Diário da Região
MÚSICA CLÁSSICA

Sem recursos, Orquestra Sinfônica de Rio Preto luta para sobreviver

Grupo de Rio Preto, com 80 anos, busca apoio para fazer apresentações

por Salomão Boaventura
Publicado em 28/06/2022 às 20:29Atualizado em 29/06/2022 às 08:53
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Apresentação da Orquestra Sinfônica de Rio Preto realizada no Riopreto Shopping (Divulgação/Ricardo Boni)
Apresentação da Orquestra Sinfônica de Rio Preto realizada no Riopreto Shopping (Divulgação/Ricardo Boni)
Maestro Gilmar Assis rege a Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto desde 2012 (Guilherme Baffi 27/06/2022)
Maestro Gilmar Assis rege a Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto desde 2012 (Guilherme Baffi 27/06/2022)
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Fundada em janeiro de 1942, a Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto (OSSJRP) encantou o público rio-pretense e de dezenas de cidades durante suas apresentações. No entanto, no ano que se torna octogenária, a temporada que comemoraria a ocasião teve que ser suspensa por falta de verbas.

Segundo o maestro Gilmar Assis, que rege a OSSJRP desde 2012, a orquestra rio-pretense é uma instituição sem fins lucrativos e está desde o ano 2000 sem receber recursos financeiros do município de forma constante. “Até o ano 2000, tínhamos um projeto que trabalhávamos com a Secretaria de Educação, que era um convênio e foi reincidido. Depois disso, a gente conseguiu parcerias e reconhecimento”, afirma.

De acordo com o maestro, desde essa ocasião, a Prefeitura de Rio Preto repassa verbas de forma esporádica, por meio de subvenções. “A gente sempre é grato por qualquer apoio. Na verdade, essas subvenções eram o pagamento de apresentações musicais. A gente fazia uma apresentação para a Prefeitura e o valor vinha como subvenção. Os valores das subvenções não davam para cobrir gastos fixos, a gente dividia o valor para pagar os cachês dos músicos e não sobrava no caixa da instituição. Isso é diferente de ter uma subvenção para a manutenção”, explica Assis.

Atualmente, segundo Assis, nenhuma empresa patrocina a orquestra. “Antes da pandemia, tínhamos empresas que patrocinavam de maneira direta, sem incentivo fiscal, mas depois da pandemia cessaram os apoios das empresas como patrocínio”, conta.

Leis de incentivo, como o ProAC (Programa de Ação Cultural Estadual), também ajudaram a orquestra no passado. “Em 2019, fomos contemplados no ProAC, que é o programa estadual. Isso mostra que a gente tem relevância, que a nossa documentação está em dia”, diz.

Atualmente, a OSSJRP conta com 50 músicos, que não são registrados. Os profissionais recebem cachês pelas apresentações. “Infelizmente, a gente não consegue manter nenhum músico como CLT. Quando a gente tinha o convênio com a Prefeitura, a gente conseguia”, conta.

Luta por captação

Declarada por lei, nas esferas municipal e estadual, como “utilidade pública” e tombada como patrimônio de Rio Preto, a OSSJRP possui projetos em andamento no ProAc e na Lei Rouanet para captação de recursos.

“No ProAc, o projeto foi enviado para a comissão de avaliação. Então, está quase para eles liberarem. Agora, com relação ao projeto da Lei Rouanet, esse está totalmente parado. Inclusive, vários artistas estão reclamando que tudo está paralisado”, diz o maestro

Reunião com Prefeitura

Segundo o maestro, recentemente, ocorreram reuniões com a Secretaria de Cultura, mas ainda nada foi definido. “A gente precisa do andamento desse projeto para depois buscar apoio da iniciativa privada. Estamos em clima de espera por conta disso”, diz.

Por meio da assessoria, a Secretaria de Cultura informou que “a pedido do prefeito Edinho Araújo, o assessor da Secretaria de Cultura, Jorge Vermelho, elaborou um projeto de revitalização da Orquestra Sinfônica de São José do Rio Preto. O mesmo foi entregue ao prefeito”.

Existem ações de incentivo, de acordo com a pasta. “A Secretaria de Cultura realiza anualmente o Prêmio Nelson Seixas de Fomento Cultural que está aberto a, como os demais segmentos da música e de todas as outras modalidades artísticas, projetos da Orquestra Sinfônica como proponente. A música clássica também é contemplada nos Núcleos de Artes e Cultura, onde são oferecidas aulas teóricas e práticas em diversos instrumentos, canto coral, teoria musical”.

Todos os repasses financeiros são feitos por meio de editais. “A Secretaria de Cultura informa que não faz repasse direto a nenhum grupo ou segmento específico, fora das políticas culturais de fomento, ou seja, editais. Desde 2017, início da gestão de Edinho Araújo, a Secretaria de Cultura já convidou a Orquestra para três apresentações, destes, dois foram aceitos e as apresentações realizadas”.

Sinfônica de Ribeirão tem apoio

Orquestra Sinfônica de Ribeirão realiza três apresentações mensais (Reprodução/ Instagram)
Orquestra Sinfônica de Ribeirão realiza três apresentações mensais (Reprodução/ Instagram)

Com suas atividades iniciadas em 1922, a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (OSRP) é uma das orquestras profissionais mais antigas em atividade no Brasil. O apoio que recebe de empresas da cidade, o que possibilita uma melhor manutenção da entidade, é um ponto forte.

Segundo José Antônio Francisco, gestor da OSRP, as verbas chegam por meio de projetos para pessoas físicas (como sócios e patronos), uso das Leis de Incentivo Federal e Estadual e, além disso, cerca de 20 empresas de Ribeirão Preto apoiam a OSRP. “Muitas empresas aportam o valor só no fim do ano, como as usinas, por exemplo. Tem gente que aporta R$5 mil, tem gente que aporta R$50 mil, varia. Com essa verba é possível manter a orquestra”, conta.

Francisco explica que há músicos com registro em carteira e contratados. “Atualmente, 19 músicos estão no regime de CLT, são contratados nossos, regulares. Temos a orquestra jovem, com 16 músicos, que ajudam a compor a orquestra sinfônica. Fora isso, trazemos cachê de fora, porque a gente se apresenta de 43 a 52 músicos”, diz o gestor.

“Todos os músicos são remunerados. Da orquestra jovem é prestação de serviço, eles trabalham e emitem uma nota. É como uma bolsa de estudo para eles aprenderem as atividades. Os músicos que vêm de fora, que são os cachês, também emitem uma nota e a gente paga o serviço pontual”, complementa Francisco.

Os recursos financeiros em dia proporcionam três apresentações mensais da OSRP, além de outras agendas. “Em um mês normal, fazemos 3 apresentações. Temos as séries distintas, como ‘Série Internacional’, sábado à noite, e, no domingo, temos o ‘Juventude tem Concerto’. Fora isso, temos o ‘Ensaio Aberto de Orquestra’, que ainda não voltou por causa da pandemia, quando os alunos das redes pública e particular assistem aos ensaios. Na ocasião, maestro e músicos conversam com eles, contextualizam o repertório e contam demais curiosidades”, diz.

“Fora isso, a gente faz várias apresentações, que somos contratados, e temos uma série chamada ‘Música Solidária’, que são grupos menores, que vão até as escolas, hospitais, creches ou casas de repouso e fazem apresentações para aquelas pessoas que não podem sair do local onde estão”, finaliza Francisco. (SB)

Camerata é referência

Camerata Jovem já foi contemplada por editais e pelo ProAC, em 2021 (Divulgação/ Igor Pablo)
Camerata Jovem já foi contemplada por editais e pelo ProAC, em 2021 (Divulgação/ Igor Pablo)

Completando 11 anos de história em 2022, a Camerata Jovem Beethoven – projeto sociocultural e socioeducativo da Associação Artística e Cultural do Interior Paulista (AACIP) – transforma a vida de dezenas de crianças e adolescentes da região por meio da arte. É por meio do apoio de outras instituições, prefeituras, leis de incentivo fiscal, empresas e pessoas físicas que a Camerata Jovem consegue oferecer uma série de atividades em unidades de ensino de Rio Preto e Uchôa.

Segundo Ítalo de Carvalho, coordenador-geral da AACIP, a Camerata oferece atividades de arte (desenho e pintura); bateria e percussão; canto coral e musicalização, com aulas de violão, violino e violoncelo. São atendidos 1.100 jovens em Rio Preto e 540 em Uchôa. “Nosso objetivo é promover a prática e ensino coletivo da música, para crianças, adolescentes e jovens, tendo em vista a transformação social e excelência artística”, afirma.

De acordo com Carvalho, com as atividades desenvolvidas no contraturno escolar, a AACIP, tem a oportunidade de formar grupos musicais, como a Orquestra de Estudo e Orquestra Jovem. “Todas as atividades relacionadas às orquestras, num total de 25 jovens, são mantidas por meio de recursos próprios. A maior fonte vem de apresentações solicitadas por empresas, prefeituras, o que caiu significativamente no período da pandemia, mas que está voltando aos poucos, como por exemplo, as apresentações do Senac”, diz. (SB)

Concurso e incentivo

Formado pianista pela USP e com mestrado em regência orquestral pela Escola Superior de Música de Berlim, na Alemanha, o maestro Paulo de Tarso é um dos principais incentivadores da música clássica em Rio Preto. Fundador de um instituto musical e de uma orquestra filarmônica, ele defende a realização de um concurso público para a profissionalização da Orquestra Sinfônica.

“Se as autoridades quiserem, elas abrem concurso, como abrem para educação, para saúde, para todos os outros setores”, diz.

Segundo o maestro há uma diferença entre orquestras sinfônicas e filarmônicas “Quem paga as contas da sinfônica é o poder público, da filarmônica você pode ter terceiros, associados e patrocínios”, explica.

Para o maestro Paulo de Tarso, antes de eventos, é necessário criar uma infraestrutura para a orquestra. “Essa é a nossa limitação aqui. Não existe esse negócio de união de músicos. O que existe é se o governante tem vontade política para criar um concurso e deixar um elenco estável para o município”. (SB)