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Algodão colorido começa a ser produzido na região de Rio Preto

Projeto elaborado por empresa têxtil investe em variedade de algodão em Riolândia, tradicional polo cotonicultor da região de Rio Preto

por Marival Correa
Publicado em 08/08/2020 às 00:02Atualizado em 06/06/2021 às 22:21
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Plantação de algodão marrom na propriedade de Diogo Mendonça Lemos (Divulgação)
Plantação de algodão marrom na propriedade de Diogo Mendonça Lemos (Divulgação)
O produtor Diogo Mendonça Lemos em sua plantação de algodão (Divulgação)
O produtor Diogo Mendonça Lemos em sua plantação de algodão (Divulgação)
Algodão marrom, em plantação de Riolândia (Divulgação)
Algodão marrom, em plantação de Riolândia (Divulgação)
Algodão marrom plantado pelo produtor Diogo Mendonça Lemos (Divulgação)
Algodão marrom plantado pelo produtor Diogo Mendonça Lemos (Divulgação)
Algodão marrom é sustentável, comparado ao da cor branca (Divulgação)
Algodão marrom é sustentável, comparado ao da cor branca (Divulgação)
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Uma fibra de algodão colorida e sustentável, sem a necessidade de tingimento e, consequentemente, menor quantidade de água utilizada na fabricação do fio. A ideia reuniu uma empresa paulista e 20 produtores de algodão de Riolândia, na região Noroeste do Estado de São Paulo. A colheita da primeira safra de algodão marrom ocorreu nos meses de maio e julho deste ano, e deixou os cotonicultores satisfeitos com o resultado do plantio da fibra colorida.

As lavouras do município de Riolândia - assim como as de outras cidades vizinhas -, vêm retomando a produção de algodão branco há pelo menos três anos, de acordo com os agricultores da região, que já foi considerada a maior produtora de algodão do estado de São Paulo. O investimento na produção de algodão marrom incrementou a produção da cultura, sendo considerado lucrativo para os produtores, que conseguem comercializar o produto pelo dobro do preço de que é vendida a fibra branca.

O produtor rural, Nilssom Rodrigues da Silva, integra o projeto do plantio do algodão marrom, em Riolândia. Ele deixou de plantar 130 hectares do algodão branco, na safra 2018-2019, para investir em 63 hectares do algodão marrom, da safra deste ano. "Poderia ser melhor, tivemos um ano (no final de 2019) com excesso de chuva, o que é ruim para a planta do algodão, mas no geral fiquei satisfeito com a produção", disse Nilssom.

Aposta na pesquisa

A lucratividade com o algodão colorido foi o principal motivo para Nilssom investir na cultura, mesmo que a fibra marrom não tenha uma produtividade expressiva se comparada com a branca. "Acreditei nas pesquisas que estão sendo desenvolvidas e na busca por uma semente de algodão colorido que seja mais produtiva. Porém, como o preço pago ao produtor é maior, em relação ao algodão branco, resolvi plantar o marrom", analisou o produtor rural.

Nilssom lembrou ainda que, com a pandemia do novo coronavírus, as negociações com a indústria têxtil estão paralisadas e o equivalente a sua produção, de 280 arrobas de algodão marrom, está estocado. "Muitas indústrias de tecelagem ficaram sem funcionar com a quarentena imposta em várias cidades para controlar a Covid-19. Mas agora já estamos retomando as negociações. O bom é que o algodão não corre o risco de estragar ao ficar estocado".

A demanda pela fibra colorida também levou o produtor e engenheiro agrônomo Diogo Mendonça Rodriges Lemos, a apostar na produção do algodão da cor marrom, um nicho, segundo ele, diferente no mercado da indústria têxtil e que não há a produção em grande escala no Brasil. Para Diogo, o projeto de plantio da fibra marrom deve ter continuidade nas próximas safras, mas não são todos os produtores que investiram na plantação.

"A mão-de-obra com o plantio do algodão da cor marrom é maior, pois a semente é natural, não tem a transgenia da semente do algodão branco, por exemplo, que é mais resistente às pragas", afirma Diogo. Mas por outro lado, Diogo explica que os preços são mais atrativos, "com a fibra marrom nós comercializamos a R$ 200,00 a arroba, enquanto que a da branca custa R$100,00".

Produtividade e novas cores

O algodão colorido existe há muitos anos na natureza, sendo tão antigo quanto o algodão branco, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A partir do ano 2000, a Embrapa desenvolveu pesquisas com sementes de algodão colorido no Nordeste do país, e no estado de São Paulo, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, desenvolveu pesquisas com cultivares de fibra marrom para a produção no estado paulista.

"Há 15 anos estamos pesquisando as sementes do algodão marrom, trabalhando para melhorar as características da fibra colorida", disse o pesquisador aposentado do IAC, Edivaldo Cia. Além da produtividade do algodão colorido, o pesquisador explicou que é preciso melhorar o tamanho da fibra marrom, que é 10% menor se comparada ao algodão da cor branca.

As pesquisas também têm buscado novas cores de algodão, além do marrom, como as de tons verde e vermelho, que já possuem as sementes do IAC, de acordo com o pesquisador. "Hoje, 80% do algodão branco produzido no Brasil é transgênico, por ser mais resistente a pragas e plantas daninhas. A nossa intenção é que o produtor invista em uma fibra natural, como a colorida, e que as empresas têxteis se interessem na compra do produto", disse Edivaldo.

Nos 70 hectares plantados em Riolândia, do algodão colorido, Edivaldo disse que os produtores devem contar com as boas perspectivas do mercado das fibras coloridas. "O mercado é muito bom, o Brasil tem exportado bastante algodão para as tecelagens", frisou. O pesquisador lembrou também que é uma oportunidade, no projeto desenvolvido no Noroeste Paulista, para o produtor ter lucro garantido maior em relação ao que é pago pela pluma branca, e a indústria poder contar o ano toda com o algodão colorido.

Empresa investe R$ 500 mi

A alternativa sustentável do plantio do algodão colorido levou um grupo a criar o projeto Cotton Droplet, que tem investimento inicial de R$ 500 milhões em plantações do produto no Noroeste Paulista. Conforme o coordenador do projeto, o engenheiro têxtil Yuri Fazion Gradela, há perspectiva de ampliação da área plantada, para 2,0 mil hectares, na próxima safra do algodão colorido.

Para Yuri, há demanda industrial pela utilização da fibra colorida, o que levou a equipe a procurar pelos produtores de algodão de Riolândia, que já possuem o conhecimento da cultura do algodão. "Investimos também em pesquisas das sementes e em tecnologias de plantio, como o uso de drones nas plantações."

Yuri ressalta a importância que a fibra natural colorida no mercado. "Temos que considerar os problemas com o meio ambiente, como as fibras encontradas em oceanos e aterros, em sua maioria de artigos têxteis descartados, e mais da metade de fibras sintéticas. Há ainda grande quantidade de água necessária para o alvejamento e tingimento da fibra de algodão branco", diz Yuri ao destacar a demanda por materiais naturais e orgânicos. (CC)

Brasil é 4º do ranking mundial

Segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), a produção mundial de algodão em pluma totalizou 25,72 milhões de toneladas na safra de 2018/19, com redução de 4,6% comparativamente à safra anterior. O Brasil ocupa a quarta colocação no ranking e responde por 10,6% do total global. Os maiores produtores do algodão são Índia, China e Estados Unidos.

A produção brasileira de algodão em pluma alcançou 2,78 milhões de toneladas na safra 2018/19, com acréscimo de 39% em relação ao ano anterior, resultante da expansão em área nas mesmas proporções. As condições de mercado favoráveis, em especial para exportações, influenciaram na decisão de expandir o cultivo da fibra, conforme a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab).

Ainda conforme levantamento da Conab, em 2019, a área cultivada do algodão teve um crescimento de 37,8%, resultando em uma produção de 1,61 milhões de toneladas, aumento de 36% em relação à safra anterior. (CC)