Família de Bálsamo coloca café na mesa do mundo todo
Produtor de café de Bálsamo, na região de Rio Preto, investe na qualidade dos grãos, com áreas de plantio em 14 mil hectares; família mantém tradição de 90 anos na cafeicultura


Maior produtor e exportador de café do mundo, o Brasil produziu 65 milhões de sacas do grão em 2020, um recorde de produção, na estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Neste cenário, e para atender a alta demanda por café – a segunda bebida mais consumida pelos brasileiros –, os produtores investiram na qualidade. “É preciso melhorar cada vez mais o café e, para isso, produzirmos um grão, de sabor especial, que é 100% da variedade arábica”, diz João Ruiz Lourenço Filho, que representa a quarta geração de produtores da família, de Bálsamo, uma tradição de 90 anos que vem de berço.
Ainda que não exista um ranking dos maiores produtores e exportadores de café no País, de acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o cafeicultor João Ruiz afirma que a família ostenta a posição de segundo maior produtor e exportador brasileiro do produto. Ao todo são 300 mil sacas de café por ano – ou 18 mil toneladas – que saem das 22 propriedades rurais da família, entre oito municípios brasileiros. As principais estão no estado de Minas Gerais.
À frente da administração das propriedades, João, 37 anos, conta ainda que na década de 1980, quando a região de Rio Preto, outrora uma potência cafeeira, apresentava declínio para o cultivo do grão, a família resolveu investir na produção em Minas Gerais. Hoje o estado é o principal produtor de café do País, seguido por Espírito Santo e São Paulo.
“No final de 1980, meu pai comprou as primeiras áreas em Minas Gerais, na região norte da serra da Canastra, onde o clima e a altitude são mais propícios para o cultivo do café. O clima mais ameno, a localização das propriedades, além de relevo e do solo, vão influenciar na pós-colheita do grão, especialmente no terroir do café, ou seja, no sabor da bebida”, explica o produtor.
As variedades de café adotadas para o plantio fazem a diferença para a produção de café da família Ruiz. “O café da variedade arábica é o mais valorizado, por isso investimos em grãos de arábica, que em 90% são destinados para a exportação”. João destaca ainda que a produção brasileira ainda precisa investir mais em grãos de arábica, que possui maior valor agregado ao produtor. “No mercado, o que mais encontramos é um produto com mais grão de Conilon, que possui um sabor amargo, e não é tão suave como a variedade arábica”, ressalta.
Produtividade maior
O diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, afirma que a produção brasileira abastece 40% do mercado mundial da bebida, exportando o produto para mais de 120 países por ano. “A cafeicultura brasileira evoluiu muito em produtividade e qualidade, entre as mais de 30 regiões produtoras do País. Nas últimas décadas, a produtividade aumentou de seis sacas de café por hectare para 33 sacas por hectare, como ocorreu na safra de 2020”, afirma Marcos.
Os desafios climáticos foram maiores, no ano passado, segundo Marcos, quando o cafeicultor precisou lidar com a seca e as geadas. Ele pondera ainda que a colheita deste ano está atrasada. E para safra de 2022, Marcos lembra que a Conab projetou 53,4 milhões de sacas de café a serem colhidas até o mês de agosto.
Variedade é fator-chave
Há pouco mais de um ano e meio, a família Ruiz decidiu investir na fabricação do café, comercializado no mercado brasileiro. “Vimos que além da exportação, também podemos expandir os negócios com a fabricação do nosso café, seguindo uma linha diferente da existente do mercado”, diz João Ruiz Lourenço Filho.
Com a marca Ruiz Coffees Brasil, João colocou no mercado 14 produtos que são comercializados em todos os estados brasileiros, inclusive com a instalação de um centro de distribuição em Bálsamo. “A aposta é no café gourmet, mas temos toda a linha que o brasileiro aprecia, como, por exemplo, o café extraforte”.
Ele lembra os sabores diferenciados entre o gourmet, que é produzido pela variedade arábica, em 100%, e o extraforte que acaba sendo uma torra queimada e pode perder o sabor ideal do café. “O mercado brasileiro tem uma carência de café de qualidade, e o consumidor aprecia o café adoçado. Ao beber o café de boa qualidade, vai descobrir que é desnecessário adoçar a bebida”, afirma João. (CC)
Tecnologia sem esquecer as raízes

A produção de café colhida manualmente deu espaço à mecanização da lavoura. Nas fazendas de café da família Ruiz, o patriarca João Ruiz Lourenço, 82 anos, ainda se dedica na lida com as plantações dos oito municípios. “Hoje, uma boa colheitadeira faz o trabalho de 80 pessoas”, pontua o produtor.
Segundo João, o café sempre exigiu muita mão de obra na colheita. Atualmente, ele conta com uma equipe de 600 funcionários e que agrega as tecnologias para o trabalho com todos os setores da cafeicultura. João lembra também que não dispensa a tecnologia e acompanha o trabalho do filho Joãozinho – como é chamado pela família –, responsável por percorrer todas as fazendas da família.
“Meus avós vieram da Espanha para trabalhar na agricultura. Meus pais nasceram no Brasil e se instalaram em Bálsamo, iniciando o trabalho com a cultura do café”, conta o produtor. Aos 20 anos, depois de deixar os estudos em São Carlos, onde cursava engenharia civil pela Universidade de São Paulo (USP), seu João comprou a primeira fazenda, na década de 1960. A partir disso, se especializou na produção de café, expandindo os negócios entre outras regiões do País.
Sem dispensar a tecnologia, essencial para os negócios, seu João ainda tem a expectativa de ver os produtos produzidos pela família com ainda mais valor agregado do que têm hoje. “Precisamos, não só exportar o café, mas que o produto saia pronto daqui, não apenas em grãos. Isso vai gerar mais empregos e valorizar ainda mais o café brasileiro”, conclui. (CC)