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AgroDiário

Mais de 70% das propriedades rurais ainda não possuem conexão de internet

Tecnologia 5G começa a ser uma realidade nas grandes cidades, mas no campo ainda falta acesso à internet 4G

por Cristina Cais
Publicado em 15/08/2022 às 22:45Atualizado em 16/08/2022 às 08:27
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Divulgação/Wenderson Araujo/Trilux/CNA (Divulgação/Wenderson Araujo/Trilux/CNA)
Divulgação/Wenderson Araujo/Trilux/CNA (Divulgação/Wenderson Araujo/Trilux/CNA)
Conexão à internet é fundamental para que o desenvolvimento da agricultura de precisão (Divulgação/Wenderson Araujo/Trilux/CNA)
Conexão à internet é fundamental para que o desenvolvimento da agricultura de precisão (Divulgação/Wenderson Araujo/Trilux/CNA)
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Nova geração de internet móvel, o 5G chegou a algumas capitais brasileiras, sendo São Paulo a quinta capital com a tecnologia disponível desde o início do mês. Apesar da expansão urbana, no campo a conectividade com o 4G ainda é considerada um desafio para o agronegócio. De acordo com o censo agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017, mais de 70% das propriedades rurais não possuem conexão de internet.

A pesquisa do IBGE apontou ainda que o País possui 5,07 milhões de propriedades rurais, das quais 71,8% não têm acesso à internet. Segundo especialistas e produtores rurais, na região do Noroeste Paulista o desafio ainda é grande com a conectividade no campo, o que dificulta, muitas vezes, o acesso aos dados de máquinas agrícolas que fazem a conexão com a internet.

“Ainda é um desafio essa conectividade e temos várias áreas rurais com cobertura de 4G. No Brasil, a área de cobertura de internet no campo é de 10,72%. Na região Sudeste, de 31% do total de cobertura; na região Sul, de 35%, e na região Norte, de 2%, enquanto na região urbana é muito maior”, explica Lúcio André de Castro Jorge, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa- Instrumentação).

Mas, o pesquisador acredita que é uma questão de tempo para atualizar a conectividade nas propriedades rurais, sendo que no estado de Mato Grosso, por exemplo, ele diz que já existe a disponibilidade do 5G na área rural. “Existem várias empresas que vendem o 5G, se preparando para chegar ao campo. Iniciaram a expansão com o 5G nas grandes regiões produtoras de grãos, como o Mato Grosso”, avalia.

No estado de São Paulo, apesar de próximo ao maior número de torres de telefonia, Lúcio não acredita que seja prioridade a conexão ao 5G neste primeiro momento. Ele destaca a importância de acesso à internet ou de satélites, para que os produtores ampliem o uso de tecnologias no campo, com sensores nas máquinas, na identificação dos animais em chips, nos drones, entre outras ferramentas importantes para a agropecuária.

Instabilidade

Em pelo menos quatro propriedades rurais de Norival Puglieri, na região de Rio Preto, o acesso à internet esteve muito ruim nos últimos anos. E para o produtor, os investimentos para a implantação de torres de telefonia e outros equipamentos que ampliem a conexão são muito altos. “A instabilidade da internet é enorme em muitas áreas rurais”, afirma.

Ele fez um orçamento, há dois anos, para instalar uma torre e acabou desistindo pois o custo seria de R$ 10 mil para ter equipamentos que proporcionassem maior rapidez para a internet. Além disso, a deficiência é maior quando se tem funcionários nas fazendas - são 27 pessoas entre adultos e crianças. Norival explica que a internet ficou muito instável para o acesso aos celulares durante as atividades das famílias que moram nas propriedades rurais.

SP quer ampliar conexão

O secretário de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, Francisco Matturro, disse ao Diário que está prevista a ampliação de conexão para as áreas rurais no estado paulista, destacando que, atualmente 406 mil estabelecimentos rurais estão instalados no Estado e dependem do acesso à internet.

“Temos uma programação para expandir a conectividade em todas as propriedades rurais. Para isso, já nos reunimos com os gestores de operadoras de telefonia móvel, para discutir essas ações”, afirma o secretário. Ele preferiu não adiantar como será o plano de expansão de conectividade, inclusive do 5G, mas garantiu que o projeto está quase pronto. “Falta um ou outro detalhe jurídico para terminarmos a elaboração deste plano de conexão da internet no campo”, ressalta.

O acesso às tecnologias para culturas como soja, algodão e cana-de-açúcar, levaram o produtor rural Osmair Guareschi a investir em torres de telefonia e de equipamentos para a cobertura de internet em áreas das propriedades localizadas no Noroeste Paulista. “É um investimento muito alto, que pode variar entre R$ 15 mil e R$ 50 mil, o que eu acredito que muito produtor não tenha condições de investir”.

Marcelo Arruda, produtor de soja que mora em um sítio em Santa Adélia e possui áreas arrendadas na região, diz que a localização da propriedade rural, por ser próxima à cidade, impactou pouco no acesso à internet. “Aqui não tivemos tanto problema com a conexão de celular, por exemplo, e nem das máquinas que precisam do GPS para fazer o plantio e outros manejos na lavoura. Mas para emitir a nota fiscal, que é eletrônica, já fica mais difícil o acesso à internet”, diz Marcelo. (CC)

Empresas enfrentam dificuldades

Empresários Emerson Borges Santana e Vagner Luiz Simioni: consultoria no campo (Divulgação)
Empresários Emerson Borges Santana e Vagner Luiz Simioni: consultoria no campo (Divulgação)

Consultor na área de tecnologia do agronegócio, o engenheiro agrônomo Vagner Luiz Simioni observa que na região de Rio Preto os desafios vão além da falta de conectividade da internet. “Ainda temos produtores que não entenderam a importância de adotar a tecnologia no campo. Mas aos poucos notamos que os produtores têm visto que é uma necessidade para a produtividade das culturas o uso de tecnologias”.

Recentemente criada em Potirendaba, por Vagner e seu sócio, Emerson Borges Santana, a Impletech desenvolve tecnologias inteligentes que potencializam a atividade rural na área de agricultura de precisão. Eles precisam muito da conexão da internet para dar a consultoria aos produtores no campo, e Vagner destaca que ainda há áreas rurais deficientes nesta conectividade.

Para a diretora da AGTech, empresa de agrotecnologia de Rio Preto, Sirlene Maria de Oliveira, os serviços prestados envolvem muita tecnologia de equipamentos como drones e outros dados de software. “Muita comunicação no campo com relação às maquinas é feita via satélite, justamente para não dependermos de internet”, ressalta Sirlene.

Por outro lado, Sirlene acredita que a falta de conectividade será resolvida com a expansão do 5G no campo. “O Brasil está investindo muito na tecnologia do 5G e o setor agropecuário está sedento por essa conexão”, finaliza Sirlene. (CC)