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Expansão da cana chega a 388% em 20 anos na região

Estudo da Embrapa mostra mudanças em áreas da produção agrícola brasileira; na região de Rio Preto, a área de canaviais aumentou, enquanto o cultivo de laranja diminuiu

por Cristina Cais
Publicado há 15 horas
Canaviais se expandiram no Noroeste e, especialmente, na região de Rio Preto (Fotos: Divulgação)
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Canaviais se expandiram no Noroeste e, especialmente, na região de Rio Preto (Fotos: Divulgação)
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O que já era visível nas plantações da região de Rio Preto agora está traduzido em números: em 23 anos, a expansão da cana-de-açúcar passou de 87 mil hectares de cultivos em 2000 para 425 mil hectares em 2023, um aumento expressivo de 388,5%. O levantamento faz parte de uma plataforma de dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Territorial) e aponta uma reconfiguração das principais regiões produtoras do País, como os cultivos de cana que passaram a ocupar espaços em áreas de pastagens e de laranja em 29 municípios ao redor de Rio Preto.

A mudança da paisagem agrícola do Noroeste paulista mostrou que o avanço das plantações de cana tem crescido ano a ano, a partir de 2000. Segundo o analista André Farias, da Embrapa Territorial, é muito expressivo o aumento das plantações canavieiras no Noroeste Paulista.

“Observamos um crescimento e uma mudança de área de canaviais, antes mais focada na região de Ribeirão Preto, para a região de Rio Preto, com maiores produções a partir de 2006 e atingindo a maior concentração produtiva em 2017”, diz Farias. Ele explica que o Noroeste paulista atende o setor canavieiro que inclui, por exemplo, boa logística (transporte) para escoar o produto.

Já a produção de laranja, que se concentra no estado de São Paulo e se destacava em 2000 nas regiões de Rio Preto, Araraquara e Jaboticabal, se deslocou mais para o centro-sul, entre os municípios de Avaré, Botucatu e Bauru, conforme aponta o analista da Embrapa. “Apesar do declínio da produção, por conta da doença do greening, a produção de laranja ainda se mantém estável na região de Rio Preto”, pontua.

Soja e bovinos

Os dados que estão na plataforma da Embrapa destacam que, com o avanço das principais cadeias de exportação, o mapa produtivo também mudou, resultando em áreas que perderam relevância, enquanto outras surgiram e ganharam espaço. Na região de Rio Preto a soja é uma dessas culturas que conquistou área na cadeia produtiva.

“Nos últimos três anos a soja também começou a ganhar espaço na região do Noroeste, com cultivares que se adaptaram ao clima seco, e no ano de 2020 já concentrava produção de 36 mil hectares. Como o amendoim, que também se destaca nesta região e ganhou novos plantios nas propriedades de cana, com a reforma dos canaviais”, ressalta Farias.

A produção de bovinos - que também é uma commodity e atende ao mercado exportador de carne bovina - apresentou uma queda nestes 23 anos do estudo da Embrapa. Farias explica que em 2000, a região de Rio Preto produzia volume de 805 mil cabeças, e em 2023, alcançou rebanho total de 538 mil animais.

“As áreas de pastagens também podem ser avaliadas como um espaço ocupado pela cultura da cana-de-açúcar. Muitas propriedades de bovinos arrendaram áreas para a produção de canaviais”, ressaltou.

Como funciona a plataforma

O Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária (SITE-MLog) é uma plataforma interativa desenvolvida pela Embrapa Territorial que organiza dados sobre a produção, exportação e infraestrutura logística de dez cadeias produtivas do agronegócio brasileiro: algodão, bovinos, café, cana-de-açúcar, aves, laranja, madeira para papel e celulose, milho, soja e suínos.

Para acessar, o interessado deve procurar o Portal da Embrapa. O sistema permite gerar mapas e gráficos a partir de informações oficiais, que envolvem análises rápidas e estratégicas para o setor público e privado. A plataforma traz ainda dados sobre a concentração espacial da produção agropecuária, os fluxos de exportação por região e os portos utilizados, além da localização de armazéns e unidades de processamento como frigoríficos e usinas sucroenergéticas.

Cana traz rentabilidade e segurança

A forte expansão da cana-de-açúcar na região Noroeste, a partir do ano 2000, refletiu em renda para o produtor e menos risco em cultivos que têm custos elevados. Na avaliação do produtor rural e diretor de agronegócios da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp), André Seixas, a maioria das áreas de canaviais estava ocupada por pastagens e laranja.

“A cana estava concentrada nas regiões de Piracicaba e de Ribeirão Preto, e nestes últimos 20 anos expandiu para a nossa região até à divisa dos estados de São Paulo com o Mato Grosso do Sul. A nossa região é uma das principais produtoras canavieiras do País, e essas plantações atingiram muita área antes ocupada por pastagem da pecuária”, ressaltou.

Atualmente, André avalia que a questão econômica para o produtor mudou esse cenário da região, que ficou muito mais canavieira. “O produtor se sente mais seguro, se ele arrenda uma área para a usina, tem uma renda com segurança para o proprietário da terra. E ainda temos muitas usinas, instaladas aqui e que também plantam cana no Noroeste paulista”.

Para a produção de laranja, a avaliação de citricultores é de que a questão hídrica, além da doença do greening, tem sido um dos motivos para o declínio da citricultura na região Noroeste. Conforme os dados da Embrapa, a região de Rio Preto produzia 1,5 milhão de toneladas de laranja em 2000 e passou a registrar 770 mil toneladas em 2023.

“Na região de Rio Preto, a produção de laranja só tem viabilidade de negócio com o uso de irrigação e por aqui temos pouca disponibilidade de água para irrigar os pomares, o que limita esse manejo. E o citricultor que erradicou pomares encontrou na produção de cana mais facilidade, com investimento menor e com o canavial que tem menos problemas com déficit hídrico”, avaliou o citricultor José Claudio Ruiz.