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Condições climáticas influenciam na produção do milho na região

Região Noroeste deve ter quebra de produção do milho safrinha em função das condições climáticas adversas, mas o lado bom da atividade é o que mercado continua aquecido

por Cristina Cais
Publicado em 24/07/2021 às 00:46Atualizado em 24/07/2021 às 08:50
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Plantação de milho de Reginaldo Massuia: clima quente e geada trouxeram prejuízos (Divulgação)
Plantação de milho de Reginaldo Massuia: clima quente e geada trouxeram prejuízos (Divulgação)
Milho ficou comprometido (Divulgação)
Milho ficou comprometido (Divulgação)
Espigas ficaram irregulares na produção de Leonardo Amendola (Divulgação)
Espigas ficaram irregulares na produção de Leonardo Amendola (Divulgação)
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O milho segue com preços firmes no mercado brasileiro, mesmo com as adversidades climáticas enfrentadas para o cultivo, entre a falta de chuvas no início do plantio e as geadas dos últimos dias, o que ainda estimula produtores da região Noroeste a plantar o cereal na safrinha. Com este cenário, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) avaliou que, no estado paulista, o milho semeado poderá ter queda de 20% da produtividade por conta da falta de chuvas durante a germinação e o desenvolvimento irregular das plantas.

As lavouras, que em parte estão em colheita no Noroeste Paulista e em parte com a safra encerrada, apresentaram quedas de produtividade e até mesmo perda total. Segundo a Conab, em regiões do norte e noroeste do estado de São Paulo, os relatos são de produtores que perderam toda a plantação. E com a maior parte do milho em enchimento de grãos e maturação, os pesquisadores avaliaram que a safra deve ficar comprometida para os produtores que vão terminar a colheita no fim de julho.

Reginaldo Massuia, produtor rural de Nhandeara, avaliou prejuízo de 80% com o milho de segunda safra (safrinha) em 2021. “No ano passado colhi cerca de 30 mil sacas, mas nesta safrinha o prejuízo foi grande. Devo colher perto de 5,5 mil sacas apenas”. Ele calcula prejuízo de R$ 600 mil com a produção de 500 hectares de milho plantados neste ano.

O milho foi semeado, segundo Reginaldo, logo após o plantio de soja, mas como as chuvas foram muito irregulares na propriedade, o produtor afirmou que o milho exigiu mais investimentos com a produção se comparado à soja. Os altos custos com insumos, entre adubos, que acompanham os preços do dólar, e defensivos, impactaram ainda mais a produção de milho de Reginaldo durante a safra deste ano.

Porém, com os preços do milho em alta e a demanda crescente do produto no mercado brasileiro, Reginaldo destacou que apesar de arriscado, ainda compensou o plantio. “Chegou até a ter uma queda na cotação, mas agora, após a geada que atingiu lavouras de vários estados, os preços devem ter novas altas”, diz.

 Clima

Para a atual safra, 2020/21, a Conab estimou um volume de 260,8 milhões de toneladas de grãos no País, com uma redução de 9% do plantio de milho em relação à safra passada. O levantamento realizado neste mês apontou também que o atraso no plantio das culturas de primeira safra, aliado ao comportamento climático irregular, impactaram negativamente o potencial produtivo das culturas de segunda safra, principalmente do milho, resultando em alterações significativas na produtividade.

Para acompanhar melhor o desenvolvimento das lavouras de milho, devido ao clima irregular dos últimos dois anos, o produtor Paulo Macedo sempre fica de olho na meteorologia e busca informações com pesquisadores que avaliam as mudanças climáticas de forma global. Nesta safra do milho, Paulo decidiu investir no sistema de irrigação. “O investimento é alto, de R$ 450 mil, mas deve contribuir para os plantios não só de milho, como da cana também”.

Na área plantada em Palestina, Paulo percebeu a queda de produtividade do milharal. Na safra passada, a produção era de 85 a 90 toneladas por hectare, mas o produtor registrou redução de 70 toneladas por hectare cultivado na safra 2020-2021. Além da falta de chuvas, Paulo disse que a geada acabou por prejudicar ainda mais o milho que estava para ser colhido, interferindo no desenvolvimento das espigas.

A poucos dias do final da colheita do milho, o engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura de Mirassolândia, Carlos Roberto Geraldo avalia que o produtor que não soube aproveitar a janela ideal do plantio de milho, da segunda safra, correu o risco de perder toda a produção. “São 100 dias, em média para dar o pendão do milho, um ciclo que exige cuidados. E com o atraso do plantio pela falta de chuvas e de dois episódios de geadas, o produtor sofreu bastante neste ano com a cultura”.

Estocagem supera expectativa

O gerente do Silo da Cooperativa Agropecuária Mista da Região de Palestina, Leonardo Jeppez, disse que a armazenagem de milho superou as expectativas com a segunda safra de milho. “O clima estava bem instável, prevíamos uma produção menor de milho, mas até nos surpreendeu a estocagem, que foi maior em relação à safra passada”. No silo, Jeppez afirmou que estão estocadas, em média, 45 mil sacas (de 60 quilos) de milho. Na safra passada eram 30 mil.

“Na região de Palestina, a maioria dos produtores concluiu a safra, mas ainda estamos recebendo o milho de produtores de outros estados. Vimos que quem conseguiu plantar quando ocorreu um pouco de chuva, ainda teve uma produtividade melhor”, afirmou Jeppez. 

Nos 450 hectares de milho plantados em Paulo de Faria, o agricultor Leonardo Amendola disse que uma parte da lavoura foi impactada pela geada. “O prejuízo afetou entre 120 a 150 hectares da minha lavoura”. A produtividade deve ser 30% menor.

Leonardo disse que é um desafio produzir milho no estado de São Paulo, principalmente nesta safra que está com insumos muito caros. “Os custos com adubo aumentaram 40%, além do preço do óleo diesel, que também subiu muito. As sementes para o milho safrinha, que antes se pagava R$ 500 para cada hectare plantado, agora subiu para R$ 800”.

Para Leonardo, o que compensa são os preços atrativos que estão estabelecidos no mercado da venda de milho, com a expectativa de ter novas altas de preços, em decorrência da geada e que pode causar a escassez do produto. “Mesmo com a baixa produtividade, mas com preços que variaram entre R$ 95 e R$ 100 a saca, ainda é atrativo plantar o milho”, ressaltou. (CC)