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Agricultores da região de Rio Preto adotam práticas naturais para produzir alimentos

Agricultores da região de Rio Preto adotam práticas de manejo natural para a produção de legumes, verduras e frutas; consumidores participam de comunidade que apoia os produtores

por Cristina Cais
Publicado em 21/11/2023 às 01:54Atualizado em 21/11/2023 às 08:25
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Alimentos que vão nas cestas da comunidade da agricultura natural (Divulgação)
Alimentos que vão nas cestas da comunidade da agricultura natural (Divulgação)
Anderson Murilo de Lima faz pesquisa sobre agricultura natural (Divulgação)
Anderson Murilo de Lima faz pesquisa sobre agricultura natural (Divulgação)
Na lavoura de Aparecido, o princípio é o da agricultura natural (Divulgação)
Na lavoura de Aparecido, o princípio é o da agricultura natural (Divulgação)
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Aprender a conviver com a natureza e a trabalhar de forma sustentável no manejo do solo para a produção de alimentos fazem parte da agricultura natural. Na região de Rio Preto, agricultores buscam esse manejo natural na produção de legumes e verduras, contando com o apoio de famílias que compram mensalmente os produtos dos agricultores.

Há mais de três décadas no trabalho com a agricultura natural, Aparecido Donizeti Nunes, o seu Cido, conta que atua na terra sem a intervenção de nenhum produto químico, utilizando ao máximo dos recursos da natureza, e produzindo um alimento muito saudável.

“O apoio da comunidade nos ajuda na renda, trabalhamos com um lucro bem razoável. O maior desafio que enfrentamos hoje é a mão de obra, ninguém quer trabalhar no campo, no sol quente”, conta seu Cido. Ele diz que desde 2018, os agricultores se uniram, com o apoio dos consumidores que querem um produto natural, e entregam semanalmente, os alimentos trazidos diretamente do campo.

Segundo o agricultor, o sistema tem dado muito certo para a produção do sítio, localizado em Nova Itapirema (distrito de Nova Aliança) e denominado como Comunidade que Apoia a Agricultura Natural (CAAN), que envolve diversos alimentos. “Atendemos 108 famílias no sistema de cotas e que nos fazem a contribuição do pagamento no início de cada mês. Todas às quintas- feiras elas recebem a cesta com seis itens de alimentos”, diz o agricultor.

Ele explica que essa forma de comercializar os produtos está dando muito certo. “Como trabalhamos com a agricultura natural, também priorizamos o meio ambiente. É como observamos a natureza para produzir o alimento, lembrando que não é agricultura orgânica, porque não usamos insumos orgânicos, como esterco, ou outros adubos”.

Trabalhar o solo

O conceito de agricultura natural é um movimento que teve início da década de 1930 com o fazendeiro e filósofo japonês Mokichi Okada, que utilizou dos conhecimentos naturais do solo, sem o uso de agroquímicos. Segundo o professor universitário e pesquisador em agricultura natural Anderson Murilo de Lima, o método agrícola de Okada reconhece a força natural (energia) do solo como principal elemento no cultivo de alimentos de qualidade.

“Hoje, a agricultura tradicional tem como princípios a nutrição das plantas, já a agricultura natural foca na energia vital do solo, com a ciclagem de nutrientes e o trabalho da matéria orgânica da terra”, explica o professor. Para Anderson, além de preservar o meio ambiente, a agricultura natural potencializa a saúde humana e traz qualidade de vida para o agricultor, que não utiliza produtos químicos no trabalho da lavoura.

Ainda conforme o pesquisador, estudos apontam que a propriedade rural que trabalha com a agricultura natural, geralmente formada por agricultores familiares, pode ter custo de produção 70% menor em comparação com a produção de alimentos orgânicos e convencional. “Podemos dizer sim, que o alimento natural é competitivo, e gera rentabilidade ao agricultor”.

Solos têm potencial natural

Levantamento do Mapa de Potencialidade Agrícola Natural das Terras do Brasil, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 32% dos solos do País têm potencial natural para a agricultura. De acordo com os dados, entre os mais de 500 solos existentes no Brasil, 29,6% tem boa e 2,3% muito boa potencialidade ao desenvolvimento agrícola.

O analista da pesquisa, Daniel Pontoni, destaca que o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e que o estudo é um trabalho inédito. “Buscamos entender melhor o potencial agrícola do solo do Brasil e suas limitações, fazendo uma análise não indicativa de uso, mas interpretativa do solo e do relevo”, comenta. (CC)

Agricultor mantém manejo natural

Na lavoura de Aparecido, o princípio é o da agricultura natural (Divulgação)
Na lavoura de Aparecido, o princípio é o da agricultura natural (Divulgação)

A referência da agricultura natural também é importante para outros produtores que priorizam os alimentos mais saudáveis e sustentáveis, como os produzidos de maneira agroecológica ou mantendo o cultivo em sistema de agroflorestal. No sítio de Walter Luiz Tadini Filho, a produção de hortifrútis começou com o manejo da agricultura natural.

Na propriedade da família, Walter explica que quando os pais dele começaram a plantar, a terra era de pasto, estava degradada. “Depois disso, durante 20 anos foram cultivadas árvores nativas, frutíferas e exóticas. E o meu objetivo é manter a agrofloresta, onde planto os alimentos”, pontua.

Ele conta ainda que no manejo da agricultura natural, utilizava apenas a palhada, a roçada para enriquecer o solo, Porém, atualmente ele passou a trabalhar com a agricultura orgânica. “Percebi que precisava fazer o uso de alguns nutrientes para o solo, para ter uma boa colheita, mas isso já faz um ano, então ainda mantenho o manejo natural, sem insumos”.

Walter também comercializa os alimentos orgânicos com o sistema da Comunidade que Apoia a Agricultura (CSA), entre dez famílias que compram os alimentos. “A gente produz os alimentos da época, como agora, por exemplo, vai jabuticaba, manga, mandioca, batata-doce e ervas para chá, quando a pessoa pede, na cesta dos produtos. É um sistema de partilha e também recebemos aqui as famílias, para ter o contato com a natureza”.

O biólogo Guilherme Imura mudou-se de São Paulo para trabalhar na propriedade da família, em Nova Aliança, com a proposta de trabalhar com alimentos naturais. Atualmente, ele está na transição agroecológica para a produção de alimentos, mas também iniciou os plantios com o conceito da agricultura natural.

“A minha trajetória é de respeitar a terra por tudo que temos visto hoje no mundo, dos sérios eventos climáticos, e dar a minha contribuição, que é a de produzir alimentos saudáveis, sem produtos químicos”, conta. (CC)