Compositores de Rio Preto avaliam o mercado da indústria fonográfica
No Dia Mundial do Compositor, o Diário faz uma homenagem a esses artistas da região

Quem nunca ouviu uma canção e se identificou com a letra? Deixou-se levar pela melodia? Saiba que o grande responsável por isso é o compositor – profissional que cria a canção, desde a letra até a harmonia e arranjos. E hoje, no Dia Mundial do Compositor, o Diário faz uma homenagem a esses artistas da região. A data surgiu no México, devido às comemorações da fundação da Sociedade de Autores e Compositores do México (SACM), em 1945. No entanto, em 1983 foi reconhecida mundialmente.
Para o músico Zeca Barreto, o papel do compositor é de racionalizar o abstrato, transformar “as ondas” de uma melodia em algo que agrade as pessoas. “É aquele que, através de uma crônica ou de uma poesia, faz sua mensagem ser transportada em forma de rimas e conjunções de palavras”, completa.
O desafio do mercado


No mundo capitalista em que estamos inseridos, a comercialização das canções tornou-se comum entre os músicos, e o ‘escrever com emoção’, na verdade, deve atender ao que mercado está pedindo. No entanto, nem todos os compositores gostam de depender da indústria fonográfica. Para a grande maioria, o sucesso de uma composição musical está atrelado ao significado pessoal.
“Para mim, sucesso é quando eu consigo colocar na poesia, na canção, algo que realmente estava perturbando minha cabeça e não conseguia me expressar. É claro que quando o público se identifica com a música isso acaba sendo extremamente gratificante, mas existem muitas variáveis no meio do caminho”, comenta Gabi Livon.
Zeca Barreto afirma que é preciso considerar que a palavra “sucesso” pode significar coisas diferentes. Se para alguns, compor músicas é seguir as tendências do mercado, para outros, é apostar na originalidade e permear os meios alternativos da música. E se pensarmos numa forma mais realista, Barreto é enfático: “O que faz a música realmente emplacar são os jabás caríssimos pagos a grandes rádios, por exemplo”, diz
“As grandes gravadoras não estão mais preocupadas com a qualidade do trabalho de um artista e, sim, em quantos seguidores e visualizações você tem. As gravadoras não investem mais em CDs ou em artistas, elas querem algo já pronto para então trabalhar na vendagem de shows, já que os streamings entraram no mercado digital”, completa Regina.
Nem sempre o exímio trabalho de um compositor consegue agradar os barões do mercado fonográfico, e comercializar a canção acaba se tornando um desafio maior ainda. Ela completa que essa situação é ainda mais injusta com as mulheres. “Não temos tantas compositoras no mercado, por isso, estar nesse meio me deixa honrada”, diz.
Apesar dos contratempos que podem surgir na indústria fonográfica, para Fernando Poiana o importante é o próprio compositor entender o que o seu público quer. “Eu sempre gosto de me perguntar, como compositor, se estou mesmo escrevendo ‘para alguém’ ou, simplesmente, colocando mais uma música no mundo que vai ser ignorada. Esse tipo de questionamento é muito útil porque derruba muitas ilusões”, comenta o músico.
Artistas querem reconhecimento

Os profissionais da região destacam que, de modo geral, os compositores não têm reconhecimento. Quando a canção faz sucesso, ela é apenas conhecida pelo cantor, mas quem a escreve realmente e tem os direitos autorais garantidos, acaba ficando em segundo plano.
“Muitas vezes, somos lembrados por meio de pesquisas ou mesmo quando o artista, diante de uma multidão, cita o nosso nome”, comenta Bene Ferreira.
“Ainda não existe, a meu ver, o fator cultural de se buscar saber quem é o compositor das canções”, pontua André Fernandes.
Muitos cantores de sucesso, hoje em dia, no início de suas carreiras também foram compositores. Exemplo disso foi a cantora sertaneja Marília Mendonça, que faleceu em novembro do ano passado. Ao longo da sua trajetória profissional, a jovem já tinha composto 351 canções, inclusive, sucessos cantados por duplas sertanejas famosas, como Henrique e Juliano e Jorge & Mateus. Porém, só após a sua morte, os fãs descobriram que a responsável pela maioria das letras e melodias era ela.

Na cidade, compositores de vários estilos musicais também são cantores ou tocam algum instrumento. Como é o caso de Daniel Verlotta, que divide seu trabalho como percussionista e cantor. Para ele, as músicas que escreve são emoções que se traduzem em sentimentos. “Mesmo sendo uma estória fictícia, é importante que o compositor acredite e sinta como se fosse real”, pontua.
A cantora Gabi Livon também compõe músicas e quando as escreve busca sempre colocar suas experiências pessoais. “O compositor faz uma tradução do que ele experimenta da vida, na linguagem dos sentimentos”, comenta. Com esse mesmo pensamento, o músico André Fernandes constrói a melodia de suas canções. “Sempre busco traduzir com sons o que sinto e penso em relação à vida. Desde os 14 anos, componho essencialmente música brasileira”, diz.
Alguns profissionais devem levar sempre consigo papel e caneta, pois a inspiração pode chegar a qualquer momento, como é o caso da compositora Regina Benedetti. “Costumo compor quando me dá na telha, ou quando estou mergulhada em algum processo de criação, como de um CD autoral. Já cheguei a sonhar e acordar no meio da noite para compor. Geralmente, a letra e a melodia vêm juntas”, explica.

Apesar de a grande maioria tratar de forma mais romântica a criação, o compositor e músico Fernando Poiana afirma que a essência da canção está mais na técnica do que no sentimentalismo. “Compor é, sobretudo, uma questão de pesquisa e de estudo. Eu detesto esse negócio de ‘passar uma mensagem’, porque isso me parece bem mais coisa de seita. Prefiro criar cenas, lugares, situações e deixar para o interlocutor, ou ouvinte, decifrar aquelas ideias às quais dei forma. Compor é constantemente conviver com os seus limites como artista.”
Já o compositor Bene Ferreira pondera ao dizer que compor é apenas técnica ou sentimento. Para ele, o importante é existir um equilíbrio entre a intuição e a ciência. “Fala-se em inspiração e muito estudo teórico, porém, acredito que a arte de escrever e compor aparece na frente de todos esses questionamentos, porém há um conflito entre a razão e a intuição”, afirma.