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Fitoterapia é aposta para ampliar produção leiteira na região

Pesquisadores estudam adoção de medidas sustentáveis, como fitoterapia, para tratar doenças do gado leiteiro, o que amplia produção e qualidade do leite

por Cristina Cais
Publicado em 13/08/2022 às 20:42Atualizado em 14/08/2022 às 07:32
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Animais da propriedade de Gabriela Rodrigues ficam em ambiente mais confortável e têm manejo especial de higiene na hora da ordenha (Divulgação)
Animais da propriedade de Gabriela Rodrigues ficam em ambiente mais confortável e têm manejo especial de higiene na hora da ordenha (Divulgação)
Produtora de gado leiteiro Gabriela Rodrigues: conforto para o rebanho (Divulgação)
Produtora de gado leiteiro Gabriela Rodrigues: conforto para o rebanho (Divulgação)
Pesquisador Luiz Carlos Roma Júnior, no laboratório do Instituto d e Zootecnica: pesquisa com fitoterápicos e óleos essenciais (Divulgação)
Pesquisador Luiz Carlos Roma Júnior, no laboratório do Instituto d e Zootecnica: pesquisa com fitoterápicos e óleos essenciais (Divulgação)
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Ampliar a produção e a qualidade do rebanho leiteiro com medidas mais sustentáveis e com o uso de terapias alternativas que substituam medicamentos para tratar doenças. Essa é a linha de pesquisa que vem sendo estudada por pesquisadores do Instituto de Zootecnia (IZ) da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo e tem foco no uso de fitoterapia (plantas medicinais) para os produtores manejarem o gado de leite.

“Estamos estudando terapias que podem substituir os antibióticos para o controle da mastite nas vacas leiteiras com o uso de várias plantas, os conhecidos fitoterápicos. Ainda pesquisamos o uso de óleos essenciais à base de plantas como cravo, canela, tomilho e orégano, entre outras”, explica Luiz Carlos Roma Júnior, pesquisador e diretor do Centro de Pesquisa do Desenvolvimento de Bovinos Leiteiros do Instituto de Zootecnia.

O tratamento fitoterápico, segundo Roma, seria aplicado na alimentação dos animais do rebanho leiteiro, inclusive para o tratamento dos bezerros. O pesquisador diz ainda que é importante para o produtor ter uma alternativa ao antibiótico, que pode causar resistência na imunidade dos animais, sendo o leite descartado para a indústria quando a vaca leiteira apresenta a mastite.

A mastite bovina é uma inflamação da glândula mamária das fêmeas causada por bactérias, sendo considerada por especialistas e pecuaristas como uma das principais doenças que causam prejuízos para a produção leiteira. De acordo com Roma, quando o pecuarista usa o antibiótico para tratar a mastite, fica resíduo no leite e o laticínio não aceita o produto, que fica inapropriado para o consumo humano.

Qualidade e imunidade

A doutora em microbiologia e pesquisadora do Instituto de Zootecnia Livia Castelani faz o estudo dos patógenos da mastite e diz que é um desafio grande na área de produção de leite, quando o rebanho é acometido pela doença, manter a qualidade leiteira dos animais. “Nesta pesquisa temos buscado algum princípio ativo ou molécula alternativa que seja natural como a planta para o tratamento da enfermidade”, ressalta.

Livia destaca ainda que as bactérias acabam se tornando resistentes ao uso de antibióticos, sendo importante buscar as terapias alternativas, como os fitoterápicos, para o tratamento da mastite. “Também é importante um tratamento natural, incluindo na alimentação do rebanho, que melhore também a imunidade do animal”.

Outra vantagem para produtores e consumidores do produto é que, de acordo com a pesquisadora, existe a questão da sustentabilidade. “Muitos produtores são da pecuária de leite orgânico, que não admite o uso de produtos químicos e de medicamentos como os antibióticos, que interferem na produção leiteira”. A técnica, da terapia alternativa, traz ainda vantagem para o consumidor do produto, com o alimento de maior qualidade.

Conforto e higiene para o rebanho

Na fazenda da pecuarista Gabriela Rodrigues, em Potirendaba, o conforto para o rebanho leiteiro e as práticas de manejo têm dado bons resultados para garantir a produtividade e rentabilidade com o leite. “Quando a gente passa a dar conforto para as vacas, elas respondem melhor aos tratamentos de doenças e à qualidade do leite”, destaca Gabriela.

Para dar o conforto aos animais, Gabriela investiu no sistema de compost barn - um local coberto e ventilado, revestido por serragem - que proporciona descanso e alimento ao rebanho. Além de conforto, Gabriela também possui uma rotina de boas práticas para manter a higiene na hora da ordenha das fêmeas. “Quanto mais higiene e cuidados na sala de ordenha, mais qualidade no leite que será comercializado”, pontua.

A questão da mastite sempre é um problema para a pecuária de leite, conforme lembra Gabriela, e ela acredita que a doença está muito associada com a baixa imunidade das vacas, quando aparece a infecção. “Fazemos então uma dieta reforçada e bem balanceada para melhorar essa imunidade do animal”. (CC)

Mastite provoca prejuízos na atividade

Produtores afirmam que um rebanho com animais que tenham diagnóstico para a mastite causa perda para a atividade leiteira, sendo o leite descartado para as indústrias ou apenas sendo utilizado para a alimentação dos bezerros. O manejo, com práticas de higiene, deve ser reforçado e orientado por um médico veterinário, evitando que a doença ataque com maior frequência as fêmeas leiteiras.

Renato Bovoni, produtor de leite em Paraíso, na região de Catanduva, conta que na época de chuva a mastite pode ser mais frequente na produção leiteira. “A mastite, infelizmente, é a grande vilã da atividade leiteira e causa muitos prejuízos. Para evitar a doença, fazemos um manejo o mais perfeito possível na hora da ordenha”, diz Renato.

Com a orientação do veterinário, Renato explica que utiliza as técnicas de pré-dipping e pós-dipping, para a higienização dos animais que estão sendo ordenhados e também após a ordenha. O produtor explica que os tetos da vaca são higienizados com um produto desinfetante antes de iniciar a ordenha para evitar as infecções por bactérias, e após a ordenha também é feita a higienização.

No rebanho do produtor Eder Augusto Duarte, de Urupês, em casos de mastite a primeira medida é coletar o leite para a análise laboratorial, para detectar qual o agente causador da infecção. Quando ocorre a doença, o leite não será comercializado entre os laticínios. Eder conta ainda que esse leite, quando apresenta o patógeno, será utilizado apenas para a alimentação dos bezerros.

A pesquisadora Livia Castelani destaca que o Laboratório de Referência de Qualidade do Leite do Instituto de Zootecnia tem desenvolvido projetos de pesquisa visando melhoria da produção e qualidade do leite. Diante desse cenário e o contato feito com os produtores, Livia conta que boas práticas de higiene de ordenha, a manutenção dos equipamentos de ordenha e as instalações do rebanho, mostraram resultados positivos para o controle de mastite e até aumento na produção de leite. (CC)