ambiental em fiscalizar áreas florestais e canavieiras atingidas pelo fogo, sendo que o produtor está sujeito a multas elevadas quando a situação ocorre na propriedade.

Alexandre também investe na prevenção e no combate aos incêndios nas áreas em que cultiva cana. No ano passado, o investimento foi de R$ 60 mil. Mas neste ano, com a seca que começou mais cedo na região, o investimento foi maior, da ordem de R$ 80 mil. “Nesta semana, também já tive uma área de 10 hectares queimada, o que significa prejuízo, já que era uma área que já tinha investido na compra de herbicida”. (CC)

Fogo atinge 3% das lavouras do Centro-Sul

Fogo atinge 3% das lavouras do Centro-Sul (Fogo atinge 3% das lavouras do Centro-Sul)
Fogo atinge 3% das lavouras do Centro-Sul (Fogo atinge 3% das lavouras do Centro-Sul)

De acordo com levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), no estado de São Paulo, 150 mil hectares de cana-de-açúcar, o equivalente a 3% de lavouras da região Centro-Sul, foram atingidos pelos focos de incêndio na safra 2020-2021. E nos últimos anos, o setor já investiu mais de R$ 4 bilhões na aquisição de equipamentos que visam o combate e a prevenção de incêndios nos canaviais.

Na região do Noroeste Paulista, que concentra 80% das plantações agrícolas com cana-de-açúcar – segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os investimentos também aumentaram nos últimos anos, devido a uma maior preocupação na prevenção e no combate aos incêndios. Júlio César Moreira da Silva, gerente executivo da Associação dos Plantadores de Cana da Região de Monte Aprazível (Aplacana), estimou em R$ 8 milhões os investimentos entre a compra de equipamentos e outras ações para diminuir os riscos de queimadas.

A Aplacana, que reúne 330 produtores de cana na região de Rio Preto, e com produção estimada de 35 mil hectares, faz um trabalho de conscientização para que as propriedades minimizem os efeitos causados pelos focos de incêndios. “Aqui temos o Plano de Auxílio Mútuo (PAM) que, com o uso dos caminhões tanques, facilita o combate do fogo no canavial.”

Os produtores se comunicam em grupos de mensagens por aplicativo para avisar sobre o canavial que está com foco de incêndio. Segundo Júlio, a Associação também orienta o produtor sobre a necessidade de manter aceiros limpos e água para combater o fogo nas plantações. (CC)