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Cultivo de especiarias, como a baunilha, é incentivado na região de Rio Preto

Pesquisadores estão cultivando a baunilha e outras especiarias como pimenta-do-reino e canela para impulsionar a produção de um mercado que vem crescendo no Brasil e é bastante valioso em outros países

por Cristina Cais
Publicado em 07/08/2023 às 22:32Atualizado em 08/08/2023 às 09:07
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O pesquisador Victor Paulo de Oliveira na plantação de cúrcuma, em Onda Verde (Divulgação)
O pesquisador Victor Paulo de Oliveira na plantação de cúrcuma, em Onda Verde (Divulgação)
A pesquisadora Maria Vitória Gottardi Costa na plantação de orquídeas (Divulgação)
A pesquisadora Maria Vitória Gottardi Costa na plantação de orquídeas (Divulgação)
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Segunda especiaria mais cara do mundo, a baunilha pode ser cultivada em pequenas áreas de uma propriedade e envolve além da rentabilidade ao produtor, a beleza da orquídea que origina o produto. Uma pequena fava de baunilha, com dimensão de 18 centímetros e pesando quatro gramas, pode ter custo médio de R$ 60 cada unidade no mercado ou R$ 5 mil o quilo para o agricultor.

No Noroeste do estado de São Paulo, pesquisadores estão cultivando a baunilha e outras especiarias como pimenta-do-reino e canela para impulsionar a produção de um mercado que vem crescendo no Brasil e já é bastante valioso em outros países. Pesquisadores explicam que o brasileiro adotou a pimenta-do-reino como a mais consumida, sendo o País o segundo maior exportador mundial dessa especiaria.

Segundo dados da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a exportação brasileira arrecadou mais de US$ 300 milhões com a venda da pimenta-do-reino no ano de 2021. O agrônomo e pesquisador em plantas tropicais e especiarias, Victor Paulo de Oliveira, de Rio Preto, diz que o produtor pode ter uma possibilidade estratégica com a produção de especiarias, um nicho de mercado que vem crescendo bastante em solo brasileiro.

Victor e a professora da Faculdade estadual de Tecnologia (Fatec) de Rio Preto Maria Vitória Gottardi Costa, estão cultivando as especiarias para incentivar alunos e produtores rurais na escolha de produtos que podem ter rentabilidade, e ainda, diversificar as culturas da região. Para isso, a professora Vitória plantou 40 orquídeas em áreas distintas na escola técnica (Etec) de Monte Aprazível.

“É um mercado muito valoroso, o das especiarias, e a baunilha tem alcançado bom espaço no Brasil, ainda que as orquídeas sejam pouco produzidas. Hoje, a fava de baunilha é a segunda mais valiosa, perdendo em termos de valor apenas para o açafrão, que é a especiaria mais cara do mundo”, conta a professora, lembrando que a especiaria de açafrão não é a mais conhecida do mercado, aquela em pó, e sim de uma planta bastante rara. Um quilo pode chegar a custar R$ 70 mil.

Plantios

A professora Vitória começou a colher as primeiras favas de baunilha e já fez os experimentos com a planta, que exige muitas etapas para chegar ao mercado consumidor. Em Monte Aprazível, ela plantou 20 orquídeas (espécie Vanilla planifolia) em um sistema de área coberta por telado, e outras 20 orquídeas em sistema agroflorestal, entre seringueiras e cacau, com a intenção de observar como o desenvolvimento das plantas se daria melhor.

Em outra área da escola, o pesquisador Victor plantou algumas mudas de especiarias como pimenta-do-reino, cravo-da-índia, canela-do-ceilão, pimenta-da-jamaica, noz-moscada, guaraná e louro. “É difícil encontrarmos uma coleção de especiarias como essa no estado de São Paulo. Por isso, importante para os alunos, já que muitos são filhos de agricultores, conhecerem as plantas e esse nicho de mercado”, diz Victor.

Baunilha exige conhecimento

As plantas de baunilha se desenvolvem bem em área coberta (Divulgação)
As plantas de baunilha se desenvolvem bem em área coberta (Divulgação)

A cadeia produtiva da baunilha exige técnica e conhecimento do produtor. De acordo com a pesquisadora Maria Vitória, as mudas das orquídeas precisam ter boa procedência, ou seja, o produtor deve buscar orquidários com certificação de sanidade das plantas. “O cultivo também exige técnica para a polinização, que é feita manualmente, flor a flor”.

Vitória acredita por ser um trabalho minucioso, com a produção das plantas que originam a baunilha, ainda poucos produtores se interessam pelo mercado dessa planta. “A demanda é alta pela baunilha e países como os da União Europeia e Estados Unidos apreciam muito a especiaria, principalmente o setor de sorvetes. A baunilha é o sabor de sorvete preferido do europeu”, explica.

A baunilha é uma planta da família da orquídea, originária do México. Porém, Vitória aponta que há mais de 15 espécies da planta no Brasil, sendo Madagascar, o principal produtor da espécie que origina a fava de baunilha. “Para o produtor da nossa região, que possui uma pequena área, é uma alternativa para a produção em cobertura com telado”.

Vitória diz que nos dois sistemas em que produz a orquídea, o que possui a cobertura com o telado, resultou em bom desenvolvimento das plantas. Também após as flores se desenvolverem, ela conta que fez o processo de desidratar e secar os frutos. “É o processo de cura, que deve ser feito para manter o sabor e aroma da baunilha”, finaliza. (CC)

Fazenda de especiarias

O produtor Marcos Melo afirma que produzir especiarias na região é um desafio, já que as plantas precisam de umidade, e o clima seco do Noroeste pode prejudicar as lavouras. Ele conta que em Onda Verde cultivou a maior plantação de urucum - uma especiaria muito usada para dar coloração aos alimentos - do estado de São Paulo. “Hoje tenho uma pequena área de urucum e de outras especiarias, mais para colaborar com as pesquisas do Victor”.

Há 15 anos, ele plantou mais de 50 mil pés de urucum e cultivou apenas a especiaria por muito tempo, nos 170 hectares da fazenda. Atualmente, Marcos cultiva cana-de-açúcar e diz que foi impossível não se render à cultura canavieira, por estratégia de produção, já que a propriedade está localizada em área próxima a uma usina. “Muitos alimentos industrializados adotam o urucum, eu investi bastante na cultura, naquela época”, diz Marcos.

Amigo de Victor, Marcos diz que na época o pesquisador ainda atuava no Instituto Agronômico (IAC), e o ajudou a entender melhor sobre o plantio de urucum. “Hoje contribuo com as pesquisas, tenho aqui cúrcuma, cravo-da-índia, canela, entre outras”, acrescenta o produtor. (CC)