Nutrição do animal é um dos aspectos fundamentais para o pecuarista
Especialistas orientam sobre os perigos do uso da cama de frango como alternativa alimentar



Um dos pontos importantes para a pecuária, de corte ou de leite, é a sanidade do animal, um cuidado que o pecuarista deve acompanhar de perto para manter a produtividade do rebanho. E um dos aspectos fundamentais é a nutrição de qualidade. De acordo com o Escritório de Defesa Agropecuária (EDA) de Rio Preto, é importante esclarecer aos produtores rurais que, além de ser proibida a utilização de alimento conhecido como cama aviária ou cama de frango, há riscos para o rebanho.
Segundo o médico veterinário Aldris Rogério Martins, da Defesa Agropecuária de Rio Preto, “a cama de aviário ou cama de frango, como é mais conhecida, é o conjunto do material utilizado para forrar o piso dos galpões de granjas, que pode ser de maravalha (raspagens de madeira), palha de arroz, feno de capim, sabugo de milho triturado ou serragem com as fezes, urina, restos de ração e penas que se misturam com esse material”.
Esses produtos para alimentação de bovinos - com a inclusão de proteínas e gorduras de origem animal, inclusive a cama de frango e resíduos de criações de suínos - podem colocar todo o rebanho em risco. “O produtor rural que descumpre a lei está sujeito à aplicação de sanções e penalidades, conforme legislação federal, estadual e ação do Ministério Público”, destaca o médico veterinário Acácio Romoaldo Assoni Rodrigues, diretor técnico de Divisão do EDA de Rio Preto.
As contaminações, que podem ocorrer com essa alimentação são doenças como o botulismo, a salmonela e a Encefalopatia Espongiforme Bovina, que também é conhecida como doença da vaca louca. Aldris explica que o botulismo é uma doença causada pela ingestão da toxina (a Clostridium botulinum), que pode ser encontrada no meio ambiente e causa paralisia muscular do animal, levando-o invariavelmente à morte.
“A doença conhecida como vaca louca pode ser transmitida através de uma proteína chamada prion, encontrada na farinha de carne e ossos de animais infectados, que é incorporada à ração de aves, além de soja, milho e sais minerais. Esse material pode estar presente na cama de frango, e ao ser adicionado na alimentação de bovinos, os animais são infectados”.
Os primeiros casos da doença da “vaca louca” ocorreram na Europa em 1986, tendo sido registrados também em outros continentes, segundo o veterinário. Aldris disse ainda que o Brasil é considerado de baixo risco da doença. “É importante salientar que o consumo de produtos de origem animal provenientes de bovinos tratados com “cama de frango”, também apresenta risco à saúde humana”.
Os produtores rurais que utilizarem produtos de origem animal na alimentação de ruminantes estão sujeitos às penalidades previstas em lei, como a interdição da propriedade e o abate dos animais, além de outras sanções.
O que é
A cama de aviário ou cama de frango é o conjunto do material utilizado para forrar o piso dos galpões de granjas, que pode ser de maravalha (raspagens de madeira), palha de arroz, feno de capim, sabugo de milho triturado ou serragem com as fezes, urina, restos de ração e penas que se misturam com esse material
Produtores conhecem os riscos
O produtor rural Renato Ramires Júnior, de José Bonifácio, diz que não faz o uso de cama de frango em sua propriedade, sabendo dos riscos que uma contaminação por alimentação deste tipo pode causar para o rebanho. “A preocupação com a sanidade animal aqui é muito grande. Tenho todos os cuidados possíveis para o manejo da alimentação do rebanho”.
Por trabalhar com rebanho de pura origem, como o da raça angus, Renato diz que os critérios para a sanidade animal são importantes “e procuro alimentos muito selecionados, além de estar sempre atento para as formulações de rações que podem conter algum produto inapropriado para o rebanho”.
O pecuarista diz ainda que com relação às doenças, a da vaca louca é insignificante no rebanho brasileiro, mas assim mesmo já foi suficiente para suspender recentemente as exportações para a China, com dois casos atípicos que apareceram no Brasil. “Com a doença do botulismo tenho uma preocupação maior. Já vi um vizinho perder quase todo o rebanho, com os animais que foram à morte depois que ele ofereceu a cama de frango para o rebanho”.
O produtor rural Orivaldo Rosa, de Tabapuã, acredita que independentemente da proibição com o uso de cama aviária, ele não ofereceria para os animais. “Penso também na saúde da população, com a carne que pode ser contaminada”.
Na alimentação do rebanho Orivaldo usa milho, polpa cítrica, ureia e cana-de-açúcar triturada. E ultimamente, com a falta de chuva, o pasto ficou mais restrito para servir de alimento. “Desde o mês passado tenho deixado o gado somente no cocho. Não está fácil acompanhar a alta valorização que estamos tendo com os insumos, principalmente com a ração”. (CC)
Em busca de alternativas viáveis
A alta de preços de insumos que acompanham o dólar, além de o tempo seco que não proporciona a pastagem para o gado, impactou diretamente no caixa dos pecuaristas. A orientação do zootecnista da Casa da Agricultura de Guapiaçu Leandro Costa Falco é que o produtor rural procure alternativas para a alimentação do gado. O pecuarista que trabalha com confinamento de bovinos tem muita dificuldade em fechar as contas da propriedade.
“Uma alternativa que tenho visto bastante para alimentar o rebanho bovino é utilizar o bagaço da laranja. Atualmente, o que está encarecendo bastante a alimentação são os concentrados com milho e soja”, diz o zootecnista. Porém, Leandro disse que existem muitas opções de indústrias que oferecem bom custo-benefício para o pecuarista “e dispõem de formulações para todas as idades dos animais”.
Com relação ao uso de cama de frango, Leandro acredita que alguns produtores podem procurar recorrer a esta alimentação por ser de baixo custo. “É totalmente inadequada, além de ser proibida, e o risco com a perda de animais é maior ainda”. O zootecnista destacou que o ideal é uma dieta balanceada para o rebanho, que inclui milho, soja e polpa cítrica. (CC)