Mostra ‘Uma Certa Estrada Boiadeira’ revive a saga dos boiadeiros no sertão da região
Exposição de Jair Lemos, em Mirassol, transforma em arte o caminho do gado rumo a Barretos e celebra a memória de uma rota que moldou o interior paulista

Entre o pó vermelho e o trote lento dos bois, uma estrada quase esquecida volta a respirar pelas mãos do artista plástico Jair Lemos. A exposição “Uma Certa Estrada Boiadeira” será aberta nesta quinta-feira, 31, no Auditório Cândido Brasil Estrela, em Mirassol, e segue até 10 de novembro. A mostra reúne dez pinturas em estilo Naïf, inspiradas na antiga rota que ligava o Noroeste paulista ao Mato Grosso, entre os séculos XIX e XX, e por onde passavam as comitivas que conduziam o gado rumo aos frigoríficos de Barretos.
Durante a abertura, o público será recebido ao som das violas de Devanir e Juliano, dupla mirassolense que promete ambientar o espaço no compasso das modas sertanejas que outrora embalaram as marchas dos boiadeiros.
“Nessas obras eu impus um estilo simples e direto, marcado principalmente pelas cenas poéticas que imaginei após pesquisas sobre a estrada que sobreviveu por décadas até ceder lugar aos novos meios de transportes e desaparecer quase que completamente”, explica Lemos.
Produzido em 2024 e contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), o trabalho tem apoio do Ministério da Cultura, do Governo Federal e da Prefeitura de Mirassol, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo. O artista conta que a proposta é mais do que uma homenagem: trata-se de um mergulho afetivo na história da região. “Quem ouvir falar ou conheceu a mesma, esta é uma oportunidade para fazer uma imersão pela sua história”, acrescenta.
As telas retratam a vida das comitivas, o ritmo das marchas, os fogões de chão e as invernadas que alimentavam o gado antes da última travessia. São imagens que misturam pesquisa documental e liberdade poética — uma arqueologia pictórica da memória sertaneja.
Um caminho que fez o interior crescer
Idealizada no fim do século XIX, a estrada consolidou-se nas primeiras décadas do século XX, cortando dezenas de cidades da região de São José do Rio Preto, entre elas Mirassol. Por seus caminhos poeirentos passaram milhares de cabeças de gado destinadas a Barretos, que abrigava o único frigorífico do País.
A cada parada, as comitivas encontravam vilarejos que, com o tempo, transformaram-se em povoados e cidades. O caminho do gado foi também o caminho da civilização.
Ao resgatar essa memória, Jair Lemos acende uma luz sobre as histórias locais e regionais, criando uma ponte entre o presente e o passado. Seu trabalho é, em essência, uma lembrança de que as estradas não ligam apenas cidades — elas conectam tempos, afetos e destinos.